Esportes
Ouro, refugada e morte: por que você deveria assistir ao documentário sobre o cavalo Baloubet du Rouet
COB lança filme sobre o melhor cavalo do mundo; Rodrigo Pessoa, um dos entrevistados, relembra os momentos marcantes e, ao GLOBO, ele fala também sobre a corrida a Paris-2024

Baloubet du Rouet, o cavalo mais famoso do mundo, e que junto com Rodrigo Pessoa formou o melhor conjunto de saltos da história olímpica do hipismo, ganhou um documentário, com estreia nesta quinta-feira no YouTube do Time Brasil e no Canal Olímpico do Brasil (COB).
O filme conta a história das inúmeras glórias de Baloubet, incluindo o tricampeonato mundial seguido e o ouro olímpico em Atenas-2004, mesmo após descrença do próprio Rodrigo, em prova dificílima, e que contou com desempate e um caso de doping.
E também sobre o fracasso de Sydney-2000, no capítulo mais doloroso para o Time Brasil à época. Rodrigo e Baloubet eram favoritíssimos, não cometiam faltas, estavam 'tinindo' mas, na final individual o cavalo, cansado, refugou. "Baloubet: drama e glória de um gladiador" é uma produção original do COB.
— Ele foi o meu melhor cavalo — disse Rodrigo, ao GLOBO, sobre o fato de que Baloubet ganhou duas medalhas olímpicas (ouro e bronze), o tricampeonato mundial seguido (e depois ainda ganhou uma prata, um bronze e mais uma prata, em seis anos) e 25 Grandes Prêmios. — O que ele ganhou é inédito. Só um cavalo fora do comum consegue. Acho que nenhum outro vai conseguir.
O sela francês Baloubet foi um cavalo forte, de porte atlético e muito inteligente. Definido como fenômeno e também como gladiador, foi aposentado em 2007. O garanhão, que tem mais de 3 mil filhos, faleceu de causas naturais em 7 agosto de 2017, em Portugal, onde vivia junto a seu controverso proprietário, o empresário português Diogo Pereira Coutinho.
O documentário mostra detalhes da relação do cavalo com Rodrigo, com Nelson Pessoa e sua equipe. Chama a atenção a mágoa que o cavaleiro ainda tem em relação ao cavalo:
— Não é o meu (cavalo) favorito... Tenho raiva, não sei se é esta a palavra. É frio (o que digo)... Sou assim — diz Rodrigo. — Fui ao fundo do poço, não sentia as pernas. Tomei um soco do Mike Tyson e estava de boca aberta.
Ao GLOBO, ele disse que a palavra certa seria "mágoa":
— Raiva é muito duro... afinal ele é um animal. Também não tem culpa das coisas. Tenho mágoa e até hoje — explicou. — Um soco do Tyson é o tipo de coisa que não se esquece nunca. Acordo à noite, às vezes, e ainda penso nisso. Essas memórias estão gravadas, não tive de recuperá-las. Eu lembro todos os dias. Foi fácil contar de novo para o documentário.
Rodrigo ri ao ser questionado se Baloubet é mais famoso do que ele.
— (risos). Acho que aqui no Brasil, o Baulobet é mais famoso do que eu. Muitos brasileiros assistiram àquela final olímpica de Sydney. O Brasil não tinha ganhado medalha de ouro e o hipismo era a última esperança. Ele infelizmente ele ficou famoso por aquele desastre (refugada). Foi bom que depois a gente conseguiu dar a volta por cima (Atenas-2004).
As declarações de Rodrigo, hoje, aos 50 anos e já com cabelos grisalhos, sobre o cavalo que o consagrou são fortes. O que ele sentiu naquele dia? Como ficou a relação com o cavalo depois? O que sentiu e o que fez no dia da morte do cavalo? O filme mostra tudo isso.
Mesmo quem conhece a história deste conjunto vai sentir frio na barriga com o desenrolar das competições. Rodrigo e Nelson narram os acontecimentos, descrevem como foi a chegada do conjunto à final de Sydney. E depois a tensa disputa em Atenas-2004: da 23.ª colocação na classificação geral, a virada na segunda volta e o medo de uma nova refugada na final:
— Se repete, estamos cozidos — disse Nelson, lembrando a ocasião à época.
Tão interessante quanto esta fase, é a época de aposentado do cavalo. Após uma contusão, ele precisaria de dois anos para se recuperar e para volta à boa forma, mas seu dono o aposentou. O cavalo viveu em um "hotel cinco estrelas", em Portugal.
Ele teve uma tratadora que o considerada "seu bebê". Uma linda relação entre eles é contada pela própria, que não quis ter filhos até Baoulobet morrer. Ela foi mãe dois anos depois.
— Do dia que ele saiu de casa eu nunca mais o vi. Não tínhamos uma relação boa com o proprietário. Soube no dia seguinte que ele faleceu e sabia que estava sendo muito bem cuidado pela Sônia. Isso era o mais importnate para mim. Não ter visto ele uma última vez, não foi um problema — disse Rodrigo, ao GLOBO.
O documentário foi dirigido, produzido e roteirizado pelos jornalistas Fabricio Crepaldi e Ugo Soares Araújo, tem cerca de 1h20. Foi gravado durante um ano de gravações e passou por três países, além do Brasil. Terá premiére para convidados, durante o Prêmio Hipismo Brasil 2023, no Clube Hípico de Santo Amaro, nesta quarta, em São Paulo.
Paris-2024
Rodrigo disputou sete Jogos Olímpicos e tem três medalhas: ouro em Atenas-2004, bronze em Atlanta-1996 e em Sydney, ambas por equipes. Começou em Barcelona-1992 e depois teve mais seis participações. De lá pra cá, só ficou fora da Rio 2016. Antes, foi porta-bandeiras em Londres 2012.
— Vivi momentos especiais, a primeira medalha (por equipes em 1996), o ouro, ter sido porta-bandeira... Mas também teve Sydney (a refugada)... Não se pode estar sempre em cima. Não fui tão bem em Tóquio, mas faz parte. E como na minha última eu fiquei por baixo, quem sabe agora volto para cima.
Rodrigo tem a chance de representar o Brasil mais uma vez em Jogos Olímpicos e na cidade onde nasceu.
— Tenho afinidade com a cidade. Cresci perto de Paris, foram os meus dez primeiros anos. Tenho carinho especial pela cidade e poder disputar uma Olimpíada lá seria especial. Não sei se será a minha última, mas o certo é que estou mais próximo do fim do que do início— disse o cavaleiro que comentou ainda sobre Major Tom, seu atual cavalo: — Não existem cavalos iguais, mas tanto Major Tom quanto Baloubet são muito inteligentes, superiores. Analisam as coisas muito bem, aprendem muito rápido e corrigem seus erros automaticamente. Major Tom é muito elástico, respeituoso. Acho que hoje tenho mais experiência, passei por muita coisa e nosso conjunto é forte. Eu estou numa fase melhor, eu diria.
A equipe do Brasil que vai aos Jogos será conhecida em 8 de julho, no prazo final para a inscrição dos atletas.
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