Política
Metade do crescimento dos partidos após 2020 ocorreu em estados com governadores eleitos; veja dados
PT tinha 182 prefeituras em 2020 e agora tem 257. Considerando apenas os quatro estados que o PT governa, saíram 72 novas filiações
A escolha de novos partidos por prefeitos eleitos em 2020 têm relação direta com a sigla dos governadores que assumiram seus cargos no ano passado, mostra levantamento do GLOBO com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral. Metade do crescimento das siglas se deu onde o partido havia eleito o chefe do executivo estadual em 2022. Quando considerados também os vice-governadores, o percentual sobe para 63%.
O União Brasil, que junto com o PT foi a sigla que mais elegeu governadores há dois anos, por exemplo, viu 67,5% do seu crescimento vir apenas dos quatro estados em venceu a eleição em 2022. O partido, ao todo, filiou 200 novos prefeitos. Entretanto, no saldo geral, tem 45 prefeituras a mais do que em 2024.
Isso acontece porque embora tenha arregimentado novos mandatários, ele também perdeu 155. Contudo, desses 200 novos prefeitos, 135 saíram apenas dos quatro estados governados pelo União.
Situação parecida aconteceu com o PT. O partido tinha 182 prefeituras em 2020 e agora tem 257, um saldo final de 75 prefeituras a mais. Considerando apenas os quatro estados que o PT governa, saíram 72 novas filiações.
Uma das exceções é o PSD, partido que mais cresceu no Brasil entre 2020 e 2024. Contudo, a explicação vem de um arranjo político ocorrido em São Paulo, onde o PSD saiu de 64 para 306 prefeituras.
O movimento foi feito pelo presidente do partido, Gilberto Kassab, secretário de governo de Tarcísio de Freitas e considerado seu principal articulador político. O partido também tem o vice-governador de São Paulo, Felício Ramuth.
Mesmo assim, o partido, que elegeu dois governadores em 2022, viu esses dois estados (Paraná e Sergipe) responderem por 96 novas filiações, um a cada cinco novo prefeito do partido. Ao considerar também estados onde a sigla tem o vice-governador, como é o caso de São Paulo, a proporção sobe para 77%, isto é, três a cada quatro novas filiações.
Cientista política e professor da Universidade Federal do Paraná, Emerson Cervi explica que esse fenômeno, repetido a cada eleição, é consequência direta da falta de autonomia orçamentária dos pequenos municípios, que compreendem a maioria das cidades no Brasil: 60% dos municípios brasileiros tem menos de 15 mil habitantes e dependem majoritariamente da transferência de recursos federais e estaduais para obras e custeio dos serviços.
— O prefeito depende muito do governador e os governadores, obviamente, exercem a sua força política para influenciar politicamente. Não apenas para seu partido, mas para aquelas siglas que o sustentam também porque eles têm mais presença. O deputado estadual é quem está lá. O governador tem uma influência maior, então o partido do governador tende a atrair os prefeitos — afirma o professor.
Mesmo o PL, partido de oposição e que elegeu dois governadores, viu um a cada três de seus prefeitos saírem desses dois estados: Santa Catarina e Rio de Janeiro. Foram 42 filiações, 12 delas no Rio, do governador Claudio Castro, e 30 em Santa Catarina, governada por Jorginho Mello.
Um dos partidos que mais sofreu com as mudanças foi o PSDB, mas a sua situação também só não foi pior por causa de três estados em que a sigla elegeu governadores: Mato grosso do Sul, Pernambuco e Rio Grande do Sul. Apesar de ter perdido 208 prefeitos em todo o Brasil, a situação seria ainda pior se não fossem esses três estados, que responderam por 97% das novas filiações: foram 42 novos prefeitos nesses estados.
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