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De Amaro Freitas a Beyoncé, O GLOBO elege os 17 melhores álbuns de 2024 até agora

Do pop ao jazz, do rap ao rock, da MPB ao funk, tem para todos os gostos

Agência O Globo - 01/07/2024
De Amaro Freitas a Beyoncé, O GLOBO elege os 17 melhores álbuns de 2024 até agora
De Amaro Freitas a Beyoncé, O GLOBO elege os 17 melhores álbuns de 2024 até agora - Foto: Reprodução / internet

Você piscou... e 2024 chegou à metade. Mas o mundo da música não dorme, todo dia tem lançamentos de álbuns dos mais variados artistas — e o resultado é que quase sempre o ouvinte fica perdido na selva. Numa tentativa de ajuda, o GLOBO separou 17 álbuns imperdíveis que saíram neste primeiro semestre. Do pop ao jazz, do rap ao rock, da MPB ao funk, tem para todos os gostos.

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“Cowboy Carter” – Beyoncé

Segundo álbum de uma série temática de três (o primeiro foi “Renaissance”, de 2022), “Cowboy Carter” foi aguardado como a reivindicação da artista negra e identificada com as pautas progressistas do seu inalienável direito de fazer um disco de country – gênero musical americano que, ao longo dos anos, veio ganhando a fama de branco e reacionário demais. De forma brilhante, Beyoncé transita pelo universo temático do country (Deus, armas, rodeio, a pureza do homem do campo, valores familiares, dramas conjugais), em canções que podem ser interpretadas tanto de forma geral (os descaminhos da América no Século XXI) quanto pessoal (a mal digerida traição do marido e empresário, Jay-Z)

“Y’Y” – Amaro Freitas

Quarto álbum do pianista que em menos de dez anos saiu de uma igreja evangélica da periferia do Recife para os principais palcos do jazz do mundo, “Y’Y” chegou com uma proposta muito clara: a de conduzir o ouvinte por uma imersão no universo amazônico, que envolve um mergulho na floresta, nos rios e, por fim, no oceano. Mas, além de mergulho na selva majestosa, o disco acabou sendo, nas palavras de Amaro, “uma celebração da diáspora africana que reverberou de formas diferentes em cada lugar”, na qual ele reuniu estrelas do novo jazz, como o guitarrista americano Jeff Parker, o flautista inglês Shabaka Hutchings e a harpista americana Brandee Younger

“Orquídeas” – Kali Uchis

No meio do time de cantoras que despontaram globalmente no streaming, a partir do entroncamento do r&b com o pop latino, a americana-colombiana Kali Uchis parece ter de fato chegado a algo com “Orquídeas”. Em seu quarto álbum, ela não só consegue inebriar, mas atinge um nível de sofisticação, coesão e ambição que poucas de suas colegas conseguiram. Da flor nacional da Colômbia, Kali pega a riqueza de cores e perfumes num disco em que enfim encontrou espaço para mostrar toda a versatilidade de sua voz, treinada no doo wop, soul e diversos estilos da música latina.

“Boca cheia de frutas” – João Bosco

Segundo o cantor, violonista e compositor de 77 anos, seu novo álbum é, além de uma intensa expressão da saudade do parceiro Aldir Blanc (1946-2020), um retrato dos últimos quatro anos de Brasil. É o disco “de maior fluidez” de toda sua obra, cheio de referências às heranças indígenas e africanas do país, que “começa com um certo ceticismo, uma certa distopia”, depois “ganha um fôlego com a delicadeza e a singeleza de ‘E aí?’”, e por fim parte para o sonho e a utopia, com “Cio da terra” (clássico de Chico Buarque e Milton Nascimento) e “Boca cheia de frutas” (a faixa-título, uma das muitas que João compôs no disco com o filho, Francisco Bosco).

“Wall of eyes” – The Smile

No segundo álbum do grupo formado por dois integrantes chave do lendário Radiohead (o vocalista/tecladista Thom Yorke e o guitarrista Jonny Greenwood) com o baterista Tom Skinner (do grupo de jazz Sons of Kemet), o ouvinte vai encontrar aprimoramento e uma concisão orgânica, mas com toda paranoia, desolação e psicodelia do primeiro álbum. Especialistas na construção de estados alterados de consciência, Yorke (um melodista admirável, além de cantor capaz de exprimir toda angústia do mundo com seu falsete) e Greenwood (guitarrista que expandiu sua criatividade para a orquestra, em trilhas para os filmes de Paul Thomas Anderson) encontraram na liberdade jazzística de Skinner uma forma de enveredar por caminhos ainda não trilhados pelo Radiohead.

“No rastro da Catarina” – Cátia de França

Uma das artistas mais singulares da MPB, a cantora, compositora e violonista paraibana ressurgiu em 2024 com álbum de psicodelia quase setentista e energia de adolescente, no qual conseguiu traduzir em estúdio, com a sua banda, a sonoridade vigorosa dos shows recentes. Descoberta por toda uma nova geração a partir do relançamento em LP, em 2021, de “20 palavras ao redor do Sol” (1979), Cátia mexeu nos arquivos e encontrou composições das mais diferentes épocas. Algumas, bem antigas, como “Indecisão”, um poema romântico que escreveu em 1962, aos 14 anos, e só agora musicou. Já “Negritude”, de 1972, surpreende pela força da letra: “Já não tenho medo/ minha pele agora é minha lei/ meu cabelo é diferente/ a vasta mistura me torna mais gente”

“Tortured Poets Department” – Taylor Swift

Matar e morrer de amor, denunciar o mau amor, mas tudo com muita classe. Sintetizadores bonitos e tiradas espirituosas em canções que vão render ainda um ano inteiro de especulações acerca de quem foram compostas. A cantora segue à risca o script de seus últimos álbuns (inclusive com a colaboração de seus parceiros e produtores de fé, Jack Antonoff e Aaron Dessner) no disco mais aguardado mundialmente em 2024 (e duas horas depois de lançar este “Tortured Poets Department”, Taylor soltou uma segunda parte, batizada como "The Anthology", com outras 15 faixas). É uma boa coleção de canções muito bem produzidas, com a intenção de criar um pouco mais ou um pouco menos de drama. Coisa de quem conhece muito bem o ouvinte com quem está falando ao pé do ouvido.

“Não tem rolê tranquilo” – Deize Tigrona

Em seu novo álbum, a pioneira feminina do funk da Cidade de Deus (de um tempo em que ainda não havia Anitta) vai além do gênero, trabalhando com um poderoso trio de produtoras mulheres (Iasmin Turbininha, Larinhx e Badsista) e partindo para uma visão mais psicodélica e aventureira do sexo e do prazer, depois de uma série de experiências que incluíram uma turnê pela Europa, o fim de um longo casamento e o pedido de demissão da Comlurb, depo de muitos anos varrendo ruas.

— O disco veio desse exagero de querer viver com os amigos, conhecendo pessoas e tudo mais. Passei situações que são assim para guardar na memória, são memórias boas, mas, ao mesmo tempo, bem intensas. Meus amigos é que falavam: “Não tem rolê tranquilo!” — conta Deize

“All born screaming” – St. Vincent

Cantora, guitarrista, ícone fashion e LGBTQIAPN+ (já namorou as atrizes Cara Delevigne e Kristen Stewart), atriz, roteirista e diretora de cinema, a americana Annie Clarke, de 41 anos, agora acrescenta aos seus títulos o de produtora musical, função na qual debutou neste sétimo (e mais variado) álbum do seu projeto solo, o St. Vincent. Com faixas que vão do rock industrial ao reggae, “All born screaming” soa como um tributo de Annie à música que ouviu na adolescência, nos anos 1990. Não por acaso, participam do álbum Dave Grohl (baterista do Nirvana e líder dos Foo Fighters) e Josh Freese (que tocou em vários discos de rock dos 90 e hoje é baterista do FF).

“OPROPRIO” – Yago Oproprio

O álbum de estreia do artista da periferia paulistana parte do boombap, a sua origem musical, para uma viagem pelo que a música brasileira tem de mais criativo. Muito mais do que um disco de rap, “OPROPRIO” é um relato – melancólico, às vezes, mas sempre poética e com muito flow — das vivências de um homem de 29 anos que já passou por poucas e boas. Yago honra a influência de gigantes como Sabotage e Black Alien com um trabalho no qual o talento e o cuidado estão impressos em todo canto, das letras à capa.

“Brat” – Charli XCX

Artista que foi do underground ao mainstream ao longo de uma década, a inglesa enfim conquista as atenções do mundo com um álbum de muito bom gosto e muito bem equilibrado entre as tendências pop (sem a qual não se conquista as paradas de sucessos) e uma estética repleta de estranhezas, burilada com gosto por produtores como George Daniel, AG Cook, Easyfun, Hudson Mohawke e Gesaffelstein. É um disco, empolgante, vivo, feroz e original, no qual a cantora ainda consegue expor suas vulnerabilidades em letras bem sacadas.

“Pra você, Ilza” – Hermeto Pascoal

Reunião dos temas instrumentais que o Bruxo dedicou a Ilza Souza Silva, mãe de seus seis filhos e sua companheira de 1954 a 2000 (ano em que faleceu, vítima de câncer). Hermeto escolheu 13 entre um total de 198 partituras registradas em um caderno escrito entre 1999 e 2000. Na hora de gravar, levou apenas com a partitura bruta indicando melodia e harmonia. Sentado numa poltrona, foi dizendo cada nota e ritmo que os músicos devessem executar e, ainda por cima, criou novas partes para as músicas, tudo na hora. Coube aos velhos escudeiros Itiberê Zwarg (baixo), Ajurinã Zwarg (bateria), André Marques (piano), Jota P (saxofone) e Fábio Pascoal (percussão) ir atrás dele — e o deleite, nessa perseguição, é todo do ouvinte.

“Hit me hard and soft” – Billie Eilish

Para uma hitmaker com pretensões artísticas, o “desafiador” terceiro álbum pedia uma mudança de rumo, repensando o passado e desafiando os fãs. Em “Hit me hard and soft”, Eilish e o irmão Finneas expandem ainda mais seu território sonoro, deleitando-se com a eletrônica e sutilezas luxuosas, enquanto honram e distorcem as estruturas pop. Ao mesmo tempo, a cantora assume uma tarefa mais convencional: escrever canções, especialmente canções de amor, que não tenham que ser todas sobre ela. O conjunto conciso de 10 músicas é um contraste deliberado com os álbuns prolixos da era do streaming, como os recentes de Taylor Swift e Beyoncé.

“Invisible woman” – Silvia Machete

O segundo álbum de uma trilogia da persona Rhonda da cantora chama a atenção pela elegância e pela autoridade com que ela mergulhou em um repertório próprio (composto com o baixista Alberto Continentino), todo em inglês, com referências a um tipo de música com sabores soul e lounge, que se não existiu de fato ali na Califórnia dos anos 1960 e 70, bem que poderia ter existido. Mais do que uma aventura em um estilo, imaginado ou não, “Invisible woman” concentra as experiências de Silvia carreira afora, num desses LPs de vinil que rodariam sem parar na vitrola.

“Dark matter” – Pearl Jam

Com produção de Andrew Watt, que pilotou as gravações dos mais recentes álbuns de Ozzy Osbourne, Iggy Pop e Rolling Stones, o novo álbum do grupo americano, sobrevivente do grunge, acabou se revelando um dos melhores de sua carreira. Watt encorajou os músicos, que já rondam os 60 anos de idade, a revisitar e reavaliar seus primeiros álbuns, “Ten” (1991), “Vs” (1993) e “Vitalogy” (1994), visando a uma reconexão com a essência do grupo. Basta ouvir a faixa-título para perceber que ele foi bem-sucedido — Eddie Vedder e cia. continuam nos cascos.

“Paisagem” – Tuyo

Consagração de um dos mais grandes fenômenos da música indie brasileira, o terceiro álbum do trio captura a magia criada nos palcos, com sonoridades vaporosas de sintetizadores, violões dolentes, batidas de house music e angelicais harmonias vocais. As canções continuam repletas de melodias aliciantes, de emoção à flor da pele e de sonoridades escolhidas a dedo, com alguns luxos novos, como o arranjo de cordas de Arthur Verocai em “Apazigua” – o pop dos anos 2020 se encontra com o esteta da MPB dos 70, num resultado que é lindo de se chorar

“Funk Generation” – Anitta

Uma homenagem ao funk (apenas funk, sem essa de “funk carioca”; James Brown daria sua bênção, do alto de seu trono de Godfather of Funk)? Uma atualização do gênero? Funk para exportação? Um pouco de tudo, e não exatamente tudo. Nas letras, Anitta mistura espanhol, inglês e português — com vantagem para o idioma de Maluma e Shakira, que a cantora sabe muito bem jogar o jogo e tem consciência de que o mundo hispânico é um belo mercado a se conquistar —, mas o tamborzão do funk (carioca?) aparece em praticamente todas as 15 faixas. Com uma média de 140 segundos por música, a moça de Honório Gurgel dá aos fãs o que eles querem.