Internacional
Mais de 700 migrantes chegam ao Reino Unido após onda de protestos violentos da extrema direita
Manifestantes anti-imigração e islamofóbicos atacaram mesquitas, delegacias e até hotel que abrigava solicitantes de asilo no país; mais de 700 pessoas foram detidas
Mais de 700 migrantes cruzaram o Canal da Mancha em barcos improvisados para chegar ilegalmente ao Reino Unido neste domingo. No mesmo dia, duas pessoas morreram num naufrágio na costa norte da França, anunciaram as autoridades britânicas nesta segunda-feira. Apenas na última semana, mais de 1,1 mil pessoas tentaram chegar ao território britânico, elevando o total para 1,4 mil neste mês.
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Ao todo, segundo o Ministério do Interior britânico, 11 embarcações realizaram a perigosa travessia neste domingo. No amanhecer, porém, autoridades francesas receberam o aviso de que um dos barcos estava com “dificuldades”, e que havia pessoas na água. Como resposta, 53 migrantes foram resgatados. Dois deles, no entanto, não puderam ser reanimados: um morreu ainda no porto, e o outro no hospital.
O naufrágio de domingo elevou para nove o número de pessoas que perderam a vida nessas travessias no mês – e para 25 desde o início deste ano, superando de longe as 12 mortes registradas em 2023. Segundo uma contagem da AFP baseada em números das autoridades britânicas, pelo menos 18.342 pessoas realizaram a travessia desde janeiro. O número é 13% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado.
A chegada dos 700 migrantes ocorre após o Reino Unido ter enfrentado manifestações violentas anti-imigrantes e islamofóbicas – as piores desde 2011 no país. Os distúrbios foram inicialmente alimentados por ativistas de extrema direita nas redes sociais. Por esses canais, foi espalhada desinformação sobre um ataque a faca que matou três meninas durante uma aula de dança temática sobre a cantora Taylor Swift.
A polícia deteve o suspeito de 17 anos, mas rumores sobre a nacionalidade e religião dele foram rapidamente espalhados – e posteriormente desmentidos pelas autoridades. Ainda assim, centenas de manifestantes atacaram mesquitas e entraram em confronto com a polícia. Forças de segurança britânicas disseram que os responsáveis seriam “apoiadores da English Defence League”, grupo de extrema direita que organiza protestos anti-muçulmanos desde 2009.
Menos de duas horas após o esfaqueamento, de acordo com a Associated Press, um usuário conhecido como European Invasion escreveu no X que o agressor era “alegadamente um imigrante muçulmano”. Em pouco tempo, a mesma publicação apareceu no Facebook e no Telegram, segundo a empresa Logically, que monitora e combate a desinformação. O boato foi incluído num artigo publicado pelo Channel 3Now, site que teria supostas ligações com a Rússia.
Na sequência, o texto foi citado por agências de notícias russas, incluindo RT e Tass. No X, a Logically escreveu que é “provável” que o Channel 3Now seja “um ativo russo destinado a semear informações com objetivo de causar danos e criar divisão no Reino Unido”.
Tensões latentes
As publicações que mobilizaram multidões em protestos no país exploravam principalmente as tensões crescentes sobre a imigração, incluindo o crescente número de migrantes que entraram no país ilegalmente atravessando o Canal da Mancha. Essas preocupações têm sido tão importantes na região que foram tema central da eleição do mês passado, com o ex-primeiro-ministro Rishi Sunak prometendo parar os barcos improvisados e deportar os “imigrantes ilegais” para a Ruanda.
O atual primeiro-ministro, Keir Starmer, chegou a cancelar o plano de Sunak após ter tido uma vitória esmagadora – mas prometeu reduzir a imigração trabalhando com outras nações europeias e acelerando a remoção de solicitantes de asilo rejeitados. Em meio à onda de protestos da última semana, Starmer declarou que sua prioridade “absoluta” era acabar com a instabilidade, e que o governo tomará “todas as medidas necessárias” para pôr fim à desordem.
Organizados sob o lema Enough is enough (Basta), manifestantes atiraram tijolos, garrafas e sinalizadores nos agentes de segurança – ferindo vários policiais –, enquanto saqueavam e queimavam lojas, entoando insultos anti-islâmicos. Mesquitas e uma delegacia também foram atacadas, além de instalações comunitárias como um hotel que abrigava solicitantes de asilo e que foi incendiado pelos protestantes. No total, mais de 700 pessoas foram detidas e 300 acusadas.
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