Internacional
Brasil está à disposição para liderar campanha de admissão da Palestina na ONU, diz chanceler
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, chamou de "imoral" as ações de Israel em Gaza e criticou a comunidade internacional pela insuficiência da ajuda humanitária ao enclave. Durante visita à Cisjordânia neste domingo, 17, o chanceler do governo Lula também colocou o País à disposição para liderar a campanha por um Estado palestino na ONU.
"Vou dizer alto e claro: é ilegal e imoral impedir pessoas de ter acesso à comida e água. É ilegal e imoral atacar comboios humanitários e quem está buscando ajuda", disse Mauro Vieira em provável referência à morte de mais de 100 palestinos desesperados atrás de caminhões com comida no começo do mês. "A credibilidade do atual sistema internacional de governança está debaixo dos escombros de Gaza", afirmou ao representar o presidente Lula na entrega do título de Membro Honorário da fundação que leva o nome do ex-presidente da Autoridade Palestina e Nobel da Paz Yasser Arafat, elogiado por ele durante o discurso.
Vieira desembarcou em Ramala na manhã deste domingo, 17, e se reuniu com autoridades palestinas antes da cerimônia.
Seu primeiro compromisso foi um encontro com o chanceler da Autoridade Palestina, Riad Malki, que elogiou a posição do governo Lula durante o conflito.
O presidente brasileiro tem feito reiteradas críticas a Israel, que acusa de "genocídio" e que já comparou a guerra em Gaza ao Holocausto - declaração que abriu uma crise diplomática e levou o petista a ser declarado "persona non grata" em Tel-Aviv.
Na presença da contraparte brasileira, Malki também expressou preocupação com a esperada operação militar israelense em Rafah.
A despeito da pressão internacional, o governo Binyamin Netanyahu aprovou na sexta o plano para incursão das Forças de Defesa de Israel (IDF da sigla em inglês) na cidade que faz fronteira com o Egito e é o último reduto para mais de 1 milhão de palestinos deslocados pelo conflito.
Palestina na ONU
Segundo divulgou o Itamaraty, o ministro aproveitou para reiterar que o Brasil está disposto a liderar os esforços por um Estado palestino na ONU.
O tema também foi debatido em encontros separados com o primeiro-ministro Mohammed Shtayyeh e com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas. Assim como o seu chanceler, Abbas elogiou a posição do governo Lula no conflito atual.
A viagem de Mauro Vieira pelo Oriente Médio teve início na sexta, 15, quando desembarcou na Jordânia. Além de Amã e Ramala, o ministro também vai passar pelo Líbano e pela Arábia Saudita antes de retornar ao Brasil na próxima quarta. Israel não está no roteiro.
Posição do Brasil sobre a guerra
O Brasil condenou o ataque terrorista do Hamas, que desencadeou a guerra em 7 de outubro, e tem pedido pela liberação dos reféns sequestrados durante o atentado. Mas passou a criticar duramente o que Mauro Vieira chamou neste domingo de "resposta desproporcional" de Israel em Gaza, onde a guerra já deixou mais de 30 mil mortos, segundo o ministério da Saúde local, controlado pelo grupo terrorista Hamas.
O Brasil apoiou em janeiro a ação da África do Sul, que acusa Israel de genocídio na Corte Internacional de Justiça. A decisão foi criticada pela comunidade judaica no País e apontada como "incoerente" com o histórico da diplomacia pelo ex-chanceler Celso Lafer em carta a Mauro Vieira.
No mês seguinte, o governo Lula voltou a causar polêmica ao equiparar as ações de Israel ao extermínio de judeus pela Alemanha Nazista na 2ª Guerra. "O que está acontecendo em Gaza não aconteceu em nenhum outro momento histórico, só quando Hitler resolveu matar os judeus", disse o presidente.
Lula foi declarado "persona non grata" em Israel por conta desta declaração até que se retrate - o que já indiciou que não vai fazer.
A crise escalou com as críticas do ministro da Relações Exteriores de Tel-Aviv, Israel Katz ao presidente do Brasil nas redes sociais e a reprimenda pública ao embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, vista no Itamaraty e no Planalto como uma humilhação para o diplomata.
Em gesto de descontentamento, o País chamou Meyer de volta e convocou o embaixador israelense em Brasília, Daniel Zonshine, para se explicar.
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