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China mudou nomes de aldeias para 'apagar' a cultura muçulmana em Xinjiang, afirma HRW

Organização de defesa dos direitos humanos afirma que termos com importância histórica para os uigures estão sendo abandonados; Pequim nega as acusações

Agência O Globo - 20/06/2024
China mudou nomes de aldeias para 'apagar' a cultura muçulmana em Xinjiang, afirma HRW

A China mudou os nomes de centenas de aldeias na região de Xinjiang, noroeste do país, para tentar apagar a cultura muçulmana uigur no país, ade acordo com denúncia da ONG Human Rights Watch (HRW). O relatório da organização mostrou que, entre 2009 e 2023, 630 nomes de localidades foram substituídos — palavras como "sultão" e "santuário", por exemplo, foram trocadas por termos como "harmonia" e "felicidade", segundo dados publicados pela própria China e citados pela HRW.

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Para produzir o relatório, pesquisadores da HRW e da organização norueguesa Uyghur Hjelp estudaram os nomes das aldeias em Xinjiang a partir do site do Escritório Nacional de Estatísticas da China durante o período de 14 anos, e descobriram que os nomes de 3.6 mil das 25 mil aldeias em Xinjiang foram alterados. Cerca dessas 630 mudanças removem referências à religião, cultura ou história local.

— As autoridades chinesas têm mudado centenas de nomes de aldeias em Xinjiang, daqueles ricos em significado para os uigures para aqueles que refletem a propaganda do governo — disse à BBC Maya Wang, diretora interina para a China da Human Rights Watch.

A lista de termos abandonados inclui "Hoja", um título que se refere a um professor religioso sufista, e títulos políticos, como "Sultão", foram substituídos por palavras que a HRW diz refletir "a ideologia recente do Partido Comunista Chinês", incluindo "harmonia" e "felicidade". A maior parte das mudanças ocorreu entre 2017 e 2019, aponta a HRW, mas as trocas de nomes continuam a acontecer.

Em comunicado à BBC, um porta-voz da embaixada chinesa em Londres negou as acusações, afirmando que “pessoas de todos os grupos étnicos gozam de liberdade de crença religiosa sob a lei", e que "as línguas e culturas dos uigures e de outras minorias étnicas são protegidas e promovidas". Segundo os dados oficiais, há cerca de 20 milhões de muçulmanos chineses, incluindo uigures e membros de outros grupos étnicos.

Pequim é acusada de aplicar uma reformulação da sociedade em Xinjiang, para assimilar a população uigur minoritária à cultura chinesa dominante. Organizações de defesa dos direitos humanos, incluindo a HRW, apontam para a existência de "centros de reeducação" na província, e um relatório da ONU, de 2022, disse que Pequim cometeu "sérias violações" dos direitos humanos, algo refutado pelas autoridades chinesas.

A acusação vem no momento em que aumenta o número de denúncias e relatos sobre a perseguição contra os uigures em Xinjiang. Segundo a HRW, a China continua a usar ameaça de "terrorismo violento, radicalização e separatismo" para justificar a detenção em massa da população muçulmana. No ano passado, um relatório da organização acusou o Estado chinês de fechar, destruir e remodelar mesquitas em um esforço para conter a prática do Islã na China.

A maioria dos muçulmanos uigures da China vive no noroeste do país, em áreas como Xinjiang, Qinghai, Gansu e Ningxia, e onde estão algumas fronteiras com países da Ásia Central, onde o islamismo é a religião principal. No entanto, nos últimos anos, observadores dizem ter testemunhado uma repressão aos muçulmanos em outras áreas do país. Pequim diz que as denúncias são falsas.