Internacional

Eleições na Venezuela: Líderes e autoridades internacionais pedem que votação seja 'transparente' e que resultado seja respeitado

Clima em Caracas é de tensão após Maduro falar em 'banho de sangue' caso não seja reeleito; apelo mais recente é o do presidente do Chile, Gabriel Boric: '[Eleições] competitivas e sujeitas à observação'

Agência O Globo - 25/07/2024
Eleições na Venezuela: Líderes e autoridades internacionais pedem que votação seja 'transparente' e que resultado seja respeitado

Faltando apenas três dias para as eleições na Venezuela, o clima é de tensão e expectativa — principalmente sobre como será a transição democrática caso a oposição vença após as falas de Nicolás Maduro sobre o país enfrentar um "banho de sangue" caso não seja reeleito. Nesta quinta-feira, o presidente do Chile, Gabriel Boric, pediu eleições "transparentes, competitivas e sujeitas à observação internacional" em Caracas, unindo-se aos apelos feitos por outras autoridades e líderes internacionais, em especial de países sul-americanos.

— Concordo e apoio as declarações de Lula de que aqui não podemos ameaçar nenhum ponto de vista com banhos de sangue, o que os líderes e candidatos recebem são banhos de votos — afirmou em entrevista coletiva com o chanceler Alberto van Klaveren.

O presidente do Chile, crítico do regime venezuelano desde que assumiu, em março de 2022, fez referência à declaração do presidente do Brasil na última segunda-feira. Na ocasião, Lula disse ter ficado assustado com as ameaças de Maduro, rebatendo que o presidente venezuelano "tem que aprender [que], quando você ganha, você fica, quando você perde, você vai embora". As ameaças de Maduro tampouco passaram despercebidas pelo presidente da Colômbia, Gustavo Petro, cujo país acolhe o segundo maior número de eleitores venezuelanos no exterior.

Uma fonte próxima ao governo disse ao El país: "Estamos aguardando o que acontece no domingo", uma atitude mais cautelosa devido aos laços históricos entre os países. Mas, nem Brasília e nem Bogotá enviarão observadores para Caracas, informou a imprensa colombiana sobre este último.

'Comunidade interacional atenta'

Um dia antes da declaração de Boric, o ex-presidente da Argentina Alberto Fernández disse desejar, em uma publicação no X, que a Venezuela "possa realizar as suas eleições de forma transparente, e que o veredito popular seja respeitado qualquer que seja o resultado". Na postagem, Fernández informou que o governo venezuelano suspendeu o convite para que atuasse como observador da votação.

Segundo o ex-presidente argentino, o governo venezuelano teria alegado que algumas declarações feitas por ele a um meio de comunicação nacional "causaram desconforto" e puseram em dúvida sua imparcialidade. "Eu apenas disse que numa democracia, quando o povo vota, 'quem ganha, ganha e quem perde, perde' e se o partido no poder fosse eventualmente derrotado, teria de aceitar o veredito popular. A oposição deverá fazer o mesmo caso o resultado seja adverso", escreveu.

Já o também ex-presidente argentino Mauricio Macri foi mais incisivo em seu recado ao presidente da Venezuela, argumentando em uma publicação no X que "a comunidade internacional está atenta às manobras fraudulentas de Maduro". Aviso semelhante foi feito pelo grupo de ex-presidentes ibero-americanos, que integram o Grupo Liberdade e Democracia e da qual Macri é integrante: "Qualquer tentativa de fraude deve ser punida com as sanções máximas, e um processo internacional eficaz deve ser levado a cabo contra Nicolás Maduro e o seu círculo mais próximo", afirmaram em comunicado citado pela agência Efe.

O presidente do Panamá, o direitista José Raúl Mulino, disse defender "uma solução democrática, que respeite a vontade do povo". Dois terços dos milhares de migrantes que entram no país todos os meses pela selva de Darién, a inóspita fronteira na selva com a Colômbia, são venezuelanos.

— Se a situação melhorar [na Venezuela], muito menos pessoas vão querer se aventurar nesse trânsito arriscado pela selva — disse Mulino em uma entrevista coletiva nesta quinta-feira.

Os EUA comentaram as eleições na Venezuela através do chefe do Departamento de Estado para a América Latina, Brian Nichols. A autoridade americana destacou que a participação será um fator crucial para a oposição vencer as eleições (Edmundo González Urrutia, que representa a oposição após a inabilitação da líder María Corina Machado, aparece como favorito na maioria das pesquisas).

— Esperamos que ela [a oposição] se saia bem se os seus eleitores conseguirem votar (...) A restauração da democracia na Venezuela continua no centro da nossa política externa — disse Nichols, citado pelo El País, durante uma audiência no Congresso na quarta-feira.

No dia anterior, o chefe do Escritório dos EUA para a Venezuela, Francisco Palmieri, enfatizou que a única saída para a crise em Caracas será através de eleições democráticas. Em entrevista ao jornalista e ex-parlamentar Vladimir Villegas, Palmieri disse apoiar "um processo democrático em vez de um resultado específico."

— Através de eleições democráticas é a única forma de o próximo governo poder ganhar a confiança e a legitimidade da comunidade internacional — destacou, citado pelo jornal espanhol. (Com AFP)