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Filho de Anderson Leonardo fala do pedido do pai para continuar legado: 'minha primeira memória é no estúdio'

Leozinho Bradock, um dos cinco filhos do cantor do Molejo, falou sobre a relação do artista com a família e o contato com a música desde criança

Agência O Globo - 28/04/2024
Filho de Anderson Leonardo fala do pedido do pai para continuar legado: 'minha primeira memória é no estúdio'
Foto: Reprodução/internet

Desde o início do velório do cantor Anderson Leonardo, do Molejo, neste domingo, fãs lembram da carreira do músico com hits e coregrafias. Seguir com o legado deixado após mais de 30 anos de carreira foi um pedido feito pelo cantor ao filho Leozinho Bradock, também músico, contou o rapaz no início desta tarde. O multi-instrumentista falou da primeira lembrança, quando tinha 5 anos, e já acompanhava o pai no estúdio de gravações. O contato com instrumentos e a curiosidade eram estimuladas por Anderson.

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— Fico emocionado porque a minha primeira memória é no estúdio. Assim, as pessoas, uma criança, como eu posso dizer, dentro de um padrão normal, ela tem uma infância de jogar bola de gude, de soltar pipa, né? Eu cresci, nasci no estúdio e o que me vem nesse momento é ele, como eu posto muito, ele me tirando de todos os instrumentos. (Em que dizia) "Para com isso, cara, sai, para de fazer barulho, tá bagunçando a gravação, vai demorar a base por sua causa. Pô, cara, a gravadora tá cobrindo, não pode". Então, pra mim, a lembrança que vem é o meu início, porque o Bradock iniciou aos 5 anos de idade, né? O meu primeiro disco gravado como músico foi com 5 anos de idade.

Leozinho Bradock é cantor e multi-instrumentista e, atualmente, mestre de bateria da Lins Imperial, escola de samba da série Bronze do Rio de Janeiro.

— Então, assim, hoje, eu sou um cara que, na minha família, para os meus irmãos, eu sou um cara que segue o legado, eu sou um cara que é premiado, né, que tem Grammy, que pôde gravar com o Sérgio Mendes, que pôde viajar ao mundo, passar por aí com a música e com o legado que ele me deixou, então, assim, a lembrança que me vem à mente, literalmente, é agora ele me ensinando tudo aquilo. Tudo o que eu pedia para o meu pai me ensinar, ele sempre falava assim: "você já sabe". Então isso é muito, isso é muito marcante pra mim, porque a última coisa que meu pai me falou foi que tenho que seguir com tudo, então, se ele falou com tudo, é com tudo, porque sou uma pessoa intensa demais. Meu pai era uma pessoa muito alegre, muito simpática. Eu sou uma pessoa muito intensa, então, essa minha intensidade hoje, ela é totalmente voltada ao legado dele — completou.

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A alegria de Anderson e as memórias de sempre ver o pai rodeado de amigos foi lembrada por Bradock.

— A gente sempre esteve muito junto, profissionalmente. Até porque todo mundo sabe que por ele ser o fenômeno que é, a gente não tinha muita brecha de estar assim, só em família, sempre tinha mais um. O meu pai era como o coração de mãe, era aquela coisa com um coração tão grande que sempre tinha mais um. E o meu pai me deixou de presente essa vontade, muita vontade, essa gana de mostrar a competência em tudo, de modo geral. Então hoje a gente tá aqui de peito aberto e coração aberto pra poder honrar esse legado que ele pode nos deixar musical, espiritual, e é isso aí.

O contato com a música vem de gerações. Pai de Anderson e avô de Leozinho, o produtor musical Bira Haway idealizou e formou o Molejo no fim dos anos 1980. Bira também produziria, mais tarde, grupos como Revelação, Exaltasamba e Pixote. Neste domingo, em cadeira de rodas e visivelmente abalado, ele acompanhava o velório do filho.

— A gente está muito baqueado. Não é fácil. É uma perda muito grande. Um dos maiores artistas do país partiu, mas deixou um bom legado. Vamos agora agilizar para lançar o projeto "Paparico do Molejo", para que não caia no esquecimento.

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O trabalho foi gravado no início do ano passado, enquanto Anderson estava em tratamento contra o câncer. Ao menos 13 artistas participam com releituras e músicas inéditas.

— O Anderson sempre será um artista muito virtuoso. Ele teve a ideia de fazermos esse trabalho, parece que já estava se preparando — diz o pai do cantor.

Bradock falou do pedido do pai sobre seguir com seu legado:

— O meu pai sempre falou pra mim, continua e tal, mas só que dessa vez ele falou que eu tinha que seguir com o legado dele e de tudo. Então, hoje eu estou aqui pra poder seguir com esse legado de tudo, estou aqui pra poder, de fato, seguir com o que ele me ensinou na carreira.

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'Nunca vi um cara partir sorrindo'

Emocionado ao falar sobre a morte do pai, Bradock contou como foi o momento de despedida. Anderson morreu na última sexta-feira em um hospital na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, onde estava internado na UTI em acompanhamento ao câncer que combatia desde 2022.

— Tive a chance de me despedir dele, sim. Foi uma despedida muito dolorosa. Foi algo onde, de fato, eu sou ser humano como qualquer outro ser humano. Nós todos somos cá e nós estamos em um lugar que na minha vida é muito indesejado. Eu não queria estar aqui nesse momento, mas nesse momento, nesse lugar aqui é o fim do nosso ciclo. Então o meu pai fez uma passagem muito empática, ele estava muito em paz, estava muito tranquilo. E estar perto dele nesse momento, ser filho dele nesse momento, principalmente naquela hora ali, foi pra mim algo surreal, surreal. Porque eu nunca vi um cara partir sorrindo. E o cara partiu sorrindo, assim, eu pude ver isso de perto e tô aqui, tô aqui com a minha cabeça erguida.

Fãs fazem homenagens

O velório do cantor Anderson Leonardo é realizado no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, Zona Oeste do Rio, desde as 11h deste domingo (28). O artista morreu nesta sexta-feira (26), aos 51 anos, por consequência de um câncer na região inguinal.

Apesar do sol forte e das altas temperaturas, antes do início do velório, uma fila já se formava do lado de fora da capela, com pessoas prestando homenagens e cantando músicas do grupo. Algumas até imitavam coreografias.

Entre os fãs que puxavam o coro e as palmas estava Rosane Brito Gomes, de 57 anos, moradora de Pedra de Guaratiba, também na Zona Oeste da cidade, para acompanhar o velório.

— O Anderson é meu amor. Eu conhecia os meninos da banda, já até me botaram no palco. Eu sou fã desde que eles eram pequenos, nos anos 90, quando eu frequentava os bailes e as rodas de samba — conta a carioca. — Ele iria querer música e alegria nesse momento. Agora ele está no andar de cima cantando e tocando o cavaquinho dele.

O fã Reginaldo Reis, de 61 anos, que acompanhou o grupo Molejo desde o início da carreira, trouxe flores para a despedida do ídolo.

— É um domingo triste, uma despedida dura. Mas vamos seguir vivendo, sem solidão — afirmou.

Um dos grupos mais famosos e irreverentes do pagode dos anos 1990, o Molejo estourou grandes hits em todo o país, como "Cilada", "Caçamba", "Brincadeira de Criança", "Dança da Vassoura", "Paparico" e "Clínica Geral".

Como é o câncer inguinal?

Desde o fim de 2022, quando descobriu um câncer inguinal (na região da virilha), Anderson Leonardo vinha se submetendo a um tratamento para controlar o avanço da doença e aplacar as dores decorrentes dela. Tipo raro de tumor, este câncer está associado a inflamações prolongadas e pode estar ligado à infecção pelo papilomavírus humano (HPV). É mais comum em homens acima dos 50 anos de idade, mas pode acometer jovens.

Dentre os sintomas mais comuns do câncer inguinal, como no caso de Anderson, estão o aparecimento de uma ferida no pênis ou úlcera persistente no local. O homem também pode sentir dores localizadas e notar sangue ao urinar ou ter relações sexuais. De acordo com o Ministério da Saúde, é possível que seja feita uma cirurgia para a retirada do tumor. Quimioterapia e radioterapia podem ser outras opções viáveis de tratamento.

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