Economia

Semana de 4 dias: primeiros testes no Brasil indicam aumento da produtividade e redução no estresse, diz estudo

71% dos funcionários, no entanto, aceitaria voltar a trabalhar 5 dias por um salário maior; pesquisa, feita por ONGs que advogam pela causa, acompanhou 21 empresas no país

Agência O Globo - 30/04/2024
Semana de 4 dias: primeiros testes no Brasil indicam aumento da produtividade e redução no estresse, diz estudo
Primeiros testes no Brasil indicam aumento da produtividade e redução no estresse, diz estudo - Foto: Reprodução / internet

Assim como em outros lugares do mundo, o experimento da semana de trabalho de 4 dias tem apresentado bons resultados em empresas brasileiras, de acordo com um estudo feito por duas ONGs que advogam pela causa da redução da jornada. Segundo os funcionários das 21 companhias que participam dos testes, três meses após a mudança, houve melhora na execução de projetos (61,5%), na capacidade de cumprir prazos (44,4%), na criatividade e inovação (58,5%) e no potencial de angariar clientes (33,3%).

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Os testes são conduzidos pela organização sem fins lucrativos 4 Day Week, que coordena experimentos sobre o tema em outros países, e a brasileira Reconnect Happiness at Work. Os primeiros resultados, divulgados nesta terça-feira, foram computados em parceria com a Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV EAESP) e a universidade americana Boston College, que elaborou a metodologia.

O modelo implementado nas empresas participantes seguiu o formato 100-80-100: manteve-se 100% do salário, a jornada caiu para 80% do tempo e, em tese, atinge-se 100% da produtividade anterior.

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A ampla maioria dos trabalhadores diz estar com mais energia para realizar suas tarefas (82,4%). Além disso, um percentual elevado dos entrevistados apontou redução no estresse (62,7%), na ansiedade (67%) e na insônia (50%). Eles dizem estar menos exaustos por conta do trabalho e com mais tempo para dedicar aos amigos e familiares.

Ainda assim, 36,8% dos entrevistados dizem que receber um aumento salarial superior a 50% seria suficiente para que retornassem a trabalhar cinco dias na semana. Ao mesmo tempo, 28,6% afirmam que não mudariam para empregos com uma semana de cinco dias de modo algum, mesmo para ganhar um salário maior — ou seja, 71,4% topariam voltar ao esquema antigo por algum tipo de aumento.

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Outros 23,3% dos entrevistados retomariam o modelo anterior, com aumentos entre 26% e 50%; 7% dos colaboradores voltariam a trabalhar cinco dias na semana se tivessem aumentos salariais de 21% a 25%; e, por fim, 4,3% retomariam com aumentos de 0 a 20%.

Reuniões objetivas

A pesquisa divulgada hoje aponta que houve melhorias na comunicação entre os setores e que as reuniões se tornaram mais objetivas. O desempenho das empresas também melhorou, na esteira do aumento na produtividade e da capacidade de entrega de projetos.

Renata Rivetti, diretora da Reconnect Happiness At Work, diz que a adoção da semana de 4 dias de trabalho responde a mudanças recentes na dinâmica de trabalho.

— Há muitas empresas que ainda se sentem desorientadas sobre o modelo de trabalho, se retornam ao presencial, se permanecem no híbrido, se a produtividade é resultado de mais horas trabalhadas. Com o resultado desta pesquisa, acredito que terão um olhar mais focado no que realmente importa dentro do cenário corporativo — afirma Renata.

O experimento

O experimento está na metade do cronograma, que começou em janeiro e termina em junho. Antes disso, as empresas passaram por etapas de cadastramento, planejamento e entrevistas.

Os dados da pesquisa foram recolhidos em dezembro de 2023, antes da implementação da jornada reduzida, e abril, quando o modelo já havia sido colocado em prática.

Os testes começaram com 22 empresas brasileiras e aproximadamente 280 colaboradores, mas uma das companhias desistiu depois de um mês.

A maioria das participantes trabalha em modelo presencial (40,2%), seguidas por empresas remotas (34,4%) e híbridas (25,4%). A grande maioria das companhias escolheu oferecer folgas nas sextas (60,2%). Outras oferecem o dia extra na segunda (22,1%) e na quarta (12,2%).

A pesquisa mostra também que, apesar dos bons resultados, existem desafios inerentes à implementação da semana de 4 dias, especialmente em relação à gestão de prazos e ao equilíbrio entre demandas internas e externas.

Alguns colaboradores enfrentam dificuldades iniciais para se adaptar ao novo modelo de trabalho, diz o documento, embora a maioria tenha conseguido otimizar as tarefas com o passar do tempo

Conheça algumas das empresas participantes:

Editora MOL

Smart Duo

T4S - Thanks for Sharing Comunicação

GR ASSESSORIA CONTABIL

Brasil dos Parafusos

Abaeterno

Plonge

Haze Shift Consultoria

Oxygen Experiências, Capacitação e Conteúdo em Inovação

Alimentare Nutrição e Serviços

PiU Comunica

Innuvem

Inspira

Clementino e Teixeira Advocacia

Hospital Indianópolis

Em matéria recente publicada no GLOBO, especialistas em recursos humanos apontam alguns problemas para a adoção da semana de 4 dias em larga escala.

Algumas empresas, por exemplo, adotam a semana de 4 dias apenas para alguns setores, como finanças e recursos humanos, onde a implementação seria mais fácil, deixando os trabalhadores operacionais no regime regular.

Além disso, em países emergentes como o Brasil, ter um dia a menos de trabalho para reduzir o estresse não funciona para muitos trabalhadores, que usam o tempo extra para fazer “bicos”.