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Roberto Medina encontra ator que o interpreta em musical e relembra criação do Rock in Rio: 'Parecia impossível'
Em contagem regressiva para o festival, empresário e Rodrigo Pandolfoencontram-se pela primeira vez e comentam espetáculo em celebração aos 40 anos do evento

A menos de um mês da próxima edição do Rock in Rio, o clima no canteiro de obras da Cidade do Rock é de suor e correria. É o ambiente no qual o criador do festival, Roberto Medina, de 76 anos, se sente mais à vontade. Mas na tarde de quinta-feira passada (15), sua animação tinha uma razão a mais: a quem chegasse, fosse a filha e braço direito Roberta, ou o irmão Rubem, ele fazia questão de apresentar o ator Rodrigo Pandolfo: “Este aqui sou eu mais novo!”
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Conhecido do grande público por causa da trilogia de filmes “Minha mãe é uma peça”, o gaúcho da pequena Três de Maio foi escolhido pelo diretor Charles Möeller para viver Roberto Medina em “Sonhos, lama e rock and roll”, musical que contará, em 40 minutos, os 40 anos de Rock in Rio, com quatro sessões a cada dia de festival, na Arena Carioca 2 da Cidade do Rock. Enfim apresentado a Rodrigo na própria quinta, Medina (que havia visto apenas uma leitura do roteiro do musical, montado a seu pedido) se encantou.
O encontro, testemunhado pelo GLOBO, rendeu uma longa conversa, alimentada pela coincidência, descoberta na hora, de o ator ter nascido justamente em 1984, quando o publicitário tentava levar a cabo a ideia, a princípio insana, de fazer no Rio um festival de música de proporção global.
— Tento voltar atrás e não consigo entender como um grupinho tão pequeno fez essa coisa tão complexa e sofisticada. Aquilo era impossível, não podia dar certo — descreve Medina.
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Foram, na verdade, dez dias de som e paz, em janeiro de 1985, com shows dos maiores astros mundiais do rock (de Queen a AC/DC, passando por Ozzy Osbourne e Rod Stewart), que atraíram um total de 1,38 milhão de pessoas para um terreno pantanoso em Jacarepaguá. Uma história que bate fundo em Rodrigo, garoto oprimido pelo marasmo de uma cidade de interior, que aos 15 anos se mudou para o Rio atrás de seu sonho: tornar-se ator.
— Quando entrei para a CAL (Casa das Artes de Laranjeiras, escola de teatro), minha vida mudou por completo, era como se tivesse entrado num Rock in Rio. Encontrei os meus, que pensavam como eu e que me entendiam — conta ele, que em 2009 (até então, só tendo cantado “no banheiro”) foi levado por Charles Möeller para o musical “O despertar da primavera”, um sucesso no Teatro Villa-Lobos, no Rio.
A conversa entre os dois Roberto Medina teve lances de pura sessão de terapia. Eles descobriram terem passado por fases de depressão, e o Roberto original falou tanto da síndrome do impostor (“o que é ruim, mas te dá a humildade necessária”) quanto do seu pai, o empresário Abraham Medina (1916-1995), dono da rede de lojas de eletrodomésticos O Rei da Voz, que produziu programas de TV e espetáculos musicais.
— Ele era doido, mas extremamente disruptivo. Fiquei muito traumatizado por tudo que ele passou, mas de repente me vi fazendo um monte de merda muito parecida — conta Medina, que saiu do primeiro Rock in Rio com grande reconhecimento e um gigantesco prejuízo. — Perdi meu prédio (da Artplan, a agência de publicidade que havia criado), perdi minha casa, não tinha dinheiro para botar as crianças no colégio, não tinha nada.
‘Nós somos gregários’
O publicitário só voltaria a fazer um Rock in Rio em 1991, no Maracanã. E depois, em 2001, de volta ao terreno pantanoso de Jacarepaguá. Em 2004, ele iniciou uma vitoriosa incursão com o festival por Lisboa, que segue até hoje. E, de 2011 em diante, realizou no Rio, em intervalos de dois anos, na sua Cidade do Rock, seis edições consecutivas. À beira do seu décimo Rock in Rio carioca, Medina tenta entender a juventude para a qual faz seu festival:
— Você pergunta ao rapaz o que viu um minuto atrás e ele não tem a mínima ideia. Então, como é que toco o coração dele? É ao vivo. Tem uma coisa da energia pessoal que é fundamental.
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No que Rodrigo Pandolfo devolve:
— Se tem uma coisa que é certa é isso, é a interação. A gente precisa do outro. Você (Medina) tem uma máquina interna que te move. Essa máquina gera um fogo que a gente chama de paixão, de sonho. E que você alimente isso é a coisa mais linda.
O publicitário se envaidece e garante que nada para ele foi somente pelo lucro.
— A minha grana é a cara dessas pessoas (do público). Tenho um monte de amigos com grana, empresários e tal, é uma merda. Eles ficam contando dinheiro enquanto a gente conta sorriso.
Rodrigo arremata:
— E isso é riqueza!
Musical une pesquisa, ‘journey’ e romance
Vice-presidente artístico do Rock in Rio (e diretor musical de “Sonhos, lama e rock and roll”), Zé Ricardo confidencia que Roberto Medina hesitou bastante em se ver na ficção.
— Roberto tinha medo de ficar uma coisa chapa-branca. E aí eu falei: “Cara, a parada é a seguinte: Você conta a história da Disney sem o Walt Disney? Tem que ter você” — diz. — O desafio era contar a parte dele de um jeito leve, sem ser algo promocional.
Relutante, Medina estará dia 27 na primeira sessão do musical, cujos ensaios começaram ontem.
— Vou ver a primeira vez e depois não vejo mais. Não sei conviver com isso! — diz. — Me sinto mais à vontade nos bastidores. Sou diferente da minha filha, que gosta de exposição.
Curiosamente, este ano Medina acabou se vendo na ficção no filme “Aumenta que é rock’n’roll”, de Tomas Portela, baseado nas memórias de Luiz Antonio Mello, criador da Maldita, a rádio rock que ocupou nos anos 1980 as ondas antes pacíficas da niteroiense Fluminense FM. O publicitário conta que a cena em que aparece (interpretado por Charles Fricks) corresponde à realidade: Medina vai a Luiz Antonio pedir dicas de que bandas deveria trazer ao primeiro Rock in Rio, mas em seguida nega a ele o pedido para que a Maldita fosse a rádio oficial do festival “porque era importante que ela fosse pirata”. Mas faz uma ressalva:
— O ator que faz Medina é bacana, mas não acho que eu era bem assim (risos), não houve uma pesquisa...
Realizador no Rock in Rio do musical “Uirapuru” (2022) e do musical feito para inaugurar, em 2023, o The Town (o gêmeo paulistano do festival), Charles Möeller promete que “Sonhos, lama e rock’n’roll” será a sua maior produção para Roberto Medina, com 40 atores/cantores/bailarinos e oito músicos no palco e uma Arena Carioca 2 adaptada a uma estrutura de teatro, com cadeiras. A ideia é que, depois do festival, o espetáculo siga por outros palcos numa versão estendida, de uma hora e meia a duas horas de duração.
— A história do Rock in Rio é contada tantas vezes naquela visão do “quantas toalhas o artista pediu para o camarim...” Mas teve um lado da história que se perdeu, que não foi contado, que parece mais louco do que a própria ficção — explica Charles.
O diretor chegou então a uma história que é narrada pela personagem fictícia de Elizabeth Lobo (Malu Rodrigues na juventude, Bel Kutner na maturidade), estagiária da Artplan em 1984 que testemunha toda a história do Rock in Rio enquanto vive, paralelamente, uma grande história de amor. O roteiro, segundo Möeller, foi todo escrito a partir da leitura de livros, entrevistas e reportagens sobre a história do Rock in Rio.
Responsável pela trilha sonora de “Sonhos, lama e rock’n’roll”, Zé Ricardo conta ter optado pela releitura de canções que fizeram parte da história do festival.
— Eu tentava não incluir músicas de artistas que nunca tinham tocado no Rock in Rio, e aí Charles veio com uma sugestão de “Don’t stop believin’”, do Journey. Eu falei: “Cara, amo Journey, mas ele nunca tocou no festival”. Só que a cena com a música ficou foda... — conta Zé. — Minutos depois, eu recebi o e-mail do agente do Journey oferecendo a banda para o Rock in Rio. De cara, respondi: “Eu quero!”
Além do Journey (que se apresenta no Palco Mundo, no dia 15), o Rock in Rio traz outras novidades. Pela primeira vez, a área VIP permitirá que se veja o palco Sunset (antes, era só o Mundo). Além disso, os palcos menores estarão mais distantes uns dos outros — o que dará mais conforto, nos shows mais concorridos.
Novidade no horizonte
Aos quase 77 anos, Roberto Medina se regozija em passar horas acompanhando cada detalhe da montagem do Rock in Rio. Nos fins de semana, ele ainda cede aos apelos da família e vai para a sua fazenda, em Areal, no interior fluminense. Difícil para ele, mesmo assim, é descansar.
— Todo dia penso em me aposentar, mas no dia seguinte faço algo maior. Tem, inclusive, algo que vou anunciar daqui a uns 15 dias... Muito maior. Então é uma coisa... uma doença! — ri. — Eu tenho dois Robertos em mim, o que quer se aposentar e o outro que quer fazer coisas.
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