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Comandante da principal dissidência das Farc abandona negociações de paz na Colômbia

Agência O Globo - 16/04/2024
Comandante da principal dissidência das Farc abandona negociações de paz na Colômbia

Conhecido como Iván Mordisco, o principal comandante das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) abandonou as negociações de paz no país, anunciou o governo colombiano nesta terça-feira, acrescentando que o diálogo será mantido com outros líderes guerrilheiros. Segundo Camilo González, chefe da delegação do governo nas conversas que começaram no final de 2023, Mordisco, que é líder do Estado-Maior Central (EMC), “está fora da mesa” e não seu paradeiro é desconhecido.

De acordo com Bogotá, o grupo está dividido internamente. Por isso, as negociações ocorrerão com outros líderes. O governo pontuou, no entanto, que os diálogos estão “congelados” atualmente. González apontou Andrey como o novo chefe da guerrilha nas discussões, uma vez que ele supostamente comanda mais de 50% dos 3,5 mil combatentes do EMC. Sempre adornado com joias luxuosas, Andrey era porta-voz da organização ilegal. Não se sabe, porém, a extensão de seu poder.

Segundo especialistas, Mordisco controla o tráfico de drogas milionário e as rotas ilegais de mineração, sobretudo na Amazônia. Ele pertencia às Farc, mas nunca aceitou o acordo de paz de 2016 e permaneceu escondido. Com isso, o futuro de ambos os lados dissidentes passou a ser uma incógnita. À AFP, Jorge Mantilla, especialista em conflitos armados, afirmou que o EMC deixa de existir ou ao menos “inicia uma disputa pela marca entre as diferentes facções que estavam agrupadas sob esse guarda-chuva”.

Semanas de caos

Os diálogos começaram a se enfraquecer no dia 17 de março, quando o presidente Gustavo Petro decretou o fim do cessar-fogo bilateral em três departamentos do sudoeste do país, após o assassinato de um líder indígena por insurgentes. Desde então, milhares de soldados foram destacados para o departamento de Cauca, região de cultivos de drogas e onde combatentes do EMC estariam atacando povos indígenas. Ao todo, a operação deixou ao menos 10 guerrilheiros mortos, e o grupo respondeu detonando carros-bomba — sendo um deles na cidade de Cali, a terceira maior da Colômbia.

Nesta segunda-feira, Mordisco apareceu em vídeo alertando o governo que o futuro das negociações dependia do início de uma nova trégua. Ele afirmou que as comunidades indígenas se juntaram ao seu “exército revolucionário” por vontade própria. Antes disso, Petro havia afirmado que se o líder não assinasse o acordo de paz, seria abatido assim como o traficante Pablo Escobar (1949-1993). Para Mantilla, porém, a única saída que o governo terá “será negociar com quem quiser ficar à mesa” e sob a lógica de diálogo regional ou “territorializado”.

— Há um problema interno quanto às formas de ver e interpretar o momento político do país. Há uma grande divisão nisso — disse Andrey à revista Semana na última sexta-feira.

Neste momento, o fim de uma negociação também não está claro. Segundo “Calarcá”, outro comandante do EMC, sua organização estabelecerá condições “imóveis” para assinar a paz, como não entregar armas ou submeter-se à Justiça especial. Ele disse que se aceitar que façam justiça contra ele, no sentido de o acusarem de um crime ou por utilizar armas, estará “negando” quem ele é.

Petro é o primeiro presidente de esquerda a governar o país e está empenhado em uma solução pacífica para meio século de conflito armado. Desde que chegou ao poder em 2022, propôs a implementação de uma política de “Paz total”, sob a qual abordou todos os grupos armados, embora as negociações tenham sofrido diversos reveses. Atualmente ele negocia com a guerrilha do Exército de Libertação Nacional, em meio a violações das tréguas acordadas por ambos os lados que levaram ao congelamento do diálogo em distintas ocasiões.

O governo também anunciou, embora sem data prevista, negociações com a dissidente La Segunda Marquetalia, facção inimiga do EMC e liderada por Iván Márquez, ex-número dois das Farc. Apesar dos esforços de paz do governo, a violência não diminui no país e o tráfico de drogas continua atingindo marcas históricas, segundo organizações internacionais.