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"Pessoas-ilha", versus "pessoa-istmo"

Rostand Lanverly 06/05/2024
'Pessoas-ilha', versus  'pessoa-istmo'
Rostand Lanverly - Foto: Arquivo/Facebook

Recordo de, ainda muito jovem, haver sido aluno da inesquecível dona Heloisa, professora de baixa estatura, sobrepeso travando os passos, viciada em vestidos de desenhos florais cobrindo-lhe os braços até os cotovelos e se estendendo até o meio das pernas. Possuía um automóvel Renault Gordini ano 1966 cor cinza, impecavelmente limpo e se agigantava em sala de aula, ao ensinar para a turma todos os detalhes geográficos existentes no Brasil, desde o Oiapoque ao Chuí e da Ponta de Seixas até o Monte Caburaí.

Sempre lembrarei a explicação da adorável mestra esclarecendo, para minha turma a diferença entre uma ilha e um istmo. Enquanto a primeira formação, dizia, era cercada de água por todos os lados a outra, apesar de também encontrar-se no meio de oceanos, rios ou mares se caracterizava por servir como ligação entre grandes extensões de terra. Inesquecível foi, ao final daquela aula, quando a docente, ainda segurando um giz, falou em tom alto e firme: “na vida, meus queridos alunos, busquem sempre assemelhar-se aos istmos. Eles agregam e aproximam pessoas, influenciando o desenvolvimento e a felicidade, ao invés de optarem pelas características das ilhas. Estas não somente os isolam, como desenvolvem em seus corações a tristeza e a solidão”.

Os tempos passaram, mas as palavras de dona Heloisa continuam, cada dia, mais vivas em minha mente, dando-me condições para enxergar que, apesar de cada ser vivente encontrar-se sempre ilhado por pessoas, mistérios, coisas, dúvidas e certezas, alguns conseguem, com muito esforço, conectar-se a seus semelhantes, ouvindo-os falar, compreendendo-os ao escutar, valorizando a experiência do próximo, e, sobretudo, aplaudindo pequenas ocorrências, para alguns gigantescas.

Não tenho dúvidas: Uma “pessoa ilha” equipara-se ao egocêntrico, que além de deixar de olhar para os lados, pouco se importa com o sentimento dos outros. O “cidadão istmo” sempre será um altruísta, percorrendo caminhos que não somente aglutinam, mas sempre buscam atingir a iluminação, parceira fiel da felicidade...