Esportes
Camisas de futebol retrôs viram tendência no mundo da moda urbana com estética 'charmosa' e designs arrojados
Cultura brasileira que vem desde a década de 90, movimento europeu que explodiu recentemente e redes sociais explicam ‘febre’ pelas ruas do país

Seja nas ruas espalhadas pelo país, ou então nas redes sociais, é notório o fenômeno que virou o chamado “blokecore”. O conceito — baseado em movimento reivindicado pelo Reino Unido, que atribui sua origem à estética das subculturas do pop britânico e dos chamados hooligans — consiste na junção dos trajes esportivos, principalmente blusas de futebol, com outras peças de roupa do streetwear, ou então, da moda urbana. A partir disso e de outras tendências que fazem parte da cultura de rua nacional e se fortaleceram nas mídias digitais nos últimos meses, surgiu um expoente desse movimento: a febre em cima das camisas retrôs de times e seleções.
Não é difícil ir à festas, shows, festivais ou outros eventos casuais e ver pessoas de todas as idades e gêneros integrando em seus looks, por exemplo, uma calça de alfaiataria com uma blusa da década de 90 de algum time europeu. Esse fenômeno se explica com as raízes culturais do Brasil, mas também por conta da proporção que tiveram as discussões envolvendo essa temática e estética nas redes sociais nos últimos tempos.
— Viralizou um vídeo no TikTok de uma menina que dizia “olha como eu to arrumada, vou sair assim, estilosa, e o meu namorado com blusa de futebol”. Isso virou pauta e, ao mesmo tempo que tinha quem dava razão à ela, homens e mulheres, começaram a postar foto com blusas de time apoiando o rapaz. Um movimento como quem diz “a minha camisa de time também é um objeto de estilo” — explicou Rachel Vieira, pesquisadora de moda e stylist de 26 anos.
— Sinto que esse tipo de conteúdo contribuiu muito para desmistificar esse “meme”. Hoje em dia as pessoas consideram que tem um charme a mais você utilizar uma camisa de time para sair — corroborou Matheus Alvim, designer que possui uma página com quase cem mil seguidores onde compartilha e dá ideias de looks que ornam com blusas de futebol retrôs.
Desde meados da década de 90, se tornou comum no Brasil, principalmente em áreas suburbanas, o uso de camisas de time de futebol em eventos que fugiam da temática esportiva, como festas, shows e bailes. No entanto, muito por conta do publico identificado com essa estética, de classes consideradas inferiores, a tendência não era bem vista na época, como lembram pesquisadores. Mas a partir do momento que a temática passou a ser discutida nas redes e que conceitos como o “blokecore” entraram no debate, houve uma espécie de ressignificação desse formato cultural.
— Além da memória afetiva, existe um charme a mais do que as camisas atuais, pela tentativa da elaboração de um design diferente. As camisas dos anos 90 têm muita informação, aviamento, detalhes ricos que hoje em dia são muito mais sintéticos e tecnológicos, o que acaba limitando as blusas. Essa estética está muito vinculada à parte mais fashionista do futebol — lembrou Alvim.
— Você ter esse rolé de garimpar, ir em brechó para encontrar uma camisa de futebol que ninguém tem, de um ano específico, faz diferença nesse âmbito cultural — detalhou Rachel.
Reflexos no mercado
Essa busca pela estética retrô tem tido diferentes reflexos nesse tipo de mercado. De um lado, há uma tentativa por parte de marcas gigantes do segmento em se conectar com essa estética retrô, e ao mesmo tempo casual. Por outro, peixes “menores” indicam que esse aumento na busca por camisas mais antigas acabou inflacionando o mercado.
— O que a gente vem notando de uns três anos pra cá é um aumento de preços (das camisas que compram para a loja), não necessariamente nas vendas. Antes o mercado se regulava pela procura de colecionadores. Hoje em dia existe o incremento de um público mais jovem, muito ligado com a moda, que recolocou essas camisas dentro de um lifestyle — disse Carlinhos Galoghero, dono da Brechó do Futebol, loja especializada na compra e venda de blusas retrôs originais. — Um exemplo clássico é a blusa da Fiorentina com o patrocínio da Nintendo (o modelo é de 1998). Hoje em dia, para encontra-la, a chance de ser uma falsa é 95% ou mais.
É inegável também que o mercado paralelo acaba sendo importante nesse tipo de movimentação. Por se tratarem de blusas que foram comercializadas há 30 anos ou mais, torcedores optam por, seja pelo custo menor, pela baixa preservação ou pela facilidade de encontrar as peças, adquirirem réplicas comercializadas na internet ou em feiras populares.
Por dentro das tendências
Com tantas opções de times, épocas, cores e designs, especialistas afirmam que o segredo para ficar na moda e utilizar sua camisa preferida é apostar em peças mais sóbrias. Por outro lado, o abuso nos acessórios está liberado.
— Como as camisas já tem muita informação, elas vão roubar a cena do seu look. Então não adianta colocar muito contraste, porque vai ficar confuso. A grande sacada é ter peças neutras com silhuetas diferentes, então uma calça de alfaiataria ou reta, para você conseguir combinar e dar o protagonismo que a camisa precisa ter quando você for usar — afirmou Matheus Alvim.
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