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Estoque global de vacina contra a cólera está completamente esgotado em meio à disseminação de surto

Uma única empresa está fazendo um grande esforço para recuperar o estoque, mas levará anos até que ele retorne ao nível mínimo

Agência O Globo - 15/04/2024
Estoque global de vacina contra a cólera está completamente esgotado em meio à disseminação de surto
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

As doses da vacina contra a cólera estão sendo administradas na mesma velocidade em que são produzidas e as reservas globais acabaram, à medida que surtos mortais da doença continuam a se espalhar. No entanto, o cenário não é surpreendente para especialistas em emergência às epidemias, porque essas reservas têm estado precariamente baixas há anos.

A surpresa – a boa notícia, que por si só é surpreendente, uma vez que “cólera” e “boas notícias” raramente são usados ​​em conjunto – é que três novos fabricantes de vacinas estão desenvolvimento linhas de produção e irão se juntar ao esforço para reabastecer as reservas. Uma quarta empresa, a única que fabrica atualmente a vacina, que é administrada por via oral, tem trabalhado a um ritmo que os especialistas descrevem como “heroico” para expandir a sua produção.

No entanto, mesmo com tudo isto, o fornecimento global total da vacina que estará disponível este ano será, na melhor das hipóteses, um quarto do que é necessário.

No final de fevereiro, os países já tinham notificado 79.300 casos e 1.100 mortes por cólera apenas este ano. Como não existe um sistema uniforme para a contagem de casos, esse número provavelmente é bastante subestimado.

Em outubro de 2022, a organização que gere a reserva global de vacinas de emergência contra a cólera fez uma recomendação inédita para que as pessoas recebessem apenas uma dose da vacina, em vez de duas, num esforço para aumentar a oferta. Uma única dose da vacina contra a cólera proporciona entre seis meses e dois anos de imunidade, enquanto o regime completo de duas doses, administradas com um mês de intervalo, confere caos adultos cerca de quatro anos de proteção.

No ano passado, os países enviaram pedidos de 76 milhões de doses da vacina para “campanhas reativas” de dose única – esforços para vacinar pessoas em locais com surtos ativos. Havia apenas 38 milhões de doses no estoque, então apenas metade das solicitações foram atendidas, e essas eram com dose única.

Não sobraram vacinas para campanhas preventivas, que idealmente seriam realizadas em locais como Gaza, onde existem todas as condições para grandes surtos, ou em locais onde a cólera é endêmica.

A corrida para produzir mais vacinas contra a cólera ilustra todas as razões pelas quais é tão difícil responder às epidemias, mesmo com a participação de fabricantes de medicamentos empenhados, que não se assustam com as estreitas margens de lucro numa imunização que se destina principalmente às pessoas pobres.

A cólera pode causar a morte por desidratação em apenas um dia, enquanto o corpo tenta expelir bactérias virulentas em torrentes de vômito e diarreia. A doença é transmitida através de água potável contaminada.

Os atuais surtos são impulsionados pela propagação de conflitos e catástrofes climáticas que forçam as pessoas a viverem em situações de superlotação, sem sistemas de saneamento adequados. Nos últimos meses, foram registrados surtos em 17 países, incluindo Afeganistão, Zâmbia e Síria. Deste estão, a demanda só cresceu.

Atualmente, a empresa sul-coreana EuBiologics é a única que fabrica a vacina contra a cólera. A empresa já sabia que haveria pressão no fornecimento da vacina porque a única outra empresa que a fabricava, uma subsidiária indiana da farmacêutica Sanofi, havia anunciado em 2018 que encerraria a produção da vacina, o que aconteceu em 2023.

Para cobrir a lacuna na produção de vacinas, Rachel Park, diretora de negócios internacionais da EuBiologics, disse que a empresa decidiu tentar simplificar a fórmula da sua vacina, simplificando etapas e ingredientes para poder produzir mais doses, com mais rapidez.