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Principais vítimas de rituais de sacrifício no império Maia eram meninos de até 6 anos, muitos da mesma família, revela estudo

Pesquisadores analisaram genoma de crânios de 64 crianças e bebês (de um total de 103) recuperados de uma câmara subterrânea em Chichén Itzá, México

Agência O Globo - 12/06/2024
Principais vítimas de rituais de sacrifício no império Maia eram meninos de até 6 anos, muitos da mesma família, revela estudo
Principais vítimas de rituais de sacrifício no império Maia eram meninos de até 6 anos, muitos da mesma família, revela estudo - Foto: Reprodução/internet

Um estudo divulgado nesta quarta-feira na revista Nature revelou que as crianças vítimas de sacrifícios durante auge do império Maia em Chichén Itzá, no coração da Península de Yucatán, no México, eram cuidadosamente selecionadas: todas eram meninos de 3 a 6 anos de idade, muitos deles parentes próximos, incluindo dois pares de gêmeos idênticos, mortos entre o século VII e meados do século XII.

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A descoberta veio da análise de pesquisadores do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, em Leipzig, Alemanha, do genoma de crânios de 64 crianças e bebês (de um total de 103) recuperados de uma câmara subterrânea no local, chamada chultún — que, na mitologia maia, era vista como uma entrada para a terra dos mortos —, a 60 metros de profundidade. Os esqueletos foram encontrados na década de 1960, durante uma escavação para a construção de uma pista de pouso para um aeroporto — trabalho que teve de ser interrompido posteriormente devido à descoberta.

A equipe primeiro usou o DNA para determinar o sexo das crianças como parte do sequenciamento de rotina. Os esqueletos daqueles com menos de uma certa idade não oferecem muitas informações sobre o sexo biológico, por isso esse aspecto das crianças era um mistério.

"As idades e dietas semelhantes das crianças do sexo masculino, a sua estreita relação genética e o fato de terem sido enterrados no mesmo local durante mais de 200 anos apontam para o chultún como um local de sepultamento pós-sacrificial, tendo os indivíduos sacrificados sido selecionados por um motivo específico", diz uma das autoras do estudo, a arqueóloga Oana Del Castillo-Chávez, do Instituto Nacional de Antropologia e História de Yucatán, em Mérida, no México.

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Não se sabe por que esses meninos foram escolhidos para o sacrifício, explica o imunogeneticista e autor do estudo, Rodrigo Barquera, do Instituto Max Planck. Mas, ele acrescenta, é possível que irmãos, ou parentes próximos, tenham sido selecionados para refletir as provações dos "Heróis Gêmeos", figuras-chave da cosmologia maia que passaram por ciclos de sacrifício e renascimento.

— Os rituais dos tempos antigos tendem a ser específicos — disse Barquera ao Live Science. — Este estudo indica que, para algumas cerimônias religiosas, era importante que apenas crianças do sexo masculino fossem selecionadas para o sacrifício.

Segundo o autor, não ficou completamente claro como foi a morte das crianças, embora não apresentassem sinais de trauma, sugerindo que não foram jogados na câmara. Uma das hipóteses é que todos tenham sido envenenados. O motivo dos sacrifícios também é incerto, mas é possível que tenham sido usados como apelo aos deuses pela produtividade das colheitas.

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— Morte e sacrifício para eles significam algo completamente diferente do que significam para nós. Para eles, foi uma grande honra fazer parte disso — disse Barquera.

Os primeiros arqueólogos que estudaram os maias sugeriam que a cultura tinha o costume de sacrificar jovens virgens. Essa teoria foi contestada nas últimas décadas com a descoberta de que a maioria das pessoas sacrificadas eram crianças.

— Isso obviamente contrariou o argumento de que a maioria era de mulheres jovens virgens sendo jogadas no local sagrado — disse ao New York Times Jamie Awe, arqueólogo da Universidade do Norte do Arizona, em Flagstaff, que não esteve envolvido no estudo. — A obsessão pelas virgens nos círculos arqueológicos surgiu provavelmente de uma combinação de ideias coloniais e dados limitados.