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Após prisão de líderes do tráfico, presidente do México pede que cartéis não briguem: 'Confio que não haverá confrontos'

López Obrador tem um histórico de apelos públicos às gangues de drogas por paz, inclusive, chegou a elogiar o crime organizado do país em algumas ocasiões

Agência O Globo - 30/07/2024
Após prisão de líderes do tráfico, presidente do México pede que cartéis não briguem: 'Confio que não haverá confrontos'
Após prisão de líderes do tráfico, presidente do México pede que cartéis não briguem: 'Confio que não haverá confrontos' - Foto: Reprodução

O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, fez um apelo público incomum, nesta segunda-feira, aos cartéis de drogas para que não se enfrentem, após a prisão dos principais líderes do cartel de Sinaloa, Ismael “El Mayo” Zambada e Joaquín Guzmán López, ocorrida na última semana.

Conforme relatou o The Guardian, durante sua coletiva de imprensa diária, López Obrador expressou confiança de que os traficantes de drogas sabem que só sofreriam se intensificassem as guerras internas que já assolam o cartel de Sinaloa.

"Aqueles que estão envolvidos nessas atividades ilegais sabem que não resolvem nada com confrontos", disse o presidente, acrescentando que “eles arriscariam a vida de outros seres humanos, e por que fazer as famílias sofrerem?”

“Confio que não haverá confrontos”, afirmou, apesar do anúncio do exército no fim de semana de que havia enviado mais 200 soldados de elite de uma unidade paraquedista para o estado de Sinaloa, por precaução.

Não houve relatos imediatos de aumento da violência no fim de semana. No entanto, o cartel de Sinaloa tem sido dividido há anos por lutas entre seguidores de Zambada e rivais que seguem os filhos do narcotraficante preso Joaquín “El Chapo” Guzmán, pai de Guzmán López. Outros filhos de Guzmán ainda estão foragidos.

Tanto Zambada quanto o filho de Guzmán desempenhavam papéis de liderança no cartel de Sinaloa e foram detidos na quinta-feira, quando chegaram no Texas, Estados Unidos, a bordo de um avião particular. López Obrador tem um histórico de apelos públicos aos gangues de drogas por paz, às vezes até as elogiando.

Em 2021, López Obrador elogiou a votação pacífica nas eleições daquele ano e enviou uma mensagem de reconhecimento aos cartéis de drogas que alimentam grande parte da violência no país. “As pessoas que pertencem ao crime organizado se comportaram muito bem, em geral, houve poucos atos de violência por parte desses grupos”, disse o presidente na época. “Acho que os criminosos de colarinho branco agiram pior.”

A prisão de Zambada e Guzmán López representou um grande constrangimento para o presidente. Autoridades mexicanas foram forçadas a admitir que não sabiam nada sobre a operação até que ela fosse concluída.

Zambada havia escapado das autoridades por décadas e nunca tinha pisado em uma prisão até que um avião que transportava ele e Guzmán López pousou em um aeroporto em Santa Teresa, Novo México, perto de El Paso, Texas, na quinta-feira. Ambos os homens, que enfrentam várias acusações de drogas nos EUA, foram presos e permanecem detidos.

O advogado de Zambada rebateu no domingo as alegações de que seu cliente foi enganado para voar para o país, dizendo que ele foi “sequestrado à força” por Guzmán López. Se isso for verdade, poderia alimentar acusações de traição e mais confrontos entre as facções.

López Obrador disse que havia indícios de que as autoridades dos EUA vinham negociando com Guzmán López para que ele se entregasse há algum tempo, possivelmente meses ou anos, antes do narcotraficante aparentemente decidir fazê-lo.

Mas o presidente mexicano afirmou que nada se sabia sobre como Zambada acabou no voo, e que os promotores mexicanos estavam investigando para ver se ele foi sequestrado.

Frank Perez, advogado de Zambada, afirmou que seu cliente não chegou ao aeroporto do Novo México por vontade própria. "Meu cliente não se entregou nem negociou termos com o governo dos EUA", disse Perez em um comunicado.

“Joaquín Guzmán López sequestrou meu cliente à força. Ele foi emboscado, jogado ao chão e algemado por seis homens com uniformes militares e Joaquín. Suas pernas foram amarradas, e um saco preto foi colocado sobre sua cabeça.” Perez continuou dizendo que Zambada, de 76 anos, foi jogado na traseira de uma caminhonete, forçado a entrar em um avião e amarrado ao assento por Guzmán López.