Internacional
Negociações para novo cessar-fogo em Gaza devem ser retomadas no domingo, diz agência, após envio de delegação israelense ao Catar
Expectativas foram renovadas depois do Hamas ter apresentado uma proposta mais flexível; barco de ONG espanhola terminou neste sábado o descarregamento de 200 toneladas de ajuda humanitária
Um navio humanitário da ONG espanhola Open Arms terminou neste sábado o descarregamento de suprimentos na Faixa de Gaza, onde a esperança de uma trégua entre Israel e Hamas parece ter reavivado após o grupo palestino reduzir suas exigências e a retomada das negociações para um cessar-fogo. A expectativa é de que o chefe do Mossad, David Barnea, retome no domingo as conversas com o primeiro-ministro do Catar e as autoridades egípcias para um novo acordo, informou uma fonte à Reuters neste sábado, após Israel ter anunciado na véspera que iria enviar uma delegação à Doha para tratativas.
A reunião entre Barnea, o premier Mohammed bin Abdul Rahman Al Thani e as autoridades egípcias deverá se concentrar, segundo a agência britânica, nas lacunas remanescentes entre as partes, como a troca de reféns e prisioneiros palestinos e a entrada de ajuda humanitária no enclave. A renovação das expectativas ocorre após o Hamas ter apresentado uma proposta mais flexível na sexta-feira. O grupo, que até agora exigia um cessar-fogo definitivo com Israel, propôs uma trégua de seis semanas e uma troca de 700 a mil presos palestinos por 42 reféns — incluindo mulheres, crianças, idosos e enfermos — capturados no 7 de outubro.
De acordo com os termos em um rascunho revisado pela agência britânica Reuters, a nova proposta também afirma que a data para um cessar-fogo permanente será definida após a troca inicial de reféns por prisioneiros, bem como um prazo para a retirada israelense de Gaza. O texto ainda propõe que todos os detidos de ambos os lados sejam libertados em uma segunda fase do plano. À AFP, um dos membros do grupo destacou também o "retorno irrestrito dos deslocados" e a entrada diária de pelo menos 500 caminhões de ajuda humanitária no enclave.
O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, garantiu que os países mediadores trabalham "constantemente" para chegar a um acordo. Na sexta, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional americano, John Kirby, disse que a nova proposta "estava dentro do previsto" e afirmou que os EUA estão "cautelosamente otimistas", principalmente com o envio da delegação israelense à Doha, anunciado pelo gabinete do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, no mesmo dia. Durante uma trégua temporária em novembro, mais de 100 deles foram soltos, e Israel calcula que ainda estejam em cativeiro 102 pessoas vivas e corpos de outras 34.
Apesar disso, os bombardeios continuam em Gaza. O Ministério da Saúde de Gaza anunciou neste sábado que 36 pessoas morreram em um bombardeio a uma casa em Nuseirat, centro do território, contabilizando ao menos 63 pessoas mortas nas últimas 24 horas. Desde o início do conflito, mais de 31 mil pessoas morreram. O governo do Hamas também relatou 60 bombardeios noturnos em diversas áreas, além de "combates violentos" em Khan Younis, no sul, e em Zeitun, na Cidade de Gaza.
Na véspera, o premier israelense aprovou o plano de ação proposto pelo Exército para uma operação na cidade de Rafah, no extremo sul de Gaza. A cidade, considerada por Israel um dos últimos redutos do Hamas, abriga a maior parte da população civil palestina deslocada pelo conflito. Na quarta, o principal porta-voz militar israelense, Daniel Hagari, afirmou que o país pretende remover os civis de Rafah para "enclaves humanitários" antes de iniciar o assalto por terra, mas não deixou claro onde ficariam esses enclaves, nem o tempo necessário para montá-los antes do início da incursão.
Ajuda humanitária marítima
Além dos bombardeios e dos combates, as Nações Unidas temem a fome generalizada no estreito Território Palestino, especialmente no norte, devastado pela guerra e de difícil acesso. Segundo o Ministério da Saúde, 27 pessoas morreram de desidratação e desnutrição, a maioria parte delas menores de idade, e a ONU estima que 2,2 milhões de pessoas, a grande maioria da população de Gaza, estejam ameaçadas pela fome, especialmente no norte, onde destruição, combates e saques tornam quase impossível o transporte de ajuda humanitária.
O navio da Open Arms, que saiu terça-feira do Chipre com alimentos da organização World Central Kitchen (WCK), chegou a Gaza na sexta-feira com 200 toneladas de alimentos. A embarcação foi submetida a "uma verificação de segurança completa", segundo o Exército israelense, que impõe um cerco total ao território. "A jornada até aqui não foi nada fácil, mas o que parecia impossível há alguns dias agora é uma realidade", escreveu a Open Arms em uma publicação no X (antigo Twitter).
A Alemanha, que anunciou na quarta sua adesão ao envio de ajuda humanitária por via marítima e aérea, disse neste sábado que a sua força aérea realizou com sucesso o seu primeiro lançamento de ajuda ao norte de Gaza. A Força Aérea alemã, citada pela Reuters, afirma que foram paletes com quatro toneladas.
No entanto, a comunidade internacional e ONGs alertam que as chegadas por via marítima, a partir do Chipre, ou por via aérea, não podem substituir a entrega por via terrestre. Esta última entra em Gaza pelo sul do território, depois de fiscalizada por Israel, mas ainda é insuficiente para as necessidades dos seus 2,4 milhões de habitantes. Cerca de 100 caminhões transportando alimentos e outros suprimentos entraram em Gaza todos os dias em fevereiro, em média, por meio de duas rotas terrestres abertas. Mas a quantidade é uma fração do que estava entrando por terra antes do início da guerra em outubro — quase 500. (Com AFP)
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