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Milhares de pessoas vão às ruas em protestos contra a indicação do novo premier da França

Liderados pela esquerda, vencedora das eleições legislativas de julho, manifestantes dizem que escolha de Michel Barnier por Macron foi um 'golpe'

Agência O Globo - 07/09/2024
Milhares de pessoas vão às ruas em protestos contra a indicação do novo premier da França

Manifestantes tomaram as ruas de mais de 100 cidades francesas para criticar a decisão do presidente, Emmanuel Macron, de indicar Micher Barnier como seu novo primeiro-ministro. Lideranças do bloco de esquerda, que venceu as eleições legislativas de julho, exigiam que a tradição fosse cumprida e que tivessem o direito de ocupar o posto, mas a ideia foi vetada pelo Palácio do Eliseu, um movimento comparado a um golpe durante os protestos.

— Sem pausa, sem trégua. Eu chamo vocês para uma batalha de longo prazo — afirmou, durante o protesto em Paris, Jean-Luc Mélenchon, líder do partido França Insubmissa e principal nome por trás das manifestações deste sábado. — A democracia não é apenas a arte de aceitar que se ganhou, é também a humildade de aceitar que se perdeu.

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De acordo com os organizadores, 300 mil pessoas foram às ruas da França, sendo que 160 mil apenas na capital — as autoridades foram mais conservadoras, apontando que o número total ao redor do país foi de 110 mil, sendo que 26 mil em Paris. A AFP apontou que cinco pessoas foram detidas por porte de itens proibidos, fogos de artifício e por danos ao patrimônio público.

Na quinta-feira, após dois meses de impasse para a definição do novo primeiro-ministro, Macron anunciou o nome de Michel Barnier, integrante do partido Os Republicanos, de centro-direita, para liderar o Gabinete ministerial. De 73 anos, o político foi eleito deputado pela primeira vez em 1978, e ocupou pastas ministeriais — desde Assuntos Europeus até Relações Exteriores — nos governos de Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy. Também foi duas vezes comissário europeu e foi o negociador para a saída do Reino Unido da União Europeia, o processo que ficou conhecido como Brexit.

Em comunicado, o Palácio do Eliseu afirmou que Macron “assegurou que o primeiro-ministro, e o futuro Governo, reuniriam as condições necessárias para serem tão estáveis quanto possível e para terem a possibilidade de reunir o maior número possível de pessoas". Bernier já deu início ao processo de formação de seu Gabinete, e sinalizou que está aberto a trabalhar com representantes de todos os lados do espectro político, inclusive a esquerda.

Contudo, a indicação foi imediatamente recebida com críticas pelo bloco de esquerda, que tem em Mélenchon sua figura mais popular: desde a votação, ele reivindicava que, seguindo a tradição, a coalizão apontasse o novo premier, uma vez que foi a mais votada nas urnas — pelos resultados finais, a Nova Frente Popular conquistou 193 cadeiras na Assembleia Nacional, um resultado até certo ponto surpreendente dado o bom desempenho da extrema direita no primeiro turno, em junho.

Mas no mês passado, Macron foi enfático ao rejeitar o nome de Lucie Castets, indicado pelo bloco de esquerda, e lançar uma nova rodada de negociações, afirmando que estava evitando uma “instabilidade institucional” na França — segundo os argumentos do presidente, Castets não sobreviveria a um voto de não confiança no Parlamento.

— Nós temos agora um primeiro-ministro completamente dependente do Reagrupamento Nacional (RN) — disse Castets neste sábado, se referindo à principal sigla de extrema direita da França, e que sinalizou que não necessariamente votará contra o premier indicado por Macron, mas cobrou que suas demandas sejam levadas em consideração.

Nas ruas francesas neste sábado, o tom contra o presidente Macron, cuja taxa de rejeição chega a 70%, segundo números do final do mês passado, era de revolta, em meio a acusações de “golpe antidemocrático” e a pedidos para que deixe o cargo imediatamente.

— A Quinta República está em colapso — disse à AFP a manifestante Manon Bonijol. — Votar (para o Parlamento) será inútil enquanto Macron estiver no poder.

Um sentimento compartilhado por outros manifestantes em Paris.

— Macron recusa submeter-se aos resultados das urnas. Os jovens se manifestaram de forma muito clara contra o RN. Mas o presidente ignora os nossos desejos com as costas da mão. Esta mobilização de 7 de Setembro não deve ser a última — disse Éléonore Schmitt ao Le Figaro.

Em um carro de som, Mélenchon, que desde o anúncio de Bernier tem afiado seus ataques ao governo, prometeu que seu bloco fará um voto de censura ao novo governo na Assembleia Nacional, condenou o que chamou de “golpe antidemocrático”, e afirmou que a eleição “foi roubada dos franceses”. Pendurada no carro de som, uma faixa dizia: “Pela democracia, pare o golpe de Macron”.

— Emmanuel Macron poderia ter nomeado Lucie Castets como primeira-ministra. Ele não fez isso, porque a gente pretendia implementar o nosso programa! — disse Mélenchon. — Você [Macron] está acostumado a trapacear! Nós não! Aconteça o que acontecer, votaremos pela censura a tal governo.