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Ao menos 22 pessoas morrem em ataque próximo a abrigos de deslocados no sul de Gaza, diz Cruz Vermelha

Militares israelenses afirmaram que uma análise inicial não mostrou 'nenhuma indicação' de um bombardeio na região, identificada por Israel com uma zona segura para refugiados

Agência O Globo - 22/06/2024
Ao menos 22 pessoas morrem em ataque próximo a abrigos de deslocados no sul de Gaza, diz Cruz Vermelha

Ao menos 22 pessoas foram mortas e mais de 50 ficaram feridas num bombardeio próximo à região onde milhares de deslocados palestinos se refugiam em al-Mawasi, comunidade costeira no sul da Faixa de Gaza, perto da cidade de Rafah, afirmou o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) na sexta-feira. A declaração do CICV não aponta um responsável pelo ataque, que também danificou as estruturas de seu escritório na região, mas descreve "projéteis de grande calibre", sugerindo os tipos de armas utilizadas por Israel e não pelo Hamas. O grupo ainda chamou o ataque de "grave incidente de segurança", um dos vários que sofreu nos últimos dias.

Mais tarde, o Ministério da Saúde no território controlado pelo Hamas culpou Israel pelo ataque. Os militares israelenses, por sua vez, afirmaram que sua análise inicial não mostrou "nenhuma indicação" de um bombardeio na região.

Rafah, que faz fronteira com o Egito, tem sido o ponto focal da campanha militar israelense desde o início de maio. Cerca de um milhão de pessoas deslocadas de outras partes de Gaza aglomeraram-se na cidade no início da guerra, em 7 de outubro. Quando a ofensiva terrestre de Israel começou na região, as Forças Armadas ordenaram que as pessoas se deslocassem para a área humanitária expandida em al-Mawasi, designada como uma "zona segura", enquanto intensificavam suas operações no sul do enclave.

O campo de al-Mawasi já estava lotado de deslocados antes que os civis em Rafah recebessem ordens para se mudar para lá. As Nações Unidas consideraram as instalações na área inadequadas para as centenas de milhares de habitantes de Gaza desalojados pela violência em Rafah e em toda a Faixa de Gaza.

'Catástrofe além da imaginação'

Enquanto isso, o Hezbollah, aliado do Hamas, baseado no Líbano, reivindicou uma série de ataques contra tropas israelenses e posições perto da fronteira na sexta-feira, incluindo dois usando drones. O Exército israelense disse ter realizado vários ataques de retaliação nos últimos dois dias.

Jatos israelenses atingiram na sexta-feira uma "estrutura militar do Hezbollah na área de Khiam, um posto militar do Hezbollah na área de Mais al-Jabal e uma infraestrutura terrorista do Hezbollah nas áreas de Taybeh e Tallouseh no sul do Líbano", disse o exército em um comunicado.

Analistas estão divididos quanto à perspectiva de uma guerra mais ampla, quase nove meses após o início da campanha de Israel para erradicar o Hamas na Faixa de Gaza.

Em meio à escalada de intercâmbios entre Israel e o Hezbollah, os militares de Israel disseram na terça-feira que os planos para uma ofensiva no Líbano foram "aprovados e validados".

O líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, disse que "nenhum lugar" em Israel "seria poupado de nossos foguetes" em uma guerra mais ampla, e também ameaçou o vizinho Chipre, membro da União Europeia.

Citando a "retórica belicosa" de ambos os lados, o chefe da ONU, António Guterres, alertou na sexta-feira que o risco de uma guerra total era real.

— Um movimento precipitado, um erro de cálculo, poderia desencadear uma catástrofe que vai muito além da fronteira e, francamente, além da imaginação — disse ele.

A violência na fronteira com o Líbano começou após o ataque de 7 de outubro ao sul de Israel por combatentes do Hamas vindos de Gaza. Esse ataque resultou na morte de 1.194 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em números oficiais. Eles também capturaram reféns, 116 dos quais permanecem em Gaza, embora o Exército de Israel afirme que 41 estão mortos.

A ofensiva retaliatória de Israel matou pelo menos 37.431 pessoas, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.

Meses de negociações para uma trégua e a libertação de reféns não conseguiram avançar, mas o mediador Catar insistiu na sexta-feira que ainda está trabalhando para "preencher a lacuna" entre Israel e o Hamas.