Política

Como estratégia de campanha, candidatos a prefeito do Rio miram em 2 milhões de votos da Zona Oeste

Região que viveu um boom imobiliário nos últimos anos e tem forte atuação de milícia conta com seis dos bairros mais populosos da cidade

Agência O Globo - 08/09/2024
Como estratégia de campanha, candidatos a prefeito do Rio miram em 2 milhões de votos da Zona Oeste
Prefeitura do Rio - Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Região que mais cresceu no Rio na última década, a Zona Oeste é um dos territórios mais disputados nessas eleições. Buscando se consolidar e ampliar suas fatias entre os quase dois milhões de eleitores da região — o equivalente a 38% da cidade —, os candidatos à prefeitura intensificaram suas agendas na área. Com 42 bairros, a Zona Oeste é um território diverso, marcado pela disputa de território pelo crime organizado e que viveu um boom imobiliário. O eleitorado é heterogêneo, o que obriga as campanhas a traçarem estratégias distintas para tentar atrair o voto de seus moradores.

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Uma das táticas de Eduardo Paes (PSD) é reforçar sua presença na região. Semanalmente, desde julho, ele tem despachado do palácio no Parque Oeste, em Inhoaíba, que terá a primeira etapa das obras inaugurada na próxima semana.

Apesar de liderar com folga nas pesquisas de intenção de voto, Paes já recebeu sinais de alerta da região. Foi na Zona Oeste que o prefeito teve o pior desempenho nas eleições de 2020. Naquele primeiro turno ele perdeu para o ex-prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) em cinco Zonas Eleitorais no Rio, sendo quatro em bairros da região.

Em Campo Grande, bairro mais populoso do Rio, Paes tenta capitanear os louros da principal obra em parceria com o governo federal: o Anel Viário.

Corpo a corpo

O candidato à reeleição não tem feito campanha nas ruas durante a semana devido à sua agenda de prefeito. De segunda a sexta, ele tem ido somente a lançamentos de candidaturas a vereador, geralmente à noite. Mas, nos fins de semana, a agenda conta com pelo menos um corpo a corpo com eleitores da Zona Oeste.

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Na semana passada, Paes escolheu ir a Jacarepaguá, bairro que foi subprefeito no começo da sua carreira política na década de 1990. Lá, destacou como alguns feitos pela sua administração impactaram o bairro, como o BRT. Mais tarde, em um evento de campanha na Barra da Tijuca, organizado pelo presidente da Câmara do Rio Carlo Caiado (PSD), ele modulou seu discurso ao público presente.

— A maioria das pessoas que mora aqui já tem plano de saúde, paga escola particular. Então, o que se espera da prefeitura é o asfalto estar liso, a Avenida das Américas estar capinada. E saber se o trabalhador consegue chegar rápido em casa, em vez de perder três horas no transporte público, como estava acontecendo — disse ele.

A campanha de Alexandre Ramagem (PL), segundo nas intenções de voto, adota uma agenda com foco na Zona Oeste, buscando sobretudo converter o voto dos bolsonaristas. Foi na região que o ex-presidente melhor desempenhou no segundo turno das eleições de 2022 na cidade do Rio.

Paes, no entanto, que lidera entre os apoiadores de Bolsonaro. O prefeito tem 45% das intenções de voto nesse público, contra 29% de Alexandre Ramagem (PL), segundo a última pesquisa Datafolha.

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Articuladores da campanha do deputado federal acreditam que a região pode ser decisiva para garantir um segundo turno. Uma estratégia é usar como discurso de que a Zona Oeste foi abandonada. Outra é fazer Ramagem circular pelos bairros para se tornar um rosto mais conhecido e atrair os eleitores do seu padrinho político.

— A Zona Oeste acomoda dois terços da população da cidade. Há anos é uma região esquecida pelo poder público — disse Ramagem durante agenda em Cosmos.

Na semana passada, Ramagem esteve em Campo Grande, onde Bolsonaro alcançou 141 mil votos. O local se consolidou como o bairro com o maior número de eleitores do ex-presidente nas eleições de 2022. Ainda na pré-campanha, Campo Grande foi escolhido para sediar um evento com Bolsonaro e Ramagem.

Rota recalculada

Empatado tecnicamente com Ramagem, Tarcísio Mota (PSOL) quer superar o estigma de que candidatos da esquerda não conseguem atrair o eleitorado da Zona Oeste. Ele admite que existe uma ausência da militância de seu espectro político nesses bairros, mas reforça que a presença da milícia na região deixam apoiadores com medo de realizar mais agendas públicas. Por isso, uma das estratégias é entregar o material diretamente na casa de apoiadores, evitando a exposição dos cabos eleitorais.

Para se aproximar do eleitorado, o PSOL abriu comitês de campanha em bairros como Bangu e Campo Grande.

— A gente entende que de fato a Zona Oeste é uma fronteira que o voto de esquerda precisa chegar. Temos que ser capazes de falar ao morador que vai resolver os seus problemas concretos do dia a dia, sem perder o discurso político mais geral.

As táticas para para conquistar o eleitor

Paes lista suas obras

O prefeito aumentou sua presença na região. Ao menos uma vez por semana despacha de Inhoaíba e ainda tem como articuladores candidatos a vereador com bandeiras da “zeladoria”.

Ramagem cola em Bolsonaro

A principal estratégia da campanha se repete aqui. O deputado quer ser mais conhecido e se colar ao padrinho Jair Bolsonaro. A região é onde o ex-presidente melhor desempenhou em 2022.

Tarcísio contra barreiras

O psolista tenta alcançar os eleitores da região abrindo comitês de campanha nos maiores bairros, Bangu e Campo Grande, e amplia diálogo direto via grupo em aplicativos de mensagem.