Internacional
Militares de Israel deram informações e apoio a grupos que atacaram caminhões com ajuda humanitária para Gaza, diz jornal
Autoridades negam conluio, que foi confirmado por testemunhas de ataques e até pelos responsáveis por bloqueios, inclusive na Cisjordânia
Colonos israelenses na Cisjordânia e grupos de extrema direita estariam recebendo informações e apoio de militares em ataques contra caminhões que levam ajuda humanitária a Gaza, denunciou na terça-feira o jornal britânico Guardian, citando fontes de dentro das Forças Armadas e de pessoas ligadas aos incidentes. Desde o início da guerra, civis têm protestado contra a entrada de ajuda no enclave palestino, mas as ações estão se tornando cada vez mais violentas e frequentes, inclusive na Cisjordânia.
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Um dos citados pelo Guardian é o Tsav 9. Na semana passada, o grupo assumiu a autoria de um bloqueio de caminhões vindos da Jordânia nos arredores de Hebron, na Cisjordânia. Parte da carga, destinada a Gaza, foi jogada na estrada e danificada, e ao menos dois veículos foram incendiados — quatro pessoas foram presas, segundo o Times of Israel.
Em entrevista ao jornal, Rachel Touitou, porta-voz do Tsav 9, afirma que a carga destinada a Gaza “será confiscada pelo [grupo terrrorista] Hamas”, uma alegação que não foi confirmada nem pelas autoridades palestinas, tampouco por organizações responsáveis por distribuir a ajuda ou pelos EUA, aliados de Israel.
— Quando a missão de um policial ou de um soldado é supostamente proteger israelenses e, ao invés disso, ele receber a ordem de proteger os veículos de ajuda, mesmo sabendo que acabarão nas mãos do Hamas, não podemos culpá-los ou aos civis que vejam os caminhões por informar isso a grupos que vão bloquear a ajuda — disse Touitou ao Guardian, confirmando receber informação sobre os comboios diretamente dos militares.
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Apesar de liderar o bloqueio, ela negou que o Tzav 9 tenha participado da destruição da carga e dos caminhões, um ato condenado até pela Casa Branca. Em comunicado divulgado pela organização, Touitou chamou de “insanidade” a entrada de ajuda em Gaza, e prometeu “não deixar qualquer tipo de ajuda passar até que o último refém seja retornado”. Para ela, os caminhões com alimentos, medicamentos, água e insumos de outros tipos são “presentes” do governo de Israel ao Hamas.
— Nosso propósito é ressaltar que alimentar seu inimigo, neste caso específico o Hamas, e especialmente em um período de guerra, é imoral — disse Touitou. — Israel está entregando essa ajuda humanitária sem esperar nada em troca. E 80% da população estão conosco. O Hamas está revendendo essa ajuda aos civis, ao invés de distribuir de graça. E continuaremos bloqueando a ajuda até que possam provar que está chegando aos civis.
Recentemente, o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, um ferrenho defensor dos assentamentos judaicos na Cisjordânia, ilegais pela lei internacional, disse que o próprio governo deveria atuar nos bloqueios à ajuda. Ele também é favorável à construção de assentamentos em Gaza, após o fim da guerra no enclave.
Desde o início da guerra, agências de ajuda, governos e a ONU acusam Israel de não permitir a entrada de uma quantidade adequada de insumos no enclave palestino, contribuindo para a criação de uma grave crise humanitária — no começo do mês, o Programa Alimentar Mundial, ligado às Nações Unidas, afirmou que partes do território já enfrentam um cenário de fome. Um cenário que a ONU afirma ter sido agravado com o fechamento das passagens entre Gaza e Israel, após o início de operações militares em Rafah, no sul do território.
Nesta terça-feira, a UNRWA, a agência da ONU para os refugiados palestinos, suspendeu a distribuição de alimentos em Rafah, citando “questões de desabastecimento e insegurança”, e apontando que unidades de armazenamento de insumos estão “inacessíveis devido a operações militares israelenses”. O governo de Israel nega que esteja negando a entrada de ajuda em Gaza.
Os protestos contra a entrada de ajuda em Gaza ocorrem desde outubro do ano passado, mas como ressaltou o Guardian, e como também o fez há alguns dias o Haaretz, chama a atenção o grau de coordenação e proteção dos militares israelenses aos manifestantes, alguns deles colonos envolvidos em ataques contra palestinos na Cisjordânia.
— Existe uma cooperação plena entre os colonos e o Exército. Estamos chocados e surpresos que o Exército não tenha fornecido qualquer tipo de proteção — disse ao Guardian Yazid al-Zoubi, um dos motoristas atacados na semana passado. — Isso apesar de estarem presentes e vendo o que estava acontecendo. O Exército estava a serviço dos colonos.
Segundo as Forças Armadas, dois soldados se recusaram a proteger os veículos, e pelo menos uma delas foi sentenciada a 20 dias de prisão.
“A combatente foi condenada pelo crime de recusar a seguir uma ordem. Esse é um incidente que não está de acordo com o que é esperado de soldados das Forças Armadas no cumprimento de sua missão”, disse o Exército, em comunicado.
As alegações de conluio com os manifestantes foram negadas pelos representantes contatados pelo Guardian, e que as autoridades estavam atuando para prevenir incidentes de violência. Além dos ataques aos caminhões, incidentes violentos entre colonos e civis palestinos deram um salto após o ataque de 7 de outubro do ano passado. Além de condenações internacionais, governos como o dos EUA e do Reino Unido emitiram pacotes inéditos pacotes de sanções contra figuras públicas associadas à violência, medidas chamadas de “inapropriadas” e “altamente problemáticas” pelo premier Benjamin Netanyahu.
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