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Tecnologia na saúde: ultrassom remoto e detecção por IA de câncer de colo do útero ajudam mulheres
Empresa desenvolve tecnologias focadas em acelerar diagnóstico e levar atendimento a pacientes distantes de centros urbanos

A empresa de impacto social SAS Brasil está desenvolvendo uma nova tecnologia com potencial para mudar a vida de milhões de mulheres que vivem nos rincões do país. Em parceria com o Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), as cofundadoras Sabine Zink e Adriana Mallet trabalham em um sistema de inteligência artificial (IA) capaz de reduzir o número de etapas necessárias para detectar o câncer de colo de útero.
Recentemente, Adriana desenvolveu junto à Philips Foundation, em seu doutorado na mesma universidade, uma tecnologia de ultrassonografia remota, que já atendeu aproximadamente 500 mulheres.
Os procedimentos devem beneficiar sobretudo mulheres que vivem distantes dos grandes centros urbanos. Dados do IBGE mostram que um brasileiro se desloca em média 72 quilômetros para ter acesso a atendimentos ou procedimentos de saúde de baixa e média complexidade por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). No ano passado, Sabine e Adriana foram reconhecidas como empreendedoras sociais do ano pela Fundação Schwab no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.
O sonho com a SAS Brasil nasceu em 2013, quando as duas iniciaram um financiamento com seis amigos para rodar lugares remotos do país, onde o acesso à medicina é pouco ou nenhum, e levar atendimento de qualidade. O casal apostou de vez no trabalho de impacto social depois de assistir ao filme documental “Quem se importa?”, que conta como 19 empreendedores sociais mudam a vida de pessoas ao redor do mundo. Em 2015, elas criaram a empresa oficialmente, com uma rede de profissionais da saúde que atendem regiões carentes de médicos especialistas, que dois anos depois passou a contar com o uso de tecnologia para transformar o acesso à saúde.
Em junho, a SAS, patrocinada pela Fundação Philips, anunciou um novo centro de pesquisa em parceria com a Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. Nomeado SAS Brasil Living Lab, o programa deve funcionar como um polo de desenvolvimento de modelos de saúde assistencial por meio da telemedicina. O novo centro também vai fornecer treinamento para alavancar a tecnologia de ultrassom remoto, com base na pesquisa recente da SAS, também em parceria com a entidade, que levou ao primeiro procedimento nessa modalidade do país.
À distância
O ultrassom remoto começou a ser testado experimentalmente em 2021 e já foram atendidas 500 mulheres nesses últimos anos. Um protocolo determina o passo a passo, tanto para o médico que acompanha de forma presencial para formular e assinar o laudo, como para quem realiza o procedimento na paciente presencialmente.
Segundo Adriana, já existe autorização para o uso remoto do ultrassom, mas a norma vigente restringe o manuseio desses equipamentos aos médicos. A SAS busca ampliar o acesso, propondo treinar enfermeiros e técnicos em enfermagem, e até mesmo membros da comunidade em áreas remotas, para operar os aparelhos.
— Falta uma discussão no Conselho Federal de Medicina (CFM) para permitir que enfermeiros e técnicos, ou pessoas treinadas, possam realizar a ultrassonografia no local — diz .
No caso do câncer do colo de útero, quanto mais cedo a mulher é diagnosticada, maiores suas chances de cura. O problema, segundo Adriana, é a quantidade de etapas que separam o primeiro contato da mulher com a unidade de atendimento até a confirmação da doença. Normalmente, a paciente chega ao posto de saúde para agendar o exame do papanicolau, faz os testes e só então retorna para marcar a consulta com o ginecologista. É apenas nesse momento em que recebe o direcionamento para fazer a colonoscopia. Quando consegue realizar o exame de imagem, retorna ao especialista.
A proposta da SAS é fazer a colonoscopia no momento do papanicolau. Assim, os médicos conseguem acessar remotamente os resultados de ambos os exames. A IA entra justamente na análise das imagens porque a tecnologia está sendo treinada para reconhecer marcas saudáveis e marcas que indicam alguma anormalidade. Dados preliminares mostram que a IA apresenta em torno de 70% de taxa de sucesso, com potencial para alcançar patamares ainda mais elevados. As pesquisadoras querem aprimorar o modelo para que seja capaz de determinar, além da presença do câncer, seu estágio de desenvolvimento.
— Ensinamos ao software qual a ‘carinha’ dessas lesões — diz Adriana, que vê potencial para antecipar o diagnóstico de seis meses a um ano.
Uma das pesquisadoras envolvidas no estudo, a professora Sandra Avila, do Instituto de Computação da Unicamp, conta que a IA começou a ser treinada em um banco com pouco menos de mil imagens, publicado em julho do ano passado pela Agência Internacional de Pesquisa na Área de Câncer. Depois, a SAS recebeu o aval do Conselho de Ética em Pesquisa (CEP) para coletar imagens. Já em abril de 2024, o Hospital de Amor, em Campinas, contribuiu com mais 225 mil imagens, coletadas nos últimos 12 anos.
— Selecionamos as fotos que atendem modelos e parâmetros estabelecidos pela pesquisa. Treinamos a IA com base nos dados do hospital e testamos na mesma base — diz Sandra.
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