Geral

O melhor conselho sexual também pode ser o mais difícil de seguir

Para um sexo bom, casais devem estar dispostos a falar sobre isso, dizem especialistas

Agência O Globo - 21/05/2024
O melhor conselho sexual também pode ser o mais difícil de seguir

Como repórter que cobre sexo e sexualidade, passo muito tempo ouvindo especialistas exaltarem as virtudes da comunicação aberta e honesta. Para ter um sexo bom — e continuar tendo ao longo do tempo — os casais devem estar dispostos a conversar sobre o assunto, dizem eles.

Disfunção erétil: ímãs podem ser opção de tratamento, sugere estudo

Problemas para dormir? Médico compartilha um jogo cerebral simples que ajuda a pegar no sono

No entanto, algumas pessoas preferem terminar seus relacionamentos a ter essas conversas, disse Jeffrey Chernin, terapeuta de casamento e família e autor de “Achieving Intimacy: How to Have a Loving Relationship That Lasts” (Alcançando a intimidade: como ter um relacionamento que dura) — especialmente se as coisas no quarto não estiverem indo muito bem.

— Uma das coisas que costumo dizer aos casais que estão tendo problemas é: "Gostaria que houvesse outra maneira de resolver isso" — lamentou. — Mas a única maneira que conheço de ter uma vida sexual melhor, ou de retomar sua vida sexual, é discutir o assunto.

Chernin reconheceu o quanto essas conversas podem ser estressantes, às vezes se transformando em acusações, depreciação ou isolamento. Considerando isso, essas sugestões podem ajudar.

Abrace o desconforto

É comum que os parceiros tenham dificuldade em falar sobre intimidade e desejo. Pesquisas sugerem que, mesmo em relacionamentos de longo prazo, as pessoas sabem apenas cerca de 60% do que seu parceiro gosta sexualmente e apenas 25% do que não gosta.

Cyndi Darnell, terapeuta sexual e de relacionamentos na cidade de Nova York, disse que seus pacientes frequentemente lhe dizem que falar sobre sexo é “estranho” — o que é ainda mais verdadeiro “se você passou meses ou anos evitando isso”, disse ela.

Entenda: Microplásticos encontrados em testículos humanos (e podem estar afetando o esperma)

— Fomos levados a acreditar que o sexo é natural — acrescentou. — Porém, se fosse fácil e natural, as pessoas não teriam tanta dificuldade como têm.

Ela mencionou um casal com quem trabalhou, ambos na casa dos 50 anos, que não faziam sexo há anos. Sempre que falavam sobre isso, brigavam. Então, eles procuraram ajuda externa para superar a vergonha e a raiva.

Na terapia, eles perceberam que haviam se concentrado apenas na penetração, mas o marido estava realmente desejando proximidade e ternura. E quando a mulher percebeu que o marido não iria “para cima" sempre que ela se aconchegasse com ele, eles puderam ser mais sensuais e íntimos um com o outro — e conversar sobre o que gostavam de fazer e por quê, afirmou Darnell. Mas isso exigiu disposição, curiosidade e aceitação.

Novo estudo: Maconha de 'alta potência’ dobra o risco de psicose entre jovens, revela novo estudo

Morte ao “Precisamos conversar”

Pode ser possível amenizar a angústia que geralmente acompanha essas conversas, se elas forem abordadas com sensibilidade. — Quando um parceiro diz: "Precisamos conversar", a outra pessoa se sente como se estivesse indo para a sala do diretor — argumentou Chernin.

Veja algumas alternativas à esta temida frase.

Concentrar-se em resolver os problemas juntos

O terapeuta explica e cita alguns exemplos de frases que serão mais construtivas na discussão. “[Você pode falar algo como] Por um lado, sei que é muito difícil falar sobre isso”, citou Chernin. “Por outro lado, acho que é importante para o nosso casamento ou para o nosso relacionamento podermos ter algumas discussões sobre nossa vida sexual”, completou.

Em seguida, pergunte: “O que podemos fazer a respeito?”

Exercícios: Quanto tempo leva para desenvolver (e perder) músculos? Quais são os erros mais comuns que cometemos?

Prepare perguntas com antecedência

Um roteiro oferece apoio, explicou Darnell. Ela propôs sugestões como: “Nosso relacionamento é muito importante para mim, e eu gostaria que o sexo fizesse parte dele (novamente). Gostaria de saber se isso é algo que você também gostaria de fazer?”

Traga aspectos positivos

Maggie Bennett-Brown, pesquisadora do Kinsey Institute e professora assistente da Texas Tech University, nos Estados Unidos, disse que “não precisa ser explícito”. Talvez seja o caso de dizer ao parceiro que gosta quando ele lhe abraça ou planeja uma noite romântica na cidade.

Se já faz algum tempo que não há intimidade entre o casal, pode ser útil relembrar das últimas vezes — e isso pode levar a uma pergunta mais profunda. — Se as pessoas nunca tiveram uma conversa sobre: "O que você gosta?", esse é um bom primeiro passo — comentou Bennett-Brown.

Veja vídeo: Eletrodos dão a tetraplégicos capacidade de mover as mãos em novo estudo

Tenha cuidado com seu tempo

Seja cauteloso ao iniciar uma discussão sobre sexo enquanto estiver na cama, principalmente se você estiver sendo crítico. Apesar disso, alguns casais acham mais fácil falar sobre sexo quando estão se recuperando do prazer, ressaltou.

— Pense em uma conversa como uma série de discussões — aconselha Chernin. — Dessa forma, você não estará colocando muita pressão sobre si mesmo ou sobre seu parceiro.

Saiba quando conversar com um profissional

Se seu parceiro não estiver disposto a conversar — ou se a conversa for dolorosa, não apenas desconfortável — um terapeuta sexual ou conselheiro de casais poderá ajudar a mediar a situação, de acordo com Darnell. Ela não minimizou o fato de que essas conversas podem ser de alto risco. Contudo, observou que o sexo pode nem sempre ser um componente necessário de um relacionamento romântico satisfatório.

Alzheimer: pacientes relatam melhora dos sintomas com mudanças no estilo de vida, em novo documentário

— Uma das perguntas que faço com frequência aos meus casais para os quais o sexo é uma questão tênue e difícil é: Esse relacionamento precisa ser sexual? — afirma a especialista.

Ela trabalhou com um casal na faixa dos 30 e 40 anos que percebeu que gostava de flertar, mas não queria ir além disso.

— A permissão para não fazer sexo nessa fase do relacionamento foi enorme e um alívio. O sexo é muito mais do que apenas o que fazemos quando estamos sem as calças — observa Darnell.