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Do sertão ao YouTube e a ícone do piseiro: Zé Vaqueiro exalta raízes e homenageia o filho em 1º DVD
Projeto audiovisual gravado esta semana em Olinda resume trajetória do artista com canções românticas inéditas, regravações de sucessos e parcerias com nomes como João Gomes e Murilo Huff

Você pode até não ter ouvido falar de Zé Vaqueiro, mas talvez se surpreenda ao descobrir que aquela voz dos hits “Letícia” e “Eu tenho medo” é, na verdade, de um jovem de 25 anos que saiu do sertão de Pernambuco, tornou-se ícone regional e "estourou a bolha" para levar o som do piseiro a outros cantos do país. Foi "em casa", em Olinda (PE), nesta quinta-feira, que o pernambucano gravou seu primeiro DVD — "SER TÃO EU", um primeiro projeto audiovisual desse porte que conta a trajetória profissional e pessoal daquele artista de Ouricuri.
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José Jacson Siqueira dos Santos Junior praticamente nasceu nos palcos (sua mãe, a cantora de forró Nara de Sá, entrou em trabalho de parto logo depois de uma apresentação, em janeiro de 1999). Enquanto garantia o sustento com outras ocupações, Zé Vaqueiro cresceu fazendo shows em bares e festas, mas nada próximo da dimensão do que passou a encarar depois de ver a sua obra se espalhar pela internet em meio ao distanciamento social da pandemia de Covid-19. Foram três tentativas até que o DVD saiu do papel. Agora sim, ele afirma se sentir mais preparado para uma tal produção.
— A gente queria mostrar as minhas fases. Uma hora eu estou fazendo uma coisa, outra hora estou fazendo outra. São vários eus, e essa é a minha originalidade. Foi em tempo recorde, mas ficou tudo lindo — diz ele. — Antes da pandemia eu já fazia shows, mas eram pequenos. Todas as experiências difíceis, de pouco público, de improvisar ali na hora, de cantar sem luz ou som, em situações que era um milagre acontecer o show... Isso eu passei. Mas, quando aconteceu a pandemia, eu vi os números, e queria ver isso presencialmente. Tive que ter paciência, acalmar os ânimos para tudo abrir, e fiquei impressionado. Foi um choque muito grande. Teve toda uma adaptação novamente.
No projeto de "SER TÃO EU", Zé Vaqueiro homenageia as suas raízes, as suas referências nas artes e a sua família. Decidiu não cobrar ingressos para a plateia e encher a arena do Classic Hall com parentes, amigos e fãs, incluindo aqueles de sua cidade natal, com sorteios e distribuição gratuita de entradas. Para o repertório, o cantor destaca ter unido o forró romântico, o mais animado e regravações de sucessos como "Chão de giz", de Zé Ramalho, e "Sonho por sonho", de Leandro e Leonardo.
Já as inéditas vieram dos chamados "campings de composição", nos quais compositores se reuniram para traduzir em letras e melodias todos os "eus" de Zé Vaqueiro. O momento mais esperado da noite foi a gravação de um dos frutos desse trabalho, "Eu Escolheria Você", uma homenagem ao caçula Arthur, nascido há sete meses e internado até hoje para tratar complicações da Síndrome de Patau.
— A música chegou e surpreendeu a gente. Não fala só sobre o meu momento, mas creio que vai falar com muita gente que tem o presente de ter um filho que tem essa doença ou outra. Música é isso. Eu tenho que passar a minha verdade, e o público tem que se identificar — disse ele, que atualizou o estado de saúde do menino, um dos frutos do seu casamento com a empresária Ingra Soares.
— Ele está bem. Graças a Deus, ele tem evoluído muito bem. Em breve, está indo para casa, se Deus quiser. O Arthur já me ensinou muita coisa, principalmente a ter força. Não é força física, é força de viver um dia após o outro. Eu já vi o que meu filho passou e sei como ele está hoje. Uniu muito a família.
No DVD, emocionado, Zé Vaqueiro canta que escolheria o filho a despeito de todo o dinheiro e a fama e dá as boas-vindas ao menino enquanto é cercado por uma fumaça de gelo seco, como se estivesse nas nuvens. Outro ponto de destaque da produção é a abertura do show, que revela um Zé Vaqueiro por trás de um telão de LED transparente após uma sequência de imagens do Sertão seco, alternadas com momentos da carreira e da família, até a chegada de uma chuva naquela terra.
Do regional ao nacional
Antes mesmo de completar 20 anos, em 2018, Zé Vaqueiro distribuía CDs caseiros de forró pelas feiras de Ouricuri, no interior de Pernambuco, onde nasceu. Em entrevistas passadas, ele relatou como rodava a cidade de moto para divulgar o trabalho e, com a mesma moto, ia para os shows, acompanhado apenas de teclado e tecladista. Anos mais tarde, em 2021, ele já era um dos artistas mais ouvidos do país. Ao GLOBO, Zé Vaqueiro avalia sua evolução como artista desde então.
— Quando a gente voltou da pandemia, que viveu isso ali presencialmente, teve toda uma adaptação novamente. Hoje, graças a Deus, eu creio que a minha desenvoltura no palco está bem melhor. Eu ficava bem nervoso naquela coisa toda, hoje eu fico mais tranquilo, consigo me comunicar mais, me expressar mais. Antes era cantando e dançando. Hoje eu consigo conversar. Agora eu estou mais preparado [para fazer um DVD]. Antes eu iria ficar ali, musicalmente iria acontecer, mas hoje eu consigo desenrolar e destravar mais, ter essa comunicação boa — afirma.
Antes de obter a projeção nacional, Zé Vaqueiro conciliava os shows com outros trabalhos — na barraca de lanche da avó, numa venda de sorvete ou num lava-jato, por exemplo. Sua mãe, Nara de Sá, conta como viu o filho tomar gosto pela música.
— Desde o começo da vida dele, eu levava para shows e ensaios, e ali ele foi pegando o jeito, a entonação. Tocou bateria muito cedo, só de olhar nos ensaios. Num dia que eu fui cantar, ele ensaiou uma música antes comigo e na hora do show eu chamei. Mas foi ele quem escolheu. Ele se apaixonou. Ele tentou outras coisas. Se não desse certo como cantor, ele seria jogador de vôlei, e dos melhores. Tudo que colocasse ele para fazer, ele fazia. Mas, depois que ele fez um show num barzinho de Ouricuri, as coisas começaram a acontecer — destaca Nara. — Ele inspira muita gente.
Zé Vaqueiro já tinha uma carreira consolidada na região quando "bombou" no YouTube. Em 2019, por exemplo, gravou o hit "O povo gosta é do piseiro", com Eric Land. Incentivado por parentes, passou a compor as próprias canções num caderno antigo de escola. "Vem me amar" surgiu daí — e depois fez sucesso na voz do ídolo do forró Jonas Esticado. Zé Vaqueiro começou a aparecer no crédito das canções até que despontou, ele próprio, como intérprete.
No DVD "SER TÃO EU", Zé Vaqueiro conta com quatro colaborações — Manu Bahtidão (em "Baby"); Murilo Huff ("Emocionalmente envolvido") e João Gomes ("Arriadin por tu"). Criado em Petrolina, João Gomes afirma ter se inspirado na trajetória de Zé Vaqueiro.
— Eu comecei a cantar muito por conta dele. Ele já era estourado na região. Ele é de pertinho de onde eu sou, de Oricuri, e eu sou de Petrolina. Então quando aquele som, aquele vaqueiro começou a cantar naquela região, todo mundo esperava o show, esperava que ele tocasse lá perto para a gente colar numa vaquejada, no que fosse. Da primeira vez que ele me seguiu [nas redes], que a gente conversou, para mim, foi mais do que a realização de um sonho — destaca o cantor.
A carreira de Zé Vaqueiro cresceu, ganhou impulso em produções com o DJ Ivis e chegou ao escritório do ídolo Xand Avião. Ele precisou disputar o nome artístico com outro cantor, por isso se proclama "O Original" (nome de batismo do álbum que o projetou para o Brasil).
A concepção artística do DVD "SER TÃO EU" levou cerca de um mês — desde a ideia original do projeto, até a formação de cenário e a contratação de cenógrafo. Foram dez dias de montagem do palco, com pelo menos 80 pessoas envolvidas nessa fase. Durante a gravação, pelo menos outros 50 profissionais de vídeo, de luz, do conteúdo de LED e da parte artística se uniram ao grupo.
Zé Vaqueiro pediu que suas fases fossem transpostas para o palco num cenário "tecnológico, mas não marcado", e que servisse como pano de fundo para contar a sua história. Imagens do sertão, do cordel, cores neon e formas diversas ajudam a resumir a trajetória em quatro fases, como explica o diretor artístico do DVD, André Gress.
— A partir da tempestade e dos raios da abertura, a gente explode no primeiro bloco, que é o romântico alegre. Então, a gente volta para essas raízes, traz uma releitura mais contemporânea desse Nordeste do sertão. Depois o Zé vai transitar num bloco vintage, com as regravações. A gente traz alguns elementos do Nordeste de uma maneira mais antiga, misturando com a década de 1960, meio americana. E a gente tem um neon que é pra brincar com essa coisa de festa, com figurinos que acendem e apagam, e temos a vaquejada, né? Aí o balé também entra no clima — destaca Gress.
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