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Um é pouco, dois é bom, três é melhor ainda.

Carlito Lima 11/08/2024
Um é pouco, dois é bom, três é melhor ainda.
Carlito Peixoto

Numa ensolarada manhã de sábado, dessa que a brisa acaricia, beija e balança a alma, vesti meu velho calção de banho, desci à praia. Caminhei na areia molhada, pés lavados pelas marolas. De um lado, suntuosos edifícios de apartamentos, guarnecidos por altivos coqueiros no calçadão, do outro, a imensidão do mar azul esverdeado se estendendo até onde a vista não pode alcançar. No retorno fui ao acarajé com cervejinha.

Sentado em uma pequena mesa pensado em nada desse mundo, quando alguém tocou meu ombro, reconheci Ubiratã, não o via há anos. O homem ao envelhecer engorda, cai os cabelos. Bira pediu licença, puxou recordações. Somos amigos desde os anos 80.

Perguntei pela namorada da época, Jeane uma bela jovem, eram apaixonados. Ele pegou o embalo e contou-me sua vida. Engravidou Jeane, casou-se, foi morar com os sogros no Prado. Teve dois filhos, hoje rapazes. O casamento durou 10 anos, largou a mulher e os sogros. Preferiu viver sozinho.

De repente apareceram duas mulheres com acarajé na mão e sorriso nos lábios. Ubiratã me apresentou, Ruth, morena, marrom café-com-leite, cabelos crespos, rosto redondo, olhos negros salientes, nariz achatado e lábios carnudos. A outra, Quitéria, pele alva, rosada, cabelos pretos como uma graúna, rosto oval, nariz afilado, belo sorriso dava um toque de sensualidade em sua boca carmim molhada. Duas simpáticas e gostosas mulheres, vestiam minúsculo biquíni. Calculei-as entre 30 e 35 anos de idade.

Conversamos bastante, todos bem humorados numa exuberante manhã do agosto alagoano. Ruth, de Palmeira dos Índios, terra de mulheres bonitas, ainda menina veio para capital. Quitéria, baiana, mora em Maceió, fez curso de enfermagem, vai à Bahia de visita. As mulheres foram caminhar, Bira contou sua história.

Atualmente é chefe de vendas de cerveja, conheceu Ruth no Hospital da Santa Casa, ao fazer alguns exames. Boa amizade, entretanto paquerou, assediou. Surpreendeu-se quando Ruth confessou morar com uma colega de hospital, Quitéria, eram namoradas. Ubiratã ficou chocado com a sinceridade da amiga, continuaram amigos, gostava de sair com as duas jovens comprometidas, achava-as divertidas.

Certo dia a mãe de Ruth morreu, o apartamento de três quartos herdado da mãe ficou enorme para o casal, Ruth gostaria de alugar um dos quartos, por que não ele? Vivia perambulando nas casas de tios e irmãos.

Ubiratã aceitou, foi morar junto ao casal, acertaram pagamentos e algumas normas para viverem em harmonia. Bira sentiu-se mais confortável, não teve problemas de convivência entre os três, passaram-se alguns meses de convivência, até que numa noite de sexta-feira, Ruth foi dar plantão no Hospital, Quitéria e Bira foram para uma barraca de praia, ficaram até mais tarde bebendo e conversando, o álcool derruba barreiras, preconceitos, desinibe, as pessoas ficam mais verdadeiras, ela falou que notava seus olhares pra cima dela, ela gostava de homem também, sentia uma forte atração por ele. Depois da meia-noite, foram para casa a pé cantando pela rua. Bira trabalhava na manhã do sábado, tomou banho, deitou-se. Ainda não havia pegado no sono quando Quitéria entrou no quarto apenas de calcinha branca. Bira olhou-a, sentou-se na cama, ela se aproximou, encostou-se, abraçando a cabeça do amigo. Amaram-se com fúria de apaixonados. Depois do amor, cabeças no lugar, resolveram falar a verdade à Ruth, não podia haver traição entre eles, passaram a tarde de sábado se amando, bebendo e confabulando.

Ruth chegou quando os dois assistiam televisão, sentiu que havia alguma coisa no ar além da TV. Os três reuniram-se à mesa, garrafa de uísque, beberam, confessaram o que havia ocorrido. Ruth calada, ouviu atentamente a história. Quando terminou o relato houve um clima de expectativa e constrangimento entre eles, ficaram calados se olhando, minutos de silêncio. Até que Ruth levantou-se, aproximou-se de Bira, baixou a cabeça e deu-lhe um beijo ardente em seus lábios.

Daí por diante aconteceu a maior noite de amor entre três seres humanos nas Alagoas, a Terra tremeu.

A partir dessa noite, os três ficaram juntos. Mês passado comemoraram dois anos de casados. Agora querem um filho, adotado, Bira fez vasectomia.

As mulheres retornaram da caminhada, pedimos mais acarajés e cerveja, conversamos até chegar a hora de um idoso bem comportado voltar para casa. Quando a gente passa dos sessenta, pensa que já viu tudo na vida, aí se surpreende com o ser humano. Não havia imaginado o comportamento de um trio amoroso oficial. Os três, na maior felicidade. Convidaram-me e aceitei, serei padrinho do menino que vão adotar.