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Documentário sugere que Leni Riefenstahl, cineasta do nazismo, contribuiu para massacre de judeus poloneses
Para o documentarista alemão Andreas Veiel, a diretora admirada por Hitler permaneceu fiel à ideologia do nazismo até o fim

Cineasta preferida do Terceiro Reich, Leni Riefenstahl afirmava só ter tomado conhecimento dos crimes do nazismo após o término da Segunda Guerra Mundial. No entanto, o documentário “Reifenstahl”, do alemão Andreas Veiel, que estreia ainda este mês no Festival Internacional de Cinema de Veneza, sugere que ela não só sabia como pode ter contribuído com a violência nazista, informou o jornal britânico The Guardian.
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O documentário insiste que Riefenstahl admirou a ideologia e os figurões do Partido Nazista até sua morte, em 2003, aos 101 anos, embora publicamente, ela sempre tenha negado quaisquer simpatias pelo regime.
Veiel foi o primeiro cineasta a ter acesso ilimitado ao espólio de Reifenstahl e obteve detalhes de um episódio testemunhado por ela: um dos primeiros massacres de judeus poloneses, ocorrido em 1939, enquanto ela trabalhava como repórter de guerra na cidade de Końskie. Uma carta escrita em 1952 por um soldado a Peter Jacob, ex-marido da cineasta, faz menção a um relatório do exército sobre o massacre. Jacob integrara as forças paramilitares do partido Adolf Hitler.
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A carta afirma que Riefenstahl estava filmando uma cena no mercado quando pediu que os “judeus” fossem “removidos” do local. O recado foi passado até os oficiais, que entenderam que se tratava de uma ordem para “se livrar” dos judeus. Alguns judeus, diz a carta, tentaram fugir, mas foram atingidos por tiros dos soldados. Para Veiel, se isso for verdade, Riefenstahl desempenhou “um papel direto no massacre de Końskie”, que ela sempre negou ter presenciado.
O documentário se baseia em cerca de 30 horas de conversas telefônicas gravadas após a Segunda Guerra Mundial. Em algumas delas, ex-membros do Partido Nazista expressam sua solidariedade da Riefenstahl e reclamam de tentativas de manchar a imagem dela devido à sua associação com o regime hitlerista. Um interlocutor não identificado chega a dizer que “a moralidade, a decência e a virtude” da era nazista ainda retornariam ao país. “Sim, o povo alemão está predestinado a isso”, responde a cineasta.
O filme lembra que Riefenstahl foi elogiada após aparecer em um talk show, em 1976, ao lado de um ex-membro da resistência antifascista, Elfriede Kretschmer. Ela foi aplaudida ao falar do choque que sentiu ao tomar conhecimento, somente após a guerra, das atrocidades cometidas pelos nazistas. Disse também que suas “feridas ainda não cicatrizaram”. À época, ela recebeu várias cartas de apoio, inclusive de notórios negacionistas do Holocausto. “Não deixe os porcos te derrubarem”, dizia uma delas. Riefenstahl guardou cuidadosamente essas cartas. Ela própria cineasta lamentou o fim do nazismo e de seus ideais em uma carta a um amigo.
O documentário também revela o desprezo de Riefenstahl por pessoas cujo físico não atendia aos ideais nazistas de força e beleza, defendidos por ela em filmes como “Triunfo da Vontade”. A cineasta não interveio quando Willy Zielke, que trabalhara com ela no filme “Olympia”, sobre os Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, foi esterilizado à força (como determinava a legislação nazista) após ser internado em um hospital psiquiátrico.
Ao Guardian, Veiel e a produtora do filme, Sandra Maischberger, afirmaram que esperam críticas em Veneza, uma vez que o talento de Riefenstahl ainda é reverenciado no mundo do cinema. Os dois também afirmaram que a cineasta editou pesadamente seu espólio. Apesar disso, os documentos revelam uma “arrivista” que permaneceu fiel à ideologia nazista até o fim.
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