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Artistas LGBTQIAP+ celebram representatividade na cerimônia de abertura das Olimpíadas de Paris

Evento mostrou desfile de moda com drag queens em ponte, que virou uma passarela; cena que remontou a obra de arte 'A última ceia' virou polêmica nas redes sociais

Agência O Globo - 26/07/2024
Artistas LGBTQIAP+ celebram representatividade na cerimônia de abertura das Olimpíadas de Paris
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Os esportes estão na moda, e Paris é a capital mundial dela. Não à toa, a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos na capital francesa, na tarde desta sexta-feira (26), sacudiu a internet ao transformar uma ponte sobre o Rio Sena em passarela para o desfile de drags e outros representantes LGBTQIAP+. Artistas da comunidade ouvidos pelo EXTRA celebraram a representatividade num evento de repercussão mundial.

— Eu assisti à transmissão da cerimônia e, essa parte específica das pessoas LGBTs, eu achei muito emocionante, muito simbólica e um recado para o mundo inteiro: sim, nós estamos em todos os espaços. Pessoas como nós temos o direito de existir e o direito de celebrar essa nossa existência, que deve ser respeitada. Então, é emocionante pensar que esse espaço foi dado — comemorou a travesti Galba Gogoia, intérprete de Natasha, uma das amigas de Buba (Gabriela Medeiros) na novela "Renascer", da TV Globo.

Galba enfatiza a importância de LGBTs participarem de um evento do mundo dos esportes, que tradicionalmente se mostra sexista:

— Eu fico pensando na história dos Jogos Olímpicos, quantos anos de tradição! E hoje, a gente estar nesse lugar mostra que é satisfatório o resultado de tanta luta, de tantas reivindicações sobre os nossos direitos LGBTs. Cada vez mais estamos em todos os lugares, ainda mais no esporte, que costuma ser excludente para a nossa comunidade porque muitas vezes reproduz lógicas sexistas, machistas. Eu lembro que a última Olimpíada foi declaradamente a de maior número de atletas LGBTs, e nesta também tem uma quantidade grande. Isso nos faz ter cada vez mais orgulho de quem somos.

A drag queen Bianca DellaFancy, intérprete de Janaína, outra amiga de Buba na novela das 21h da TV Globo, classificou a performance como "corajosa e bela":

— Inserir corpos dissidentes, cujas existências são consideradas abjetas e marginalizadas pela sociedade, em cenários de poder e importância cultural, é uma das formas de ressignificar esses corpos. Principalmente quando se trata de uma religião que diz acolher a todos, mas que na prática sabemos que é completamente diferente disso.

Quando cita a religião, Bianca se refere à recriação do quadro "A última ceia", de Leonardo Da Vinci. Também composta por integrantes da comunidade LGBTQIAP+ — entre eles, as artistas Nicky Doll, participante da 12ª temporada do reality "Rupaul’s Drag Race" e apresentadora da versão francesa da competição; Paloma, vencedora da primeira edição do reality show na França; além de Piche e Vespi, ambas da segunda temporada —, a cena foi mostrada um pouco antes do desfile de moda. Na rede social X, o antigo Twitter, houve quem celebrasse e quem tecesse duras críticas à referência:

Vencedora da primeira edição do reality show "Drag Race Brasil", a drag queen carioca Organzza, criada pelo artista Vinícius Andrade, sublinha que a inclusão de integrantes da comunidade LGBTQIAP+ na abertura dos Jogos Olímpicos é um marco histórico:

— As Olimpíadas de Paris trouxeram a ideia de ser da inclusão, desde o seu anúncio. E ao longo da abertura a gente pôde ver muitos momentos de celebração de corpos diversos, de várias etnias. Só a maneira como pensaram a cerimônia, de não ser num estádio fechado, e sim pelas ruas de Paris, já demonstra essa preocupação em levar a sério a história de serem as Olimpíadas da diversidade. E ver a comunidade LGBT presente é uma virada. Principalmente nos esportes, onde a gente sabe que a LGBTfobia é muito enraizada. Que bonito ver drags simulando a mesa da Santa Ceia... Inclusive a Nicky Doll, que é a drag queen apresentadora do (reality) "Drag Race France", chamada de Olimpíadas LGBT. Ver essa junção, focando em artistas que geralmente estão à margem, em locais fechados e noturnos, é um grande marco para a nossa comunidade queer.