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Mesmo preso por morte de ex, jogador fez ameaças à família da vítima e tinha celular em sua cela

Oscar Junior Benítez teria induzido e assistido a Anabelia Ayala se suicidar

Agência O Globo - 24/04/2024
Mesmo preso por morte de ex, jogador fez ameaças à família da vítima e tinha celular em sua cela
Prisão - Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Preso após ser condenado a cinco anos de prisão por ameaçar a família da ex-companheira com arma de fogo, o jogador Oscar Junior Benítez, ex-Boca Juniors, da Argentina, segue fazendo ameaças aos parentes de Anabelia Ayala e teve um celular apreendido dentro de sua cela. Com o aparelho, ele vinha fazendo publicações em suas redes sociais entre os dias 10 e 11 de abril, pouco após ser condenado.

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"E eu é que sou o psicopata, o violento e milhares de outras coisas, segundo esse senhor [o pai da ex-namorada]", publicou Benítez, cuja defesa chegou a pedir que o aparelho fosse devolvido a ele, o que foi negado, tendo como justificativa o fato de tratar-se de "medida disciplinar da prisão por infringir as suas normas de utilização".

O atleta foi denunciado pelos pais e irmão de Anabelia, mulher com quem mantinha um relacionamento paralelo ao casamento há anos, encontrada morta no fim do ano passado. A Justiça investiga Benítez como suposto instigador da morte da mulher, cujos pais haviam entrado com medida cautelar contra o jogador de futebol após diversos episódios de ameaças com armas iniciados em 2021.

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Ele foi preso em 12 de janeiro por descumprir as condições da detenção domiciliar a que estava submetido em meio a quatro acusações de crimes contra a ex-companheira e os parentes dela.

Em fevereiro, o Tribunal de Apelações e Garantias de Lomas de Zamora, na Argentina, rejeitou um pedido de libertação do ex-atleta. Benítez começou a ser julgado em 19 de março, por cinco delitos: coação agravada pelo uso de arma, dano, ameaças, desobediência e posse de arma sem a devida autorização legal.

A mulher tirou a própria vida na véspera do Ano Novo em sua casa, na cidade de Malvinas Argentinas, na província de Córdoba. Benítez é suspeito de ter induzido o suicídio, ameaçando matar os parentes de Anabelia, e acompanhado o ato por meio de uma videochamada. Ele continua sendo investigado em um caso paralelo de “investigação das causas da morte” de Anabelia.

Os quatro atos de violência pelos quais Benítez foi julgado ocorreram entre janeiro de 2021 e maio de 2023. Segundo a denúncia, à qual a agência Télam teve acesso, o primeiro deles ocorreu numa casa onde Benítez destruiu os arquivos de um notebook da família de Anabelia.

No dia seguinte, Benítez teria invadido a mesma casa com uma arma de fogo e, num contexto de violência de gênero, ameaçado Juan Carlos Ayala, pai da sua companheira, para que ele não interviesse nos problemas entre ele e a sua filha. Depois, ele ateou fogo a vários itens pertencentes a Anabelia na porta da residência.

Outro dos fatos de que é acusado ocorreu no dia 28 de fevereiro de 2022, quando, segundo a acusação, o jogador de futebol desobedeceu à proibição de se aproximar do sogro e e ameaçou-o: "Você me fez ir para a cadeia, vou te matar, você está sem sorte". Nesse mesmo incidente, ele também ameaçou matar outro membro da família.

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No dia 18 de março de 2022, e sempre no mesmo endereço, Benítez teria desobedecido mais uma vez à proibição de se aproximar da casa da companheira, a quem ameaçou com uma faca para obrigá-la a abrir a porta. Com a recusa da mulher, ele danificou os quatro pneus do carro Peugeot do pai dela.

Por fim, o Ministério Público acusou Benítez de ter em sua casa uma pistola Bersa calibre 9 milímetros. Sua licença de porte havia expirado.

Ameaça a parentes

Oscar Benítez ameaçou matar parentes da sua ex-namorada caso ela não cometesse suicídio, de acordo com a agência de notícias Télam, da Argentina.

Segundo a agência, o atleta assistiu ao suicídio da ex por meio de uma videoconferência. A família de Anabelia entregou aos investigadores um tablet e um celular que ela teria usado para falar diariamente com o ex-namorado e que costumava esconder no banheiro.

"Em diálogo com Télam, Juan Carlos Ayala revelou que, após a morte de sua filha, recebeu um áudio de familiares de Benítez, no qual indicavam que o ex-jogador do Boca fez uma videochamada enquanto Anabelia tirava a própria vida", diz trecho da reportagem.

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Após a morte de Anabelia, o ex-jogador foi preso por ter violado sua prisão domiciliar e ido até a casa da ex, que já o havia denunciado por violência de gênero. Em 30 de dezembro, o jogador descumpriu uma ordem de restrição que o impedia de se aproximar dela.

As acusações contra o atleta começaram em 2021, quando Benítez teria ameaçado matar o ex-sogro. Ele voltou a ameaçar o pai de Anabelia e um ex-cunhado seu em 2022. "Vocês me denunciaram, vou matá-los", teria dito, na ocasião.

Imagens das câmeras de segurança instaladas em frente à casa da mulher mostram uma caminhonete supostamente dirigida pelo atleta chegar ao local. O registro é do dia 30 de dezembro, por volta das 16h, indicando que ele possivelmente quebrou a restrição judicial em vigor. O corpo de Anabelia, de 29 anos, foi encontrado na manhã de 1º de janeiro em seu quarto.

A prima da vítima havia relatado que o assédio sofrido por parte do jogador havia feito a moça tirar a própria vida.

Mais tarde, de acordo com o depoimento do homem, a moça retornou "evidentemente abalada e trancou-se em seu quarto, sendo posteriormente encontrada sem vida por enforcamento, dando início às devidas investigações rotuladas como suicídio", com a intervenção da UFI N°3 de Almirante Brown.

Em junho do ano passado, o promotor José Luis Juárez, da UFI N°12 de Lomas de Zamora, "atenuou a prisão preventiva do acusado, impondo prisão domiciliar" a ser cumprida em uma casa na cidade de Luis Guillón.

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Ele só estava autorizado a sair em seis datas específicas "para participar do Programa Conversatório sobre Gênero e Cultura, da Secretaria de Direitos Humanos da Municipalidade de Lomas de Zamora".

Diante do cenário apresentado após a morte de Anabelia e dos depoimentos indicando que o acusado quebrou as restrições, a justiça determinou a aplicação de "um sistema de controle mais rigoroso". No entanto, apesar de o promotor Hugo Daniel Carrion ter solicitado a revogação do instituto para que a detenção de Benítez fosse ordenada, o juiz Juan Manuel Barreiro determinou a continuidade da prisão domiciliar, mas "sem saídas para o trabalho e com supervisão e controle por meio de tornozeleira eletrônica e GPS". O argumento foi que, além da contribuição das testemunhas, não havia "certeza concreta de que o acusado estava dentro daquele veículo".

Como Anabelia Ayala, a ex-namorada de Junior Benítez, morreu?

Conforme noticiado pelo jornal La Nacion, Anabelia Ayala foi encontrada sem vida por sua família em sua casa na localidade de Almirante Brown, na província de Buenos Aires. Ela era a ex-namorada do ex-jogador do Boca Juniors e do Lanús, Oscar Junior Benítez, a quem a jovem havia denunciado por violência de gênero e contra quem existia uma ordem de restrição. A morte dela foi confirmada pela prima de Ayala por meio de uma postagem em que assegurou: "Ela não suportou mais".

"No dia de ontem [segunda-feira], minha prima tirou a própria vida, porque não suportava mais, desgastou-se mental e fisicamente", escreveu Belén Aldana García no início da mensagem que divulgou em sua conta no Facebook sobre como Anabelia Ayala morreu.

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A jovem relatou que, em 30 de dezembro, o atleta teria se aproximado da casa de Ayala, apesar de a Justiça ter determinado uma restrição de 300 metros, e que constantemente a ligava e a assediava nas redes sociais. Ambos tiveram um relacionamento entre 2018 e 2019, que terminou no México, com o retorno da mulher ao país em meio a denúncias de violência doméstica e maus-tratos.

Relatos de abuso e violência

Como parte do caso, Tripolone apresentou capturas de tela de uma série de conversas que Anabellia teve com suas amigas e uma de suas primas. Nas conversas, a jovem relatava os sofrimentos que enfrentou ao longo de seu relacionamento com Junior Benítez, iniciado em 2018.

Foi durante uma estadia no México - quando ele jogava pelo Atlético San Luis do México - em 2019, que ela decidiu retornar à Argentina após sofrer uma agressão violenta por parte de seu então parceiro. A seguir, alguns exemplos do maltrato que a moça compartilhou com seu círculo.