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Izquierdo: '5 minutos é o tempo máximo que o cérebro aguenta sem oxigenação, depois a sequela pode ser irreversível', diz cardiologista

Presidente da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac), Alexsandro Fagundes explica o que é a alteração nos batimentos sofrida pelo jogador durante partida em São Paulo, que causou uma parada cardíaca

Agência O Globo - 27/08/2024
Izquierdo: '5 minutos é o tempo máximo que o cérebro aguenta sem oxigenação, depois a sequela pode ser irreversível', diz cardiologista

Na última quinta-feira, durante partida em São Paulo, o jogador do Nacional do Uruguai Juan Manuel Izquierdo, de 27 anos, passou mal em campo devido a uma arritmia cardíaca. Ao chegar no Hospital Albert Einstein, o atleta estava sofrendo uma parada cardiorrespiratória e precisou ser reanimado. No último boletim, o hospital disse que exames realizados no domingo revelaram “progressão do comprometimento cerebral e aumento da pressão intracraniana”. O jogador segue internado.

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Ao GLOBO, o cardiologista Alexsandro Fagundes, presidente da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac), explicou o que é o diagnóstico e quando ele pode levar a casos graves, como a parada cardíaca. O médico disse ainda que, após cerca de cinco minutos sem oxigenação, o risco de sequelas neurológicas irreversíveis é alto, por isso a importância do rápido atendimento.

— Arritmias são alterações do ritmo cardíaco que podem ser graves ou não. Precisamos entender se ela deixou a frequência irregular, se acelerou os batimentos, se desacelerou, cada caso tem uma conotação diferente. E o que depende também é a causa subjacente, o mecanismo que levou àquela alteração do ritmo — diz o especialista.

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O presidente da Sobrac explica que casos como o de Izquierdo, em que a arritmia evolui rapidamente para uma parada cardíaca, fazem parte dos considerados graves e potencialmente fatais, que demandam uma resposta rápida para salvar a vida do paciente:

— Geralmente a taquicardia ou fibrilação ventricular é o quadro mais comum que leva à parada cardíaca. Ela faz com que a frequência do coração fique inaceitável, acima de 200, 300 batimentos por minuto, o que leva a musculatura do órgão a parar de contrair. Com isso, o coração deixa de mandar sangue para o organismo, e o primeiro efeito é que a pessoa perde a consciência. Nesse caso o atendimento precisa ser urgente para não levar o paciente à morte.

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Ele diz que a única maneira de salvar esse paciente é reconhecer o quadro e iniciar imediatamente as manobras de ressuscitação cardiopulmonar, que realizam uma compressão no tórax da vítima para manter o fluxo sanguíneo até o socorro chegar com um desfibrilador – aparelho que produz um choque elétrico no coração para restabelecer o ritmo cardíaco.

— Se não houver o socorro imediato e o desfibrilador, a chance de sobrevivência chega a menos de 15%. Quatro, cinco minutos são o máximo de tempo que o tecido cerebral aguenta ficar sem a oxigenação. Depois disso, a sequela pode ser irreversível. E até colocar na ambulância, levar para o hospital, não leva menos de 20 minutos, por isso é importante ter uma estrutura pronta — diz.

Ele lembra o caso de Christian Eriksen, jogador dinamarquês que sofreu uma parada cardíaca em campo durante um jogo da Eurocopa, em 2021. Ele foi reanimado ainda no estádio, e a equipe médica da partida foi posteriormente premiada pela União das Associações Europeias de Futebol (Uefa) pelo rápido socorro. Em junho, três anos depois, Eriksen voltou às partidas.

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No caso de Izquierdo, segundo as informações divulgadas até agora, a parada cardíaca teria iniciado quando o atleta já estava a caminho do hospital.

— Não sabemos exatamente como foi na ambulância. E se o socorro demora um pouco mais no desfibrilador, mas a compressão está adequada, pode ser que a pessoa fique sem sequelas mesmo que o choque dure mais de 5 minutos. Só que a partir do momento em que o tempo vai passando, a expectativa de recuperação sem sequelas se torna muito baixa — avalia Fagundes.

O médico esclarece ainda por que o cérebro é o primeiro afetado no caso de uma parada cardíaca:

— Todas as células do nosso corpo estão vivas às custas de combustível. Os tecidos cerebrais, ou seja, os neurônios, utilizam basicamente oxigênio e glicose. E isso vem pelo sangue transportado pelas artérias, que circula graças ao trabalho cardíaco do coração. Se ele para, tem alguns tecidos que aguentam horas sem oxigenação, mas o cérebro é o tecido mais nobre que temos, e qualquer redução nesse combustível em minutos já faz uma diferença muito grande.

O cardiologista conta que, embora pessoas que tenham um histórico de doença cardíaca tenham maior predisposição, a maioria dos casos de uma parada súbita são em indivíduos que eram considerados saudáveis, muitas vezes por não saberem estar com uma saúde cardiovascular debilitada ou possuir uma doença genética.

— Em relação às causas, na maioria das vezes detectamos obstruções nas artérias coronárias do paciente que estavam prestes a levar a um infarto. Mas abaixo dos 35 anos, em que isso é menos provável, geralmente as causas são doenças geneticamente adquiridas ou hereditárias. Mas existe um percentual de 10% a 20% que você classifica como arritmia idiopática, que ela não teve uma causa específica identificada.

Nesta segunda-feira, o Secretário Nacional de Esportes do Uruguai, Sebastián Bauzá, disse à rádio uruguaia Carve Deportiva que Izquierdo já tinha apresentado uma "leve arritmia" em testes médicos realizados por um programa do governo há 10 anos: — Ele passou por um eletrocardiograma. Juan tinha 17 anos, tinha uma pequena arritmia e foi informado.

Segundo o último boletim do Einstein, o atleta segue internado na unidade de terapia intensiva (UTI) sob cuidados intensivos neurológicos e dependente de ventilação mecânica.