Alagoas

Pesquisadores da Ufal avaliam perda de mais de 90% dos corais em Alagoas

Elevação da temperatura da água foi acima da média em 2024 e provocou devastação no ecossistema marinho

Manuella Soares 26/09/2024
Pesquisadores da Ufal avaliam perda de mais de 90% dos corais em Alagoas

No próximo mês de outubro a equipe do Laboratório de Ecologia e Conservação no Antropoceno (Ecoa) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) vai retornar ao mar do litoral alagoano para uma nova missão de avaliação sobre a mortalidade dos corais. É que uma análise preliminar, realizada no último mês de agosto indica que a perda das comunidades estudadas deve ultrapassar os 90%.

“Os resultados das nossas análises preliminares foram devastadores. Apesar da beleza dos recifes alagoanos quando vistos de cima, o que encontramos embaixo d’água foi um grande cemitério de corais”, anunciaram os pesquisadores Robson Santos e Ricardo Miranda.

A saúde dos recifes de corais em Maragogi, Paripueira e Maceió estão sendo monitorados desde setembro de 2023, porque um tempo antes já havia sido registrado o evento do branqueamento, quando a temperatura da água influenciou na sobrevivência de várias colônias.

“Essa mortalidade é fruto de uma interação de fatores, El Niño e impactos humanos - mudanças climáticas. Tivemos um evento de El Niño, que naturalmente eleva a temperatura da água, mas que teve a sua intensidade aumentada devido às mudanças climáticas. Essa temperatura mais alta perdurou por um longo período fazendo com que a maioria dos corais não resistissem. Outro fator importante é a constante degradação dos ecossistemas costeiros, seja por poluição ou por uso insustentável que ao longo de anos vai reduzindo a saúde dos recifes e a chance de recuperação dos corais após eventos como estes”, contextualizou o professor Robson.

Durante os meses de outubro e novembro os pesquisadores vão poder avaliar a gravidade do problema. O professor Ricardo explica que o nome do fenômeno “branqueamento” é dado porque “as altas temperaturas da água fazem com que o animal expulse da sua pele as pequenas algas coloridas, chamadas zooxantelas, que vivem ali associadas, e seu tecido agora transparente, mostra a cor branca do seu esqueleto”.

O que foi visto durante a missão de agosto impactou os pesquisadores porque este ano a temperatura da água bateu recordes, elevando cerca de 3°C acima da média normal para o período, e atingiu 34°C. Isso resultou num evento de branqueamento dos corais de grandes proporções e intensidade no nosso litoral alagoano no mês de abril.

O projeto da Ufal para monitorar a saúde dessas colônias conta com o financiamento da Fapeal e bolsas de estudo do CNPq, além de integrar uma rede nacional de monitoramento. Os pesquisadores integram várias metodologias com instalação de sensores para avaliar a temperatura nos recifes; sondas para mapeamento digital detalhado da estrutura; além de mergulhos para registrar com imagens a cobertura de corais e os peixes recifais. As avaliações são feitas em três momentos: antes, durante e depois do aquecimento das águas para ter uma ideia mais clara do estado real das perdas após esse evento extremo.

“Os corais são o coração dos oceanos, fornecendo abrigo e alimento para inúmeras espécies marinhas. Com sua morte, a biodiversidade marinha é afetada, impactando diretamente a pesca, o turismo e até mesmo a proteção da linha de costa contra tempestades e erosões. Quando os corais morrem, os ecossistemas marinhos enfraquecem — e nós, humanos, também sentimos o impacto”, lamentam os pesquisadores.

De acordo com os professores Ricardo e Robson, a recuperação é lenta e as ações de enfrentamento devem ser globais e locais. A Ufal está articulando parcerias com diversos setores como a academia, o Estado e ONGs, para pensar alternativas de reestruturar os corais e gerar renda com o turismo sustentável. Mas eles ressaltam também a importância das pequenas atitudes individuais que fazem a diferença:

“Reduza seu impacto ambiental, apoie projetos de conservação e espalhe essa mensagem. Juntos podemos ajudar a salvar nossos oceanos!”.

Acompanhe o trabalho do laboratório Ecoa no Instagram @ecoa.lab.