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Macacos morrem ao cair das árvores em meio a onda de calor no México

Dezenas destes animais morreram ao sul do território mexicano, que registra temperaturas extremas de quase 50 graus

Agência O Globo - 22/05/2024
Macacos morrem ao cair das árvores em meio a onda de calor no México
Macacos morrem ao cair das árvores em meio a onda de calor no México - Foto: Reprodução / internet

A onda de calor que assola o México nas últimas semanas coloca em risco a vida de macacos na cidade de Comalcalco, no estado de Tabasco, no sul do México. Os primatas de pelo preto, conhecidos popularmente como “bugios” (Alouatta palliata), estão sendo levados mortos ou em estado-crítico aos hospitais veterinários. Uma das principais suspeitas é de que eles estejam desmaiando e caindo das árvores devido à alta temperatura.

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— Quando chegaram aqui agoniados, estenderam as mãos que carregavam os macacos, como se estivessem pedindo ajuda — disse o zootecnista Víctor Morato, diretor de uma veterinária local, ao relembrar o desespero dos moradores com a situação.

Em seu consultório, Morato confessa que "ficou com um nó na garganta". De oito animais que passaram por lá nos últimos dias, quatro continuam hospitalizados, incluindo um que Morato chama carinhosamente de "Barnabé", o caso mais grave de todos, que mal consegue manter os olhos abertos. Os outros quatro já foram devolvidos ao seu habitat natural.

O profissional explica que vários macacos continuam em estado delicado, pois caem de árvores de 15 a 20 metros de altura ao desmaiarem. Segundo Mo4rato, vários deles chegaram à clínica com temperatura corporal de 43 graus Celsius.

— Estamos lutando para salvar aqueles que nos restam para podermos libertá-los, mas é importante conscientizarmos que eles são semelhantes a nós — pontua.

Quase 50 graus

O Ministério do Meio Ambiente está investigando a morte, sendo as altas temperaturas que assolam grande parte do país a causa provável. Além da insolação e da desidratação, o governo estuda outras hipóteses como a desnutrição ou o uso de pesticidas nas plantações. As mortes já se espalharam para o estado de Chiapas, também ao sul.

Os bugios são quase imperceptíveis entre a densa folhagem da selva de Comalcalco. Por isso, o grito característico de um deles dá alívio ao estudante de biologia Leonardo Sánchez, de 22 anos, um dos voluntários que reúne água e frutas para ajudar os animais em uma fazenda produtora de cacau. Acima dele, pelo menos cinco dos animais permanecem no alto das árvores enquanto o termômetro marca bem perto de 40 °C.

— Devido ao aumento das temperaturas, tivemos inúmeras mortes [de macacos] no município — relata Sánchez à AFP.

Pelo menos dois grupos de bugios vivem na fazenda de cacau, entre os quais foram registradas quatro mortes. Perto de Sánchez, um grupo de voluntários carrega latas de água para refrescar os animais, e outros levam cal para enterrar os falecidos. Outros colaboradores acumularam vários quilos de manga para alimentá-los.

Para o futuro biólogo, o aumento de temperatura na região tem sido "desproporcional". O próprio presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, que é natural de Tabasco, reconheceu nesta segunda-feira que nunca tinha experimentado tanto calor na sua terra.

Cova cheia

Bersabeth Ricardez, outra voluntária que coordena a ajuda aos animais, também aqueles que desmatam para a agricultura e jogam lixo na rua pelas mortes dos macacos:

— Neste momento são os macacos, amanhã seremos nós — avisa ela, em outra área de Comalcalco.

Perto dali, o voo de um abutre antecipa algo que Bersabeth até pouco tempo não acreditava ser possível. Em uma pequena cova, os moradores enterraram vários animais mortos. A área está cheia de moscas pairando perto do pelo de um dos macacos. O cheiro se torna enjoativo.

— É algo muito triste. Eles tinham cerca de 30 macacos mortos na cova. São apenas macacos adultos — lamenta Bersabeth.

As altas temperaturas causaram recordes de calor no México. A cidade de Gallinas, em San Luis Potosí, registrou 49,6 °C em 10 de maio. A onda de calor também fez com que os níveis de várias barragens no país fossem reduzidos e grupos pecuários relatassem a morte de centenas de animais.

Apesar da dificuldade de ajudar os bugios, os voluntários de Tabasco não desistem. Nas árvores ao seu redor, colocam água e frutas para que os macacos possam se refrescar e se alimentar, sem nenhuma certeza clara de quando as chuvas voltarão.