Internacional
Putin exalta expansionismo russo em direção à Ucrânia durante discurso na Praça Vermelha, um dia após reeleição
Presidente justificou ações no país vizinho como uma resposta a anseios da população étnica russa na região e deixou indícios de que a ocupação ganha cada vez mais caráter permanente aos olhos de Moscou
Um dia após ser reeleito para o quinto mandato presidencial, Vladimir Putin exaltou o expansionismo russo em direção à Ucrânia nesta segunda-feira, ao discursar na Praça Vermelha, no centro-histórico de Moscou, em um evento em alusão aos dez anos da anexação da Península da Crimeia. Diante de uma multidão, o presidente classificou a ocupação dos territórios ucranianos como um "grande evento na história do país" e defendeu a ação russa em direção ao oeste como uma ação legítima, voltada às populações étnicas russas nessas regiões.
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— Quanto à Nova Rússia [como o Kremlin se refere a Zaporíjia e Kherson] e ao Donbas, as pessoas que vivem lá também disseram, nos dias da 'Primavera Russa' [protestos pró-Rússia em 2014], que queriam regressar para a sua família, mas o seu caminho de volta para casa acabou sendo muito mais difícil e trágico. No entanto, ainda assim conseguimos — disse Putin, acrescentando que agora todos estão "crescendo e avançando juntos, de braços dados".
Embora tenha se referido a temas de política interna das regiões anexadas e do contexto geopolítico envolvendo-as, o discurso de Putin focou sobretudo na origem russa das populações dos territórios tomados da Ucrânia unilateralmente. A fala do presidente segue a argumentação de que as ações russas na Ucrânia têm legitimidade em função de atenderem ao chamado das populações russas nestes locais — em determinado momento, o Kremlin chegou a acusar o governo de Kiev de promover um genocídio de russos-étnicos no Leste do país.
— A Crimeia não é meramente um território estrategicamente importante, não é apenas [parte de] nossa história, nossas tradições e do orgulho da Rússia. Mais importante, a Crimeia são pessoas: pessoas de Sevastopol e pessoas da Crimeia. Elas são o nosso orgulho — afirmou o presidente, acrescentando que essas populações "mantiveram a fé na Pátria-mãe por décadas". — Eles nunca se separaram da Rússia, e isso é exatamente o que tornou possível para a Crimeia retornar para a nossa família em comum.
É costumeiro que Putin discurse no evento anual em celebração à anexação da Crimeia, tomada da Ucrânia em 2014. Neste ano, ele subiu ao palco acompanhado pelos três adversários que disputaram as eleições presidenciais — nenhum deles entre os principais opositores do presidente, que foram excluídos do pleito, exilados, presos ou mortos antes da disputa. Ontem, os candidatos adversários já haviam parabenizado Putin pela reeleição e reconhecido sua vitória nas urnas, com mais de 87% dos votos.
Meios de comunicação independentes da Rússia, citados pelo britânico The Guardian, relataram que funcionários públicos e estudantes foram coagidos a comparecer ao ato nacionalista, que contou com apresentações musicais de por cantores pró-Putin. A participação do presidente foi encerrada com a execução do hino nacional russo, que ele entoou junto da multidão.
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Apoiadores do presidente russo ouvidos pela agência francesa AFP exaltaram Putin e sua nova vitória eleitoral. Também afirmaram ver a vantagem obtida nas urnas — em um processo classificado como "incrivelmente antidemocrático" pelos EUA e criticado por outros observadores ocidentais — com naturalidade.
— Qualquer cidadão que respeite o nosso país votou em Putin — disse Elena, uma economista de 64 anos. — [Putin] é a base do nosso país — acrescentou Viktoria, 23 anos, funcionária de uma empresa estatal, que estava a caminho do ato na Praça Vermelha.
O discurso do presidente reeleito também aponta para uma ocupação cada vez mais permanente dos territórios ucranianos. Em um trecho do discurso, Putin se refere diretamente a investimentos em infraestrutura nas regiões.
— Fui informado hoje pela manhã que a ferrovia de Rostov-no-Don para Donetsk, para Mariupol e Berdyansk, foi restaurada. Continuaremos este trabalho e os trens irão direto para Sevastopol em breve. Isto será mais uma alternativa à Ponte da Crimeia — disse o mandatário — Continuaremos avançando neste caminho, lado a lado. E isso nos torna realmente mais fortes, não em palavras, mas em ações. (Com AFP)
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