Internacional
Blinken e chanceler britânico visitam Kiev para discutir o uso de armas ocidentais contra a Rússia
Viagem ocorre um dia após os Estados Unidos e aliados europeus anunciarem sanções contra o Irã pelo envio de novos armamentos a Moscou

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, e o ministro das Relações Exteriores britânico, David Lammy, chegaram a Kiev, a capital da Ucrânia, na manhã desta quarta-feira para discutir com autoridades do país a questão do uso de armas ocidentais de longo alcance contra a Rússia — tópico que há muito é reivindicado pelos ucranianos. A visita ocorre enquanto a administração do presidente dos EUA, Joe Biden, tenta conter o apoio do Irã, Coreia do Norte e China ao governo russo.
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Blinken, que está realizando sua quinta visita à Ucrânia desde o início da guerra, em fevereiro de 2022, desembarcou de um trem particular vindo da Polônia. Ele e Lammy participarão de reuniões agendadas ao longo do dia com autoridades ucranianas, incluindo o novo chefe da diplomacia do país, Andrii Sybiha, que foi nomeado na última quinta-feira pelo presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, como parte de uma reformulação nas principais posições do governo.
Zelensky tem aumentado a pressão para que o Ocidente forneça mais armamentos à Ucrânia, com menos restrições, de modo que Kiev possa atacar o território russo em profundidade com mísseis de longo alcance. Questionado a esse respeito, Biden reconheceu que está “analisando” a questão. Segundo a imprensa britânica, o mandatário americano, que se reunirá na sexta-feira com o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, pode suspender o veto americano ao uso, por parte da Ucrânia, de mísseis de longo alcance Storm Shadow contra a Rússia.
Em maio, a administração Biden deu permissão à Ucrânia para usar armas dos EUA em ataques transfronteiriços mais curtos contra locais russos usados em uma ofensiva contra a cidade ucraniana de Kharkiv. Desde então, autoridades americanas permitiram que o Exército ucraniano realizasse esse tipo de ataque mais curto em outros locais ao longo da fronteira. À Sky News, Blinken disse na terça-feira que a Casa Branca leva em conta fatores complexos ao tomar essas decisões, mas que a possibilidade de dar mais liberdade à Ucrânia está aberta.
— Adaptamos e ajustamos cada passo ao longo do caminho, e continuaremos [fazendo isso], então não descartamos isso neste momento — disse ele, acrescentando que Washington está comprometido a fornecer à Ucrânia “o que ela precisar e quando precisar” para enfrentar de maneira mais eficaz a Rússia.
O Kremlin alertou nesta quarta-feira que dará uma resposta “apropriada” caso a Ucrânia receba sinal verde de seus parceiros ocidentais para usar esse tipo de armas contra o território russo.
Mísseis iranianos e sanções
Na semana passada, autoridades dos Estados Unidos e da Europa afirmaram ao Wall Street Journal que, após meses de alertas sobre sanções, o Irã enviou “vários mísseis balísticos” de curto alcance para a Rússia. Segundo especialistas, se confirmado, é esperado que os novos armamentos ajudem Moscou a intensificar seus esforços para destruir a infraestrutura civil da Ucrânia — um esforço que, de acordo com Zelensky, atualmente envolve cerca de 4 mil bombas por mês.
Na terça-feira, Blinken anunciou novas sanções dos EUA contra Teerã — medida também adotada pelos governos francês, alemão e britânico — após garantir que os aliados ocidentais tinham “informações confiáveis” sobre a entrega de mísseis da República Islâmica à Rússia para serem usados “nas próximas semanas” na Ucrânia. As novas sanções envolvem dez pessoas e seis empresas russas e iranianas, disse o Departamento de Estado americano, acrescentando que a companhia aérea Iran Air também será sancionada por “operar ou ter operado no setor de transportes da economia da Federação Russa”.
Londres anunciou novas sanções nesta quarta-feira contra a frota de navios que permite à Rússia contornar as restrições ocidentais e continuar exportando seu petróleo. O ministério das Relações Exteriores britânico informou que as sanções afetam dez navios, que não poderão entrar em portos britânicos. Três deles transportaram petróleo russo no valor de mais de US$ 5 bilhões (R$ 28 bilhões, na cotação atual) desde o início da invasão da Ucrânia, segundo o ministério.
— Tínhamos alertado o Irã em privado que tomar essa medida constituiria uma escalada dramática — disse Blinken em entrevista coletiva na terça ao lado de Lammy, o ministro britânico. — O novo presidente do Irã afirmou repetidamente que quer restabelecer o diálogo com a Europa. Quer que as sanções sejam reduzidas. Ações desestabilizadoras como essas terão o efeito oposto.
Em declaração divulgada na sexta-feira pela missão permanente do Irã nas Nações Unidas, Teerã já havia negado o envolvimento. Em comunicado, a representação iraniana afirmou que o país “considera o fornecimento de assistência militar às partes envolvidas no conflito — que leva ao aumento de baixas humanas, destruição de infraestrutura e distanciamento das negociações de cessar-fogo — como desumano”. A nota acrescentou que o governo iraniano “não apenas se abstém de se envolver em tais ações, mas também exorta outros países a cessarem o fornecimento de armas” para ambos os lados da guerra.
Até agora, o Irã tem fornecido principalmente drones às forças russas, enquanto a Coreia do Norte tem enviado projéteis de artilharia. A administração Biden afirma que empresas chinesas estão vendendo ferramentas de máquinas e microeletrônicos para a Rússia, ajudando o país a reconstruir sua indústria de produção de armas em meio ao conflito em andamento.
O Grupo dos 7 (que reúne Japão, Estados Unidos, Itália, França, Alemanha, Canadá e Reino Unido) advertiu em março que aplicaria sanções coordenadas ao Irã caso a transferência de mísseis fosse realizada. O aviso foi repetido numa cúpula da Otan, a aliança militar do Ocidente, em julho. No sábado, Sean Savett, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, recusou-se a confirmar o envio de mísseis, mas sugeriu uma crescente cooperação entre Teerã e Moscou.
— Estamos alertando sobre a crescente parceria de segurança entre a Rússia e o Irã desde o início da invasão em grande escala da Ucrânia, e estamos alarmados com esses relatos — disse. — Qualquer transferência de mísseis balísticos iranianos para a Rússia representaria uma escalada dramática no apoio do Irã à guerra da Rússia contra a Ucrânia e levaria à morte de mais civis ucranianos. Essa parceria ameaça a segurança europeia e ilustra como a influência desestabilizadora do Irã vai além do Oriente Médio e alcança o mundo todo.
Apesar das ameaças e das relações tensas entre Washington e Teerã, o presidente dos EUA, Joe Biden, tem vários motivos para agir com cautela. Um deles é que o governo democrata vem realizando uma diplomacia elaborada com o Irã há meses, buscando evitar que a guerra na Faixa de Gaza se transforme num conflito regional. Por meio de intermediários, funcionários da Casa Branca têm exortado Teerã a não lançar ataques militares contra Israel ou ordenar uma ofensiva em larga escala por meio de seu aliado no Líbano, o grupo xiita Hezbollah.
Há também uma preocupação entre os funcionários ocidentais de não pressionar demais o novo presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, que é visto como um moderado dentro do establishment governante do país. Eleito em julho, Pezeshkian afirmou que espera melhorar a economia doméstica garantindo alívio das sanções da Europa e dos Estados Unidos. Funcionários ocidentais também esperam que ele ajude nos esforços para restringir o programa de enriquecimento nuclear do Irã. (Com AFP e New York Times)
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