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'Vovôs fisiculturistas': irmãos com mais de 60 anos fazem sucesso nas redes dando dicas de treino e alimentação na Nicarágua

Walter e Arturo Pérez são surdos e começaram a treinar com canos, pedras e cimento; hoje, são donos de uma academia onde orientam dezenas de jovens que os consideram 'lendas'

Agência O Globo - 16/03/2024
'Vovôs fisiculturistas': irmãos com mais de 60 anos fazem sucesso nas redes dando dicas de treino e alimentação na Nicarágua
Irmãos com mais de 60 anos fazem sucesso nas redes dando dicas de treino e alimentação na Nicarágua - Foto: Reprodução / internet

Há quase meio século, os irmãos Walter e Arturo Pérez começaram a levantar pedras para desenvolver músculos e agora são uma "lenda" em uma área agrícola da Nicarágua, onde treinam dezenas de jovens. Conhecidos como os "Irmãos Hércules" e os "Avôs do Fisiculturismo", Walter, de 61 anos, e Arturo, de 62, enfrentaram desafios durante toda a vida por causa da surdez.

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Os irmãos ainda levantam pesos em sua modesta academia em Santa Teresa, cerca de 50 km ao sul de Manágua. Eles são admirados pelos jovens que frequentam o local e, em apenas cinco meses no TikTok, acumularam mais de 175 mil seguidores.

— Eles são uma lenda aqui em Santa Teresa e acho que todos os jovens se sentem motivados a vir à academia, porque [...] na idade deles, eles têm uma aparência magnífica, [com] um corpo que acho que todos nós gostaríamos de ter — disse Ana Saborío, 33 anos, à AFP.

Porfirio Cortés, de 28 anos, tem uma opinião similar:

— Eles têm sido uma inspiração para mim há muito tempo [...], eu era uma pessoa super magra, eles começaram a me treinar, começaram a me dizer o que eu deveria fazer — disse à AFP.

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Embora tenham parado de participar de torneios há anos, os irmãos ganharam dezenas de milhares de seguidores nas redes sociais desde que o filho de Walter, Yahir, criou um perfil para eles e começou a publicar fotos. O perfil no TikTok acumula 5,3 milhões de "curtidas" em seus vídeos com rotinas de exercícios e receitas de vitaminas naturais, que a família e os amigos ajudam a produzir.

Pedras, cimento e canos

Dos cinco filhos de uma família pobre, Arturo e uma irmã nasceram surdos. Walter podia ouvir parcialmente, mas parou de ouvir completamente quando era criança. Sua mãe os ensinou a ler e escrever em casa porque não havia escolas especializadas, explicou Walter à AFP com algumas palavras e gestos que Yahir ajudou a traduzir.

Na infância, eles trabalhavam vendendo jornais nas ruas e sofriam bullying de outras crianças, e até mesmo agressão física, por não falarem. A situação mudou quando os irmãos começaram a se exercitar e ficaram mais fortes, lembra Walter. Juan Solís, um amigo da família, diz que "eles eram espancados porque eram chateles [crianças]".

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— Eles viviam em um estado de dó, enquanto eu pensava: 'Como vai ser a vida dessas crianças?', sendo que agora eles têm uma vida melhor do que qualquer um — disse o senhor de 82 anos à AFP.

Eles entraram no mundo do fisiculturismo quando eram adolescentes, depois de notarem um novo vizinho corpulento que levantava pesos. Espantados com sua corpulência, começaram a se exercitar com pesos feitos de pedras, cimento e canos, explica Walter.

Estrearam em torneios quando tinham vinte e poucos anos e seguiram competindo por duas décadas. Tiveram que aprender a cronometrar o tempo, pois não ouviam a música que indicava as mudanças de poses nessas competições.

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Com dedicação, conquistaram 16 medalhas e cerca de 20 troféus na Nicarágua e em outros países da América Central entre 1988 — quando Arturo venceu seu primeiro torneiro nacional, e Walter ficou em segundo lugar — e 2010. Hernán Flores, um renomado fisiculturista nicaraguense, convidou-os para treinar em sua academia em Manágua.

Dois dólares por semana

Apesar dos elogios, eles continuaram sendo pobres no segundo país mais pobre da América Latina e do Caribe, e agora sobrevivem de sua academia, que combinam com empregos modestos. Arturo é um barbeiro ocasional e Walter faz solda e conserta armações de bicicletas.

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A academia ocupa uma casa antiga com paredes pintadas de verde e branco, com espelhos e fotografias antigas dos irmãos em poses de competição. A falta de dinheiro motivou Walter a aprender a soldar para construir a maioria das máquinas do local. Cada cliente paga cerca de US$ 2 dois por semana, o que mal dá para manter as instalações, e os irmãos buscam doações para mantê-las funcionando.