Internacional
EUA defendem que Israel autorize entrada de chefe de agência da ONU para palestinos em Gaza
Philippe Lazzarini, comissário geral da UNRWA, teve sua visita ao enclave bloqueada pelo governo israelense na segunda-feira
Os Estados Unidos defenderam nesta terça-feira que Israel permita que o chefe da agência das Nações Unidas para os refugiados palestinos (UNRWA) entre em Gaza, um dia após a visita do comissário geral Philippe Lazzarini ao enclave ter sido bloqueada pelo governo israelense.
— Acreditamos que ele deveria poder visitar o campo de operações da UNRWA, inclusive em Gaza, e vamos continuar trabalhando com o governo de Israel para aprovar rapidamente todos os vistos solicitados para trabalhadores da ONU e de ONGs — disse Vedant Patel, porta-voz do Departamento de Estado.
Lazzarini, comissário geral da UNRWA, disse nas redes sociais na segunda-feira que as autoridades israelenses o impediram de fazer uma visita que deveria "coordenar e melhorar a resposta humanitária". A UNRWA, formalmente a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente, é o maior grupo de ajuda em Gaza e uma fonte de subsistência essencial para mais de 2,2 milhões de pessoas que lutam para sobreviver sob um cerco israelense quase total.
A agência do Ministério da Defesa de Israel que supervisiona a política para os territórios palestinos, conhecida como Cogat, disse na mídia social que o pedido de entrada de Lazzarini em Gaza "não foi submetido aos processos e canais de coordenação necessários".
"Essa é outra tentativa da UNRWA de culpar Israel por seus próprios erros", afirmou a agência israelense na segunda-feira.
A COGAT não respondeu imediatamente às perguntas feitas pelo jornal americano New York Times sobre a decisão.
Segundo Juliette Touma, diretora de comunicações da UNRWA, a explicação do Cogat "não era precisa". Ao New York Times, disse que a viagem de Lazzarini foi aprovada por Israel na noite de domingo, mas ele foi a única pessoa entre uma equipe de trabalhadores da UNRWA a quem foi negado o acesso na manhã de segunda-feira, apesar de todos os seus pedidos de entrada terem sido apresentados como um grupo.
Touma descreveu a negação como uma "mudança de última hora" que ocorreu quando Lazzarini estava pronto para voar do Cairo para El Arish, no Egito, antes de viajar para a fronteira e cruzar para Gaza. Em uma entrevista coletiva com Lazzarini no Cairo, o ministro das Relações Exteriores do Egito, Sameh Shoukry, expressou consternação com a recusa de Israel.
A negação ocorreu no mesmo dia em que um novo relatório da iniciativa global IPC (Classificação da Fase de Segurança Alimentar Integrada) projetou que uma fome em grande escala se instalará no norte de Gaza até maio, a menos que haja uma intervenção urgente.
Lazzarini, que havia planejado visitar o norte de Gaza como parte da viagem, de acordo com Touma, disse na mídia social que "essa fome causada pelo homem sob nossa vigilância é uma mancha em nossa humanidade coletiva". Evitar a fome era uma questão de "vontade política", acrescentou.
Há muito tempo, Tel Aviv argumenta que a UNRWA é tendenciosa contra Israel e influenciada pelo Hamas, alegações que a agência nega veementemente. Em janeiro, Israel acusou 12 dos 13 mil funcionários da agência em Gaza de participarem dos ataques de 7 de outubro ou de suas consequências, o que levou várias nações doadoras a suspenderem o financiamento. Outros 190 funcionários foram acusados de serem “militantes” de organizações consideradas terroristas. Israel Katz, ministro das Relações Exteriores, pediu que Lazzarini renunciasse.
A ONU iniciou imediatamente uma investigação, e demitiu 10 dos 12 citados — os outros dois estão mortos. No início deste mês, porém, a UNRWA acusou o governo de Israel de torturar e maltratar funcionários da agência em busca de confissões sobre supostos laços entre o órgão e o grupo terrorista Hamas.
“Alguns de nossos funcionários relataram às equipes da UNRWA que foram forçados a fazer confissões sob tortura e maus tratos. Essas falsas confissões foram em resposta a questões sobre as relações entre a UNRWA e o Hamas, assim como seu envolvimento com o ataque de 7 de outubro contra Israel”, afirmou Touma, em comunicado, acrescentando que a tortura foi usada para “espalhar desinformação sobre a agência, como parte das tentativas de desmantelar a UNRWA".
As alegações fazem parte de um relatório da agência ainda não publicado, mas obtido por veículos de imprensa dos EUA, que relata supostos abusos cometidos pelas forças israelenses em Gaza.
Documentos internos da ONU obtidos pelo jornal britânico Guardian mostram que funcionários da UNRWA na Cisjordânia ocupada também têm sido submetidos a uma campanha sistemática de obstrução e assédio por parte dos militares e autoridades israelenses desde o início do conflito em Gaza, há cinco meses.
Os documentos registram centenas de incidentes que vão desde a suposta vendagem e espancamento de funcionários da ONU em postos de controle até o uso de instalações das Nações Unidas por tropas israelenses como posições de tiro durante ataques a campos de refugiados nos quais palestinos foram mortos.
De acordo com Juliette Touma, os incidentes na Cisjordânia — onde a agência administra 96 escolas e 43 clínicas de saúde para 871 mil refugiados registrados — detalhados nos documentos internos eram "parte de um padrão mais amplo de assédio que estamos vendo contra a UNRWA na Cisjordânia e em Jerusalém".
Para Lazzarini, a agência está enfrentando uma "campanha deliberada e organizada" para minar suas operações em um momento em que seus serviços são mais necessários. Desde então, alguns países retomaram suas doações à UNRWA, citando seu papel na mitigação da crise humanitária. (Com The New York Times e AFP)
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