Economia

‘Estamos em luz amarela’: representante do setor diz que calamidade no RS pode impactar indústria automotiva

Produção de veículos cresceu 13,5% entre abril e março, mas fornecedores suspenderam operações devido às chuvas e há problemas com escoamento em estradas e aeroportos

Agência O Globo - 08/05/2024
‘Estamos em luz amarela’: representante do setor diz que calamidade no RS pode impactar indústria automotiva
‘Estamos em luz amarela’: representante do setor diz que calamidade no RS pode impactar indústria automotiva - Foto: Reprodução / internet

A produção nacional de veículos automotores cresceu 13,5% entre abril e março, mostram dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Na comparação com abril do ano passado, a alta é mais expressiva, de 24,2%. No acumulado no primeiro quadrimestre de 2024, a produção expandiu 6,3%, tendo como base o mesmo intervalo de 2023. Apesar dos números positivos, o presidente da entidade, Márcio de Lima Leite, afirma que o cenário para o setor pode se agravar nos próximos meses, já que fabricantes de autopeças paralisaram as atividades no Rio Grande do Sul devido às enchentes no estado.

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— Por enquanto, estamos com a luz amarela. Há uma tendência de crescimento no mercado, em linha com as simulações que vínhamos fazendo, de (crescimento) entre 6% e 7% no ano, mas algumas situações acenderam alerta. O que está acontecendo no Rio Grande do Sul pode impactar as empresas. Alguns fabricantes estão trabalhando com estoques, e manifestaram preocupação com fornecedores que suspenderam operações — avaliou Leite em conversa com jornalistas nesta quarta-feira.

O presidente da Anfavea mencionou desafios no escoamento da produção, porque o Rio Grande do Sul é fundamental para o envio de mercadorias ao exterior, enquanto também funciona como porta de entrada. Outro problema para as montadoras é a greve dos servidores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que demandam melhorias salariais.

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Embora esses trabalhadores não tenham interrompido o trabalho completamente, eles atrasaram as análises de licenciamento ambiental, exigência para todos os carros importados que chegam ao Brasil. Segundo Leite, 45 mil veículos aguardam liberação nos portos.

— Os problemas são de toda ordem. Além da greve, em função das chuvas e da calamidade, há problemas nas estradas e no transporte nos aeroportos. As concessionárias atingidas ainda não podem operar. Três das nossas fabricantes estão com operações suspensas.

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O presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), Claudio Saad, disse que grande parcela da indústria instalada em Porto Alegre foi paralisada. Na cidade de Gravataí, os danos foram menores e causaram pouco impacto. As empresas de Caxias do Sul sequer foram afetadas.

— Não deve faltar componentes. Acredito que o setor de autopeças vai conseguir suprir as montadoras, mas precisamos ver como será o escoamento disso — comentou.

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Ele estima que o Rio Grande do Sul esteja entre os cinco maiores fabricantes de autopeças no Brasil, atrás apenas de São Paulo, Paraná e Minas Gerais. No ano passado, a indústria gaúcha representou 12% do faturamento e 11% das exportações do setor. Além disso, o estado responde por 5% do mercado de emplacamentos, com 38 mil veículos no último mês.

Imposto seletivo

Leite também comentou sobre a inclusão de automóveis poluentes na lista do chamado “imposto do pecado”, mecanismo de cobrança adicional previsto na regulamentação da Reforma Tributária para produtos que causam danos ao meio ambiente e à saúde.

— Estamos querendo entender e contribuir da melhor forma, porque o imposto seletivo não faz sentido para a nossa indústria. Precisamos renovar a frota, já que a maior parte das nossas emissões não está na produção. É uma frota antiga. Esse é um passo atrás — disse.

Resultados

No mês passado, foram produzidos 222,1 mil veículos, contra 195,8 mil em março. No acumulado de janeiro a abril, foram 760,1 mil automóveis montados, contra 714,9 mil no mesmo período de 2023.

Em abril, foram licenciadas 220,8 mil unidades, aumento de 17,6% em relação a março. De janeiro a abril deste ano, foram licenciados 735,4 mil veículos, entre leves, médios e pesados (incluindo ônibus e caminhões), alta de 16,3 % em relação ao mesmo período de 2022.

As exportações de veículos brasileiros, por outro lado, recuaram em abril: foram 27,3 mil unidades, contra 34 mil em abril de 2023 e 32,7 mil em março deste ano. Mesmo na comparação considerando os quatro primeiros meses do ano, há queda de 16,4% (de 148,2 mil em 2023 para 109,6 mil em 2024).

O licenciamento de novos veículos importados, por outro lado, cresceu, apesar da greve dos servidores do Ibama, passando de 88,1 mil de janeiro a abril de 2023 para 126,4 mil no mesmo período de 2024.