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Obituário: Wilson Fittipaldi, pioneiro idealizador do primeiro carro de Fórmula 1 brasileiro

Ex-piloto foi o idealizador da Copersucar-Fittipaldi, única equipe de maioria do país e independente a competir na categoria

Agência O Globo - 23/02/2024
Obituário: Wilson Fittipaldi, pioneiro idealizador do primeiro carro de Fórmula 1 brasileiro
Ex-piloto Wilson Fittipaldi - Foto: Reprodução TWITTER

Os resultados modestos dentro do cockpit não traduzem o tamanho de Wilson Fittipaldi Júnior, o Wilsinho, para o automobilismo brasileiro. Morto nesta sexta-feira, aos 80 anos, por complicações de uma parada cardiorrespiratória sofrida em janeiro, o ex-piloto e empreendedor foi o idealizador do primeiro carro de Fórmula 1 brasileiro, uma ideia ousada numa época frutífera de surgimento de grandes nomes e equipes na categoria.

Wilson e o irmão Emerson já eram nomes de referência na construção de karts na década de 1960, mas foi de Wilsinho a iniciativa de deixar a Brabham, pela qual correu entre 1972 e 1973, e montar a sua própria equipe: a Copersucar-Fittipaldi.

A exportadora e dona de usinas de açúcar foi a primeira parceira do projeto, que culminou com a apresentação do primeiro modelo, o FD01, ao então presidente Ernesto Geisel, em 1974.

As dificuldades e desafios de Wilsinho foram muitas: a ideia era ter uma equipe formada por maioria de brasileiros, peças nacionais e sede no Brasil, próximo ao Autódromo de Interlagos, em São Paulo (de 1975 a 1977). Tudo isso com as dificuldades alfandegárias da época, em plena ditadura militar. Contou até com parcerias da Embraer no túnel de vento do carro.

O engenheiro Ricardo Divila, um parceiro antigo dos irmãos Fittipaldi, foi o responsável pelo primeiro projeto, ainda com um chassi prateado — que se tornaria amarelo. Entre altos e baixos da equipe, que também teve os nomes de Fittipaldi Automotive e Skol Fittipaldi Team, foram 103 corridas e três pódios (incluindo um segundo lugar no Brasil) em oito anos competitivos na categoria.

— Acho que o que conseguimos mostrar ao país que um carro de F1 construído no Brasil tinha a possibilidade de ser o mais competitivo e foi o que aconteceu [...] Enquanto tivemos a equipe competindo durante oito anos, tivemos outros resultados considerados bons. Tivemos um terceiro lugar em Long Beach (em 1980 com Emerson Fittipaldi) e na Argentina (também em 1980 com Keke Rosberg), então isso mostrou que a construção do carro era viável e que o país tinha condições de construir um carro desses, com a tecnologia que existia naquela época — contou Wilson em entrevista ao site Motorsport em 2018.

Foi Wilson o primeiro condutor do carro, em 1975, mas o grande momento da equipe foi a chegada do irmão Emerson no ano seguinte. Já bicampeão mundial, ele trocou a McLaren pela equipe brasileira, em mais uma parceria icônica com o irmão e em um dos movimentos mais marcantes da história da categoria.

— Se olharmos para o nosso passado, desde o kart, o nosso DNA é também de construtores, de paixão por carros de corrida. Isso ajudou muito. Por que não fazer uma equipe brasileira de Fórmula 1? — disse Emerson em minidocumentário sobre a história da equipe de Rafael Lopes e Reginaldo Leme, em 2015.

Além de Emerson, passaram pela equipe nomes como os brasileiros Alex Ribeiro, Ingo Hoffmann, Chico Serra e o finlandês Keke Rosberg (que seria campeão mundial em 1982 com a Williams). Entre engenheiros e construtores, nomes como Adrian Newey, Ralph Bellamy, Harvey Postlethwaite e Jo Ramírez também trabalharam com a equipe dos irmãos, que em 1977 se mudou para Reading, na Inglaterra.

No melhor ano, em 1978, a equipe terminou em sétimo no mundial de construtores, com 17 pontos, apenas com Emerson como piloto. Ficou à frente de McLaren, Williams e Renault. Em 1980, fez 11 pontos como Emerson e Rosberg e superou Ferrari e McLaren entre os construtores. Em toda sua história, a equipe fez 44 pontos.

— Foi a melhor coisa que eu fiz na minha história, longe de qualquer outra coisa. Tenho a certeza que fiz o melhor possível da melhor forma possível. Se tivesse outra chance, faria — resumiu Wilson ao documentário.