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Taxa de mortalidade de pacientes tratadas por mulheres médicas é menor, indica estudo

Análise de 700 mil pacientes nos EUA mostra que risco de morte foi 2,8% maior para aquelas tratadas por médicos homens; diferença é pequena, mas relevante em cenários grandes, dizem cientistas

Agência O Globo - 22/04/2024
Taxa de mortalidade de pacientes tratadas por mulheres médicas é menor, indica estudo

Um estudo que levantou dados de 700 mil idosos internados em hospitais dos EUA constatou que a probabilidade de morte de um paciente é ligeiramente maior quando ele é tratado por um médico homem do que se ele for tratado por uma mulher.

Essa disparidade é pequena (uma razão de 0,7%) quando são considerados pacientes homens no cômputo, mas se torna estatisticamente relevante (2,8%) se a paciente é do sexo feminino. O trabalho, que envolveu pesquisadores de universidades prestigiadas dos EUA (Harvard e UCLA) e da Universidade de Tóquio, também analisou o risco de recaída com readmissão do paciente no hospital, que também teve uma disparidade (razão de 3,2%) para as mulheres tratadas.

Segundo os pesquisadores, liderados pelo estatístico japonês Atsushi Miyawaki, apesar de as diferenças parecerem pequenas, elas são estatisticamente relevantes quando se considera universos grandes. O estudo, publicado hoje na revista Annals of Internal Medicine, foi feito com base em registros do Medicare, o seguro de saúde federal voltado à população acima de 65 anos nos EUA.

"Embora as diferenças na mortalidade de pacientes e na readmissão entre médicos do sexo feminino e masculino entre pacientes do sexo feminino fossem modestas, elas corresponderam a 1 morte por 417 hospitalizações do Medicare e 1 readmissão por 208 hospitalizações do Medicare, que sem dúvida são diferenças clinicamente significativas, dadas as mais de 4 milhões de hospitalizações do Medicare por ano", escreveu o cientista com seus colegas.

Para constatar que as médicas mulheres estavam efetivamente levando os casos a um desfecho mais favorável (sem morte ou readmissão em 30 dias), os pesquisadores tiveram de controlar diversas outras variáveis que poderiam influenciar o caso.

Como os registros do Medicare são detalhados, os pesquisadores ajustaram os dados para 27 tipos de problemas de saúde que cada paciente poderia ter, sua idade, diagnóstico no momento da internação, nível de renda e outras variáveis. Para os médicos, além do gênero foi considerado o grau de formação e especialização, e o volume de pacientes sob os cuidados de cada um.

Nenhum desses parâmetros indicou que pudesse estar havendo alguma distorção na conclusão de que as médicas mulheres eram em média mais eficazes no atendimento de pacientes.

Segundo os autores, não há uma explicação direta sobre o melhor desempenho das mulheres no Medicare. Ele sugerem que homens podem estar subestimando a gravidade da doença de mulheres com mais frequência, ou que exista entre mulheres uma cultura mais estabelecida de boa comunicação na relação médico-paciente.

"Já há estudos que encontraram diferenças de avaliação nos padrões relatados de dor, sintomas gastrointestinais e sintomas cardiovasculares, nos quais profissionais de saúde do sexo masculinos apresentaram maior tendência a subestimar sintomas experimentados por mulheres", escreveram os pesquisadores.

Questão humana

O lado humano também pode ter um peso grande na diferença observada, eles sugerem.

"Quando uma paciente do sexo feminino é tratada por uma médica, isso pode estar associado a uma comunicação eficaz e centrada no paciente, conforme relataram estudos anteriores em cuidados primários e em ambientes de obstetrícia e ginecologia", diz Miyawaki. "Além disso, o tratamento realizado por médicas pode ajudar a aliviar o constrangimento, o desconforto e os tabus socioculturais durante exames e conversas sensíveis envolvendo, por exemplo, partes privadas do corpo".

O resultado da pesquisa, ao final, sugere que a investigação sobre essa diferença seja aprofundada, por exemplo, para que cientistas saibam se isso se reflete fora dos EUA ou em populações jovens, que não foram avalidas neste trabalho.

Tendo passado pelo crivo de uma publicação acadêmica rigorosa, ligada ao American College o Physicians, porém, os cientistas se dizem confiantes de que seu resultado mostra uma diferença real, ainda que pequena, na média do desempenho entre homens e mulheres médicos em ambientes hospitalares.

"Este resultado realça a necessidade de esforços contínuos para melhorar a diversidade sexual no mercado de trabalho médico, especialmente para garantir que as pacientes do sexo feminino recebam cuidados de alta qualidade", concluem Miyawaki e seus colegas.