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Nem Machado escapou
Vez por outra a censura baixa nem nosso país e autores têm suas obras recolhidas sobretudo das nossas escolas. Nem alguns membros da Academia Brasileira de Letras escaparam dessa tragédia, como já aconteceu com Machado de Assis, Carlos Heitor Cony e Euclides da Cunha, na boa companhia de autores clássicos como Franz Kafka e Edgar Allan Poe.
Agora, foi a vez de “O avesso da pele”, de Jeferson Tenório. Três estados (Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás), por pressão de lideranças conservadoras, vetaram a obra, anteriormente incluída no Programa Nacional do Livro Didático e vencedora do Prêmio Jabuti em 2021. Exemplares foram retirados das bibliotecas estudantis, mesmo tendo sido traduzida em 16 países.
Numa reação imediata e com toda procedência, a Academia Brasileira de Letras lançou uma nota, apoiada por unanimidade pelos seus membros, protestando contra a censura descabida. Tem a assinatura do seu presidente Merval Pereira e foi largamente distribuída pela imprensa. É um protesto contra a desinformação. O autor da obra reagiu a seu modo: “O curioso é que as palavras de baixo calão e os atos sexuais do livro causam mais incômodo do que o racismo, a violência policial e a morte de pessoas negras.” O Secretário de Educação do Paraná negou que a decisão tenha sido tomada por questões raciais: “Todas as obras que forem denunciadas serão igualmente analisadas. Não se pode expor o estudante ao vocabulário de sexo explícito, de baixo teor. “Mais ou menos é o mesmo teor da Secretaria de Estado de Educação de Goiás: “O objetivo é para que o livro chegue à escola e possa efetivamente contribuir para o desenvolvimento da aprendizagem.”
Os meios intelectuais não concordam com esse movimento. Cerca de 250 intelectuais e artistas assinaram o manifesto contra a censura ao livro de Jeferson Tenório. Tudo isso é muito lamentável.
É preciso lembrar que fatos semelhantes aconteceram na Universidade de Rio Verde (Goiás) e em 2018 no tradicional Colégio Santo Agostinho, no Rio de Janeiro, quando houve um protesto a propósito do livro “Meninos sem pátria”, de Luiz Puntel, sobre uma família exilada na ditadura. Isso não tem cabimento. Onde fica a liberdade de expressão?
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