Política

A cada quatro dias um político é alvo de violência no Rio desde o início da campanha nas ruas

Contagem feita pelo EXTRA inclui episódios de agressão, empurra-empurra, xingamentos, ameaça, tiros e até homicídios

Agência O Globo - 03/10/2024
A cada quatro dias um político é alvo de violência no Rio desde o início da campanha nas ruas

Desde o início da campanha de rua, em 16 de agosto, pelo menos 11 candidatos foram alvo de algum tipo de violência no estado do Rio — na média, é como se um episódio do gênero acontecesse a cada quatro dias. A contagem feita pelo EXTRA inclui situações de agressão, empurra-empurra, xingamentos, ameaça, tiros e até homicídios. A maioria dos casos, contudo, segue em apuração pela Polícia Civil, e não é possível, até o momento, estabelecer necessariamente uma relação direta com a atuação política das vítimas.

O ocorrido mais recente se deu na noite da última segunda-feira, quando o carro blindado do candidato a vereador Ítalo Koster (PRD) foi alvo de disparos em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio. Segundo o político, homens armados fecharam seu veículo a abriram fogo, atingindo o vidro dianteiro pelo menos três vezes.

Koster relatou ter recebido ameaças recentes. Ele narra, por exemplo, que, no dia 17 de setembro, uma pessoa o enviou uma mensagem via SMS afirmando que ele teria 48 horas para desistir da campanha e que, caso não o fizesse, sua família seria caçada.

Já na madrugada de terça-feira, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, o candidato a prefeito Vinicius Crânio (PSOL) foi agredido por homens encapuzados. A cena foi transmitida numa live no Instagram do político e publicada em suas redes sociais.

Nas imagens, é possível ver o momento em que o grupo sai de um carro e desfere tapas e socos em Vinicius até o derrubarem no chão e começarem a chutá-lo. Segundo as postagens, os agressores também teriam vandalizado o muro de sua casa por volta das 3h manhã e estariam circulando em carros pelo bairro retirando materiais de campanha.

Mortes e tiros

Há pouco mais de uma semana, o candidato a vereador João Fernandes Teixeira Filho, conhecido como Joãozinho Fernandes (Avante), de 48 anos, foi morto a tiros no bairro Cacuia, em Nova Iguaçu, também na Baixada. Ele disputava uma cadeira na Câmara local pela primeira vez. A Delegacia de Homicídios, responsável pela investigação, não descarta nenhuma hipótese.

Em Tanguá, o candidato a vereador Welinton de Aguiar Mendonça, o Welinton do Uber (PSB), foi encontrado morto a tiros dentro de um carro no início de setembro. A Polícia Civil investiga o crime e, até o momento, afasta motivações políticas.

No mês passado, Gerson Cunha de Almeida Reis Filho (União), candidato à Câmara de Nova Iguaçu, relatou que seu carro blindado foi alvejado a balas. No mesmo dia, a empresa de Reginaldo Adelino Fortes, o Irmão Dino (PP), que concorre em Duque de Caxias, também foi atingida por tiros. A Polícia Civil diz que as investigações sobre os dois casos “estão em andamento, e as motivações estão sendo apuradas”.

Concorrente ao Legislativo local pelo Podemos em Itaboraí, o policial militar Davi da Silva Palhares, de 38 anos, levou um tiro no tórax na cidade vizinha de São Gonçalo, no bairro Colubandê. Já em Nova Iguaçu, Marcelo Lajes (União) foi preso em flagrante sob suspeita de ter atirado em uma carreata do também candidato Baixinho da Van (PL).

Pontapé e empurra-empurra

Outro episódio de violência que marcou o pleito se deu entre o candidato a vereador na capital Leonel de Esquerda (PT), que foi agredido, no início do mês passado, e precisou ser hospitalizado após uma confusão envolvendo o candidato a prefeito Rodrigo Amorim (União). Ele sofreu traumatismo craniano leve, chegou a ficar no CTI e só teve alta dois dias depois.

Leonel conta que panfletava no mesmo local em que acontecia um evento de campanha de Rogério Amorim (PL), irmão de Rodrigo e também candidato a vereador, quando levou um chute no rosto. O PT pediu a cassação da candidatura de Rodrigo Amorim, que nega as acusações e alega que agiu em defesa própria depois de receber provocações e ofensas.

As candidatas à Câmara dos Vereadores do Rio Alana Passos (PL) e Clarice Chacon (PSOL) se envolveram em outro episódio no Centro da capital. Na ocasião, houve bate-boca entre cabos eleitorais, e as candidatas ficaram frente a frente, trocando empurrões. Agentes do programa Segurança Presente chegaram a ser acionados para apaziguar o clima.

Em Niterói, uma apoiadora da candidata a vereadora Mayara Gomes (PT), que integra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), teve os panfletos tomados e rasgados por um grupo de jovens, alunos de um colégio particular em Icaraí, bairro nobre da cidade. Os adolescentes também usaram termos como “piranha” e “PT de merda”, tal qual consta no registro de ocorrência lavrado na 77ª DP (Icaraí).

Para o pesquisador Pedro Bahia, que atua no Observatório da Violência Política e Eleitoral da UniRio, apesar de não ser possível cravar o envolvimento do crime organizado nos episódios computados, o cenário pode, sim, ser potencializado pela institucionalização dos grupos armados:

— O observatório começou em 2019 e, de lá para cá, a violência contra políticos, em anos eleitorais, aumentou, e cresce ainda mais perto da votação. O Rio já é um estado com um histórico de violência, e o crime também entrou no jogo político, seja financiando candidatos, ou então usando a violência como ferramenta contra quem ameace o seu poderio.

Reforço de militares

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) definiu a atuação das três Forças Armadas durante o primeiro turno no Rio. O estado faz parte uma lista de 12 localidades autorizadas a receber reforço de militares. Eles atuarão em 32 cidades, com foco em cerca de 500 locais de votação e em vias expressas.

O Exército deflagrou a “Operação Guanabara”, a Marinha iniciou a “Operação Tamandaré” e a Aeronáutica deu início à “Operação Santos Dumont”. Foi alinhada ainda uma parceria entre a Secretaria estadual de Polícia Civil e a Polícia Federal, para o órgão estadual receber ocorrências de crimes eleitorais fora da capital, em função da capilaridade de sua rede.

O TRE-RJ também alterou 53 locais de votação no estado, o que impactará 171,3 mil eleitores. A troca foi motivada por um estudo da Coordenadoria de Inteligência e Segurança Institucional da Corte, que apontou que, nessas localidades, as urnas precisavam de veículos blindados e de amplo efetivo policial apenas para chegar aos locais de votação.

(*estagiário sob supervisão de Luã Marinatto)