Internacional
Papa Francisco é condenado por Ucrânia e Alemanha por sugerir 'bandeira branca' na guerra com a Rússia
Vaticano justificou que declaração do Sumo Pontífice não se referia a rendição, mas sim a uma cessação de hostilidades
O Papa Francisco entrou na mira da Ucrânia e de seus aliados ocidentais, nesta segunda-feira, após afirmar que era chegada a hora de "levantar a bandeira branca e negociar", para por fim à guerra com a Rússia. Kiev convocou seu embaixador no Vaticano para pedir esclarecimentos, enquanto o governo da Alemanha condenou publicamente a afirmação do Sumo Pontífice.
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“Visvaldas Kulbokas [embaixador ucraniano no Vaticano] foi informado de que a Ucrânia está decepcionada com as palavras do pontífice sobre a 'bandeira branca' e a necessidade de 'mostrar coragem e negociar' com o agressor”, disse o Ministério das Relações Exteriores em comunicado. “O chefe da Santa Sé deveria ter enviado sinais à comunidade internacional sobre a necessidade de unir forças imediatamente para garantir a vitória do bem sobre o mal, e apelar ao agressor, não à vítima”.
A diplomacia ucraniana também acusou o Francisco de “legalizar a lei do mais forte” e encorajar os russos a “continuar a ignorar o direito internacional”.
A fala do Papa foi feita no início de fevereiro à rádio televisão suíça RTS, mas divulgada somente neste sábado. O Pontífice afirmou que as partes no conflito deveriam negociar “antes que as coisas piorem”
— Acredito que são mais fortes aqueles que veem a situação, que pensam no povo, que têm a coragem de levantar a bandeira branca e negociar. A palavra "negociar" é uma palavra corajosa. Quando você vê que está derrotado, que as coisas não vão bem, precisa ter a coragem de negociar — disse Francisco. — Dá vergonha, mas com quantas mortes isso vai terminar? Hoje, por exemplo, na guerra da Ucrânia, há muitos que querem atuar como mediadores. A Turquia se ofereceu para isso. E outros. Não tenham vergonha de negociar antes que as coisas piorem.
No domingo, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou que a bandeira do país "é amarela e azul" e que "nunca levantaremos outras bandeiras", em uma publicação na rede social X (antigo Twitter).
O governo alemão se uniu às falas ucranianas e criticou as declarações de Francisco. A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, afirmou "não entender" a intervenção do Papa em uma entrevista à emissora pública ARD.
— Penso que algumas coisas só podem ser compreendidas se as vermos com os nossos próprios olhos — disse Baerbock, que esteve várias vezes na Ucrânia desde o início da guerra.
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Um porta-voz do chefe do governo alemão, Olaf Scholz, disse na segunda-feira que não compartilha da opinião do papa. “A Ucrânia enfrenta um agressor, neste sentido tem amplo apoio internacional e atua no âmbito do seu direito de se defender consagrado no direito internacional”, disse Steffen Hebestreit.
Desde a noite de sábado, o Vaticano tenta corrigir as declarações, especificando em um comunicado que a expressão “bandeira branca” se referia, neste caso, a “uma cessação das hostilidades, uma trégua alcançada com a coragem de negociar”, e não a uma rendição.
Francisco, líder da Igreja Católica desde 2013, já foi criticado durante os primeiros meses da invasão russa da Ucrânia por não apontar claramente a Rússia como agressora. (Com AFP)
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