Política

A aliados, Tarcísio fez mea-culpa após dizer que não estava 'nem aí' para excessos da polícia em SP: 'Perdi a cabeça'

Governador demonstrou incômodo após ONGs levarem queixa a conselho da ONU sobre operação na Baixada Santista. Nos bastidores, no entanto, descreveu a ação da PM como 'horrorosa'

Agência O Globo - 02/05/2024
A aliados, Tarcísio fez mea-culpa após dizer que não estava 'nem aí' para excessos da polícia em SP: 'Perdi a cabeça'

Alvo de uma denúncia no Conselho de Direitos Humanos da ONU contra a letalidade das ações policiais na Baixada Santista, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), admitiu a aliados que "errou" ao dar uma declaração afirmando que não estava "nem aí" para o caso. Ao ser questionado pela imprensa sobre as mortes, o governador subiu o tom com uma declaração mais agressiva.

Persona: Tarcísio de Freitas, um bolsonarista equilibrista entre radicais e as instituições

A Operação Verão, na Baixada Santista, que teve início em dezembro do ano passado para combater o PCC na retomada de territórios dominados pelo crime organizado, virou a grande pedra no sapato do governo estadual, instado a dar explicações diárias à imprensa sobre denúncias de abuso policial. A ação é a segunda mais letal da PM paulista desde o massacre do Carandiru, que deixou 111 mortos em 1992. A Secretaria de Segurança Pública do Estado informa que 56 pessoas morreram, mas dados do Ministério Público revelam, porém, que o número é de 77 mortes por policiais em serviço. Há relatos de moradores detalhando tortura, execuções sumárias, violações de direitos humanos e fraudes processuais.

Em março, ONGs levaram uma queixa formal ao Conselho de Direitos Humanos da ONU pelas denúncias, o que provocou a reação mais agressiva de Tarcísio.

— A gente está fazendo o que é correto, não tem bandido na polícia, e quando tem excesso, esse excesso vai ser punido exemplarmente, porque nós não vamos tolerar o desvio de conduta, o excesso, a indisciplina, tudo a gente vai investigar. Mas tem uma turma profissional que está dando o máximo, dando a vida para nos proteger (...) Sinceramente, temos muita tranquilidade sobre o que está sendo feito, então o pessoal pode ir na ONU, na Liga da Justiça, no raio que o parta, que eu não tô nem aí — declarou Tarcísio no Palácio dos Bandeirantes.

O governador avalia que há uma “romantização” por parte da imprensa e da população sobre o enfrentamento ao crime organizado. Chega a dizer que bandidos, muitas vezes, ganham o rótulo de “preto, pobre e trabalhador” apenas depois de serem mortos.

Em conversas reservadas, contudo, Tarcísio faz um mea-culpa. Admite que errou ao afirmar que não estava “nem aí”. Pressionado, também tem tentado mostrar que não é omisso aos abusos cometidos pela polícia, que ele costuma classificar como “erros de procedimento” que tiram a razão da corporação. Neste mês, condenou publicamente a ação do PM que agrediu uma mulher no metrô, em São Paulo, e o afastou. Também determinou o afastamento de policiais que agrediram um cadeirante em uma operação no início de abril, em Piracicaba (SP). O governador não verbalizou em público sua irritação, mas, nos bastidores, descreveu a ação policial como “horrorosa”: "A gente escorrega, eu escorrego. Naquela fala, perdi a paciência, perdi a cabeça", disse Tarcísio para um aliado.

Embora a última pesquisa Quaest do início do mês tenha trazido boas notícias para Tarcísio (62% de aprovação contra 29% de desaprovação), os números por área de atuação revelam que não há apenas pontos fortes na sua administração. Entre sete áreas de atuação avaliadas, a segurança pública, tão marcada pela matança na Baixada Santista, fica na penúltima posição com 33% de menções positivas, 36% regulares e 31% negativas. Apenas a saúde, espécie de Geni de qualquer gestão pública no país, foi pior analisada pelos eleitores (32% favoráveis).

*(Leia o perfil completo do governador de São Paulo aqui).