Internacional
James Cameron critica empresa do 'submarino do Titanic' e buscas de EUA e Canadá por vítimas
Guarda Costeira americana confirmou que os cinco tripulantes morreram em 'implosão catastrófica'
Um ano após a implosão do submersível Titan durante uma expedição aos destroços do Titanic, o cineasta James Cameron atribuiu a responsabilidade da tragédia à OceanGate e ao CEO da empresa, Stockton Rush. Para o diretor do filme mais famoso sobre o naufrágio do transatlântico, o empresário — uma das cinco pessoas que estavam a bordo da nave aquática, quando ela desapareceu — "quebrou regras" e arriscou "desnecessariamente" as vidas dos outros quatro passageiros.
Uma série de erros e condutas imprudentes anteciparam a tragédia do submersível Titan, da empresa OceanGate, que implodiu em uma viagem rumo aos destroços do Titanic. A expedição que levava cinco tripulantes faz um ano nesta terça-feira. Saiba mais abaixo sobre sete falhas envolvidas na operação do submarino.
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Após a confirmação da implosão, a OceanGate informou, por meio de um comunicado, que os passageiros do submersível com destino ao Titanic "tristemente se foram". "Esses homens eram verdadeiros exploradores que compartilhavam um distinto espírito de aventura e uma profunda paixão por explorar e proteger os oceanos do mundo. Nossos corações estão com essas cinco almas e todos os membros de suas famílias durante esse período trágico. Lamentamos a perda de vidas e a alegria que eles trouxeram para todos que conheciam", diz o texto.
Vejam os erros
1 - Janela suportava pressões de até 1,3 mil metros
Um ex-funcionário da OceanGate alertou para problemas de "controle de qualidade e segurança" do titan, em 2018. David Lochridge, então diretor de operações marítimas da empresa, apontou em um relatório que os passageiros do submersível correriam perigo conforme o veículo atingisse águas mais profundas por conta da pressão sobre a estrutura do veículo marinho.
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Lochridge afirmou que a janela de visualização do Titan tinha certificação para aguentar pressões de até 1,3 mil metros. A intenção da OceanGate era levar seus passageiros até o naufrágio do Titanic, cujos destroços estão situados a 3,8 mil metros de profundidade.
2 - Guiado por mensagens e fibra de carbono
Ao GLOBO, o oceanógrafo e militar americano Don Walsh, um dos principais nomes da exploração submarina, apontou que a fibra de carbono usada na confecção da estrutura do submarino pode ser a causa da implosão. "Em quase seis décadas de desenvolvimento de submarinos tripulados, apenas um submarino foi construído com esse material", disse ele.
O repórter David Pogue, da rede de televisão americana CBS News, participou da viagem exploratória ao Titanic com o submersível da OceanGate, no ano passado. Na reportagem, o jornalista mostra que a nave aquática não possui GPS e é guiada por mensagens de texto enviadas de um barco que fica na superfície da água.
3 - Controle de videogame
Com as coordenadas recebidas por mensagens de texto, o comandante do Titan - que é o CEO e fundador da OceanGate, Stockton Rush - pilota o submersível. Para isso, ele usa um equipamento adaptado.
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— Isso vai soar estranho para muitas pessoas, mas muito deste submersível é feito de peças improvisadas que estão prontas para uso. Por exemplo, você o pilota com um controle de videogame — disse Pogue.
Trata-se de um modelo adaptado do Logitech F710. O controle de videogame foi lançado em 2011 e, atualmente, pode ser encontrado em sites que vendem produtos de segunda mão, com preços a partir de R$ 175.
Na reportagem da CBS, o controle aparenta ter sido modificado, com botões alongados para facilitar o controle do submersível. O repórter então comenta:
— Parece que este submersível tem alguns elementos do MacGyver — diz.
— Não sei se usaria essa descrição — responde Rush.
4 - Carta com alerta de especialistas
A OceanGate ignorou o alerta feito por meio de uma carta assinada por 38 empresários, exploradores de águas profundas e oceanógrafos, em 2018. O documento foi enviado a Rush expressando "preocupação unânime" com a "abordagem 'experimental' adotada", que poderia acarretar "resultados negativos (de menores a catastróficos) com sérias consequências para todos".
A carta recomendava a realização de mais testes e enfatizava "os perigos potenciais para os passageiros do Titan quando o submersível atingir profundidades extremas".
A OceanGate se queixou, por meio de um texto não assinado em seu site, que o Titan era tão inovador que poderia levar anos para ser certificado conforme as normas usuais das agências de avaliação.
Rush também minimizou os protocolos de segurança, durante uma entrevista ao podcast do jornalista David Pogue. O CEO da OceanGate disse que havia um "limite" para a segurança.
— Você sabe, em algum momento, a segurança é apenas puro desperdício. Quero dizer, se você só quer estar seguro, não saia da cama, não entre no seu carro, não faça nada. Em algum momento, você vai correr algum risco, e é realmente uma questão de risco-recompensa — afirmou.
5 - Problemas técnicos em expedições anteriores
Pogue também testemunhou a ocorrência de problemas técnicos durante a expedição que participou, com a OceanGate, para visitar o Titanic. Na ocasião, o Titan ficou duas horas e trinta minutos sem comunicação, após submerso.
— Neste mergulho, as comunicações de alguma forma foram interrompidas. O submarino nunca encontrou os destroços — disse Pogue, na reportagem.
— Estávamos perdidos — comentou Shrenik Baldota, magnata da indústria indiana que também participou da expedição. — Ficamos perdidos por duas horas e meia — acrescentou.
6 - Lançado de águas internacionais
Um dos signatários da carta de 2018, o engenheiro mecânico e pesquisador Bart Kemper, que trabalha em projetos de submarinos, afirmou em uma entrevista que a OceanGate evitou ter que cumprir os regulamentos dos EUA.Para isso, a empresa levou o Titan para águas internacionais, onde as regras da Guarda Costeira americana não se aplicavam, segundo o jornal The New York Times.
7 - Embarcação experimental
Mais um trecho da reportagem de David Pogue viralizou na internet nesta semana, após o desaparecimento do Titan: o momento em que o jornalista assina um termo reconhecendo que o submersível era uma "embarcação experimental" que não havia sido "aprovada ou homologada por nenhum órgão regulador e [a viagem] poderia resultar em ferimentos, trauma emocional ou morte".
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