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Obrigatória no solo da ginástica artística, a dança merece ser mais valorizada pelo esporte
Crítica de dança do New York Times argumenta que a ginástica se distanciou de suas raízes artísticas ao enfatizar a dificuldade acrobática

A ginástica artística feminina é um dos poucos eventos olímpicos que apresenta música e coreografia, mas isso não significa que o esporte leve isso realmente a sério. Em 2016, no meio dos Jogos do Rio, a publicação especializada "Dance Magazine" declarou que as rotinas no solo de hoje "insultam a dança". Essa linha de pensamento sugere que a ginástica se distanciou de suas raízes artísticas ao enfatizar a dificuldade acrobática, com a coreografia agora sendo apenas um preenchimento genérico entre os verdadeiros fogos de artifício.
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Como crítica de dança e aficionada por ginástica, eu esperava sentir algo diferente na Arena Bercy, o palco olímpico do esporte em Paris. Afinal, desde 2016, os oficiais da ginástica têm tentado priorizar novamente a arte no livro de regras oficial do esporte, com "engajamento expressivo pobre" e "insuficiência de complexidade ou criatividade dos movimentos" entre as deduções de notas que os juízes podem agora aplicar no solo.
Até certo ponto, isso ajudou: algumas ginastas e equipes nacionais estão aproveitando e colocando um pensamento claro no impacto geral de seus exercícios de solo. No entanto, na Arena Bercy, a dança ainda parecia um pensamento secundário — e o formato geral da competição impede um progresso.
Enquanto os telespectadores normalmente assistem a uma rotina de cada vez, as competições de ginástica ao vivo são caóticas. Diferentes atletas competem em vários aparelhos ao mesmo tempo. Em uma final de equipe feminina, como a que os EUA ganharam na última terça-feira, o olho do espectador ao vivo deve constantemente saltar entre os principais competidores. Ansioso para assistir a animada equipe brasileira no solo? Boa sorte em seguir uma rotina completa quando Simone Biles ou a estrela chinesa Qiu Qiyuan estão na trave.
Isso não proporciona uma boa visualização do esporte em geral — o que quer que você faça, está garantido que vai perder momentos importantes — mas para a coreografia, é uma sentença de morte. Como os elementos de dança compõem apenas uma pequena parte das pontuações, sua atenção é frequentemente desviada assim que uma passagem de acrobacias termina. Os aplausos e suspiros do público regularmente abafam partes da música.
Ajudaria imensamente se os organizadores simplesmente escalonassem as rotinas de maneira deliberada. A ginástica da NCAA começou a fazer isso na última temporada nos EUA, com no máximo dois eventos ocorrendo ao mesmo tempo. Nas Olimpíadas, apenas a final do solo, na segunda-feira, dará às ginastas a oportunidade de ter a atenção do público totalmente focada em suas rotinas.
Talvez seja mais fácil compreender a coreografia da ginástica como desenhada para a TV. Os close-ups da câmera ajudam a identificar o que as ginastas e seus coreógrafos estavam almejando: mesmo para os mais experientes, imaginar uma coreografia para 15 mil pessoas sentadas ao redor de uma arena é uma tarefa árdua.
Ainda assim, a experiência filmada também é imprevisível: alguns destaques de dança nunca chegam à transmissão de TV, que mostra apenas uma pequena parte das rotinas nas finais de equipe e no individual geral. Coreógrafos e pontuações não são creditados. E a edição não é necessariamente sintonizada com uma performance específica: quando voltei para rever Biles girar e rodopiar até o título da equipe feminina, descobri que partes de sua coreografia (por Grégory Milan, um ex-bailarino francês) foram filmadas de modo que Biles estava de costas para a câmera, perdendo suas expressões faciais.
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Contra as adversidades, algumas ginastas ainda realizam exibições altamente pessoais. A ginasta italiana Manila Esposito, por exemplo, é o sonho de um coreógrafo, com sua amplitude e pontuação dos pés sem falhas. Jordan Chiles, uma ginasta americana experiente que se destacou no nível NCAA nos últimos anos, ataca sua rotina inspirada em Beyoncé com uma fraseologia musical assertiva.
Ambas aparecerão na final do solo na segunda-feira, assim como a estrela brasileira Rebeca Andrade, uma dançarina confiante cujas rotinas homenageiam suas raízes na favela. O Brasil, medalhista de bronze por equipe, claramente valoriza a dança como entretenimento de alta energia e conquistou corações em Paris por suas performances. A homenagem de Flavia Saraiva ao cancã pode não ser sutil aqui — muitos atletas escolheram músicas francesas para os Jogos, com resultados variados — mas sua maneira brilhante e animada de articular os passos fez a Arena Bercy aplaudir toda vez que ela apareceu no solo.
Há um fluxo contínuo de movimento nas rotinas das brasileiras e um senso de estilo pessoal que muitas ginastas não têm. Várias vezes, enquanto outras competidoras se aproximavam dos cantos do solo para se preparar para uma passagem acrobática, elas mudavam abruptamente de marcha, tensionando-se e deixando a qualidade do movimento para trás.
O Código de Pontos, o livro de regras da ginástica, impõe deduções para esses problemas, embora sejam pequenas (até 0,30 ponto por "engajamento expressivo pobre de acordo com o estilo da música", por exemplo). Isso pode se acumular, mas o público nunca sabe como a arte foi avaliada. Apenas a pontuação geral de execução, de 10, é anunciada e combinada com a pontuação de dificuldade da rotina.
Há um modelo no esporte para dar maior ênfase à qualidade da performance: a ginástica universitária dos EUA tem capitalizado nos últimos anos em coreografias vibrantes definidas para hits populares para aumentar a audiência do esporte. No entanto, mesmo para ginastas da NCAA como Chiles, que também competem nas Olimpíadas, o problema é que as rotinas de elite exigem elementos muito mais difíceis e, muitas vezes, mais passagens acrobáticas. A duração das rotinas de solo não muda de acordo: um minuto e 30 segundos ainda é todo o tempo que elas têm para dançar no chão e fazer acrobacias no ar.
Se a ginástica realmente valoriza a arte e quer que o público se concentre nela, existem opções, desde limitar as passagens acrobáticas a permitir rotinas mais longas, ou conceder bônus de virtuosidade aos melhores performers. Isso envolveria pensar em cada rotina de solo como uma obra coreográfica em miniatura: um todo orgânico que merece ser plenamente apreciado por todos os públicos, ao vivo ou na TV.
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