Internacional
Irã pode atacar Israel neste fim de semana? Entenda
Lideranças em Teerã dizem que retaliação ao ataque contra consulado deve acontecer, mas despistam sobre formato ou sobre quando ela seria lançada
Desde o fim do Ramadã, na quarta-feira, governos de todo o mundo estão em alerta máximo para uma ação militar "iminente" do Irã contra Israel, em a resposta ao ataque contra o consulado iraniano em Damasco, no começo do mês, incidente atribuído aos israelenses. Teerã, por enquanto, não dá sinais ou pistas sobre como ou quando ocorreria o ataque, mas Israel deixou claro que se mísseis caírem em seu território, vai responder de forma contundente, abrindo as portas para um conflito de grande porte e com desfechos imprevisíveis. Entenda como a região, que já enfrenta os impactos da guerra na Faixa de Gaza, chegou a um dos momentos mais críticos em quase duas décadas.
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1- Ataque contra consulado
No dia 1º de abril, o complexo diplomático do Irã na capital da Síria, Damasco, foi atingido por um ataque de grande porte, atribuído a Israel (que não reconheceu a autoria), deixando 16 mortos, entre eles altos comandantes da Guarda Revolucionária, como Mohammad Reza Zahedi, responsável pelos laços com aliados sírios e libaneses. Os iranianos condenaram a ação, a considerando uma violação direta de seu território, citando a inviolabilidade de representações diplomáticas pelos signatários — pessoas ligadas ao governo israelense alegam que o prédio atingido não funcionava como um consulado, como afirma Teerã. Em reunião do Conselho de Segurança da ONU que discutiu o ataque, no dia 2 de abril, o representante iraniano, além de fazer críticas a Israel, disse que “EUA e Reino Unido tentaram, mas uma vez, negar sua responsabilidade pelo que acontece na Síria e em toda a região ao falsamente culpar o Irã” pelas instabilidades no Oriente Médio. O governo americano nega qualquer participação no ataque, e nos últimos dias tem afirmado que os israelenses não os avisaram com antecedência sobre o bombardeio ao consulado, tampouco sobre seus planos para fazê-lo — Washington também não condenou o incidente.
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2- ‘O regime maligno cometeu um erro’
Além de discursos acalorados, o bombardeio em Damasco deu início a uma série de ameaças vindas de Teerã sobre uma retaliação aos israelenses. Na quarta-feira, durante as orações do Eid el-Fitr, que marca o fim do mês sagrado do Ramadã, o líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, afirmou “quando eles atacam nosso consulado, é como se tivessem atacado nosso solo”, sugerindo que poderia acontecer um ataque contra o território israelense. Contas ligadas à Guarda Revolucionária chegaram a publicar vídeos e montagens de ataques contra o aeroporto de Haifa, no norte de Israel, e informações de agências de inteligências sugeriram que a resposta poderia incluir mísseis e drones lançados do próprio território iraniano, algo que poderia levar a crise a um novo patamar.
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3- Parceiros regionais
“Se o Irã atacar a partir do seu território, Israel reagirá e atacará no Irã”, afirmou, na quarta-feira, o chanceler israelense, Israel Katz, praticamente estabelecendo o cenário que, no momento, o Irã quer evitar: caso mísseis ou drones sejam lançados, Israel lançaria uma retaliação dentro do território iraniano, provavelmente contar alvos militares e contra instalações ligadas ao programa nuclear, como a central de Natanz. Para tentar evitar tal desfecho, uma alternativa para Teerã seria usar alguns de seus aliados regionais na Síria, Líbano e até Iêmen — a começar pelo Hezbollah, baseado em solo libanês, e que desde o início da guerra em Gaza vem travando um conflito de baixa intensidade com Israel. O grupo político-militar tem um arsenal de mais de 100 mil mísseis, mas uma ação de grande porte poderia levar a guerra para dentro do Líbano, algo que a milícia, o Irã e o governo em Beirute querem evitar a todo custo. Com isso, grupos paramilitares no Iraque e Síria, que são alvos recorrentes de bombardeios israelenses e dos EUA, poderiam receber a missão de realizar um ataque, que pode envolver foguetes e drones (muitos dos quais seriam abatidos pelo sistema de defesa aérea Domo de Ferro).
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4- Momento incerto
Desde o dia 1º de abril, autoridades, analistas e agências de inteligência estabeleceram que uma ação iraniana, seja qual for o escopo, seria inevitável, mas o momento em que ela acontecerá parece incerto. Na sexta-feira, o presidente dos EUA, Joe Biden, disse acreditar que um ataque ocorreria “mais cedo do que se espera”, e o Pentágono reforçou as posições no Oriente Médio, apesar de não haver uma ameaça específica contra as forças americanas na região. No mesmo dia, o ministro da Defesa de Israel, garantiu que o país está pronto para se defender “por terra e pelo ar”, e disse que os EUA apoiarão o país caso ocorra um ataque. Por precaução, empresas aéreas europeias suspenderam voos para Teerã, além de reduzir o tempo das aeronaves em solo. O Wall Street Journal, citando relatórios do governo americano, afirma que um ataque poderia acontecer até sábado, mas fontes no governo do Irã dizem que uma decisão final ainda não foi tomada por Khamenei.
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5- Relação complexa
Caso uma guerra estoure entre Israel e Irã, duas das mais poderosas forças militares do Oriente Médio, a região veria talvez o conflito mais violento desde a Guerra Irã-Iraque, entre 1980 e 1988, que deixou um milhão de mortos. O embate também seria uma espécie de clímax de mais de quatro décadas de tensões, ações diretas e indiretas e ameaças vistas como existenciais, de um lado e de outro. Até a Revolução Islâmica de 1979, Irã e Israel mantinham uma relação até cordial, com parcerias econômicas e de segurança e voos regulares entre suas principais cidades. Com a queda do xá (rei) Reza Pahlevi, a relação passou a ser de rivalidade, e as novas lideranças usaram a questão palestina e as críticas a Israel como ferramentas políticas para angariar legitimidade dentro e fora do país. No começo dos anos 2000, com as denúncias de que o Irã tinha um programa clandestino para construir armas nucleares, os líderes israelenses, em especial Benjamin Netanyahu, incorporaram esse elemento, apontando para o que seria uma “ameaça existencial”: além de discursos na ONU, assassinatos de cientistas nucleares iranianos e até ataques cibernéticos contra instalações de enriquecimento de urânio se tornaram políticas de Estado, assim como o financiamento crescente do Irã a milícias no Iraque, Síria, Líbano e ao próprio Hamas.
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