Internacional

Amorim diz que 'não tem cabimento' cobrança de chanceler de Israel por desculpas de Lula

Segundo assessor internacional de Lula, a nota escrita pelo chanceler israelense não deveria sequer ser lida

Agência O Globo - 20/02/2024
Amorim diz que 'não tem cabimento' cobrança de chanceler de Israel por desculpas de Lula
Amorim diz que 'não tem cabimento' cobrança de chanceler de Israel por desculpas de Lula - Foto: Reprodução

O assessor para assuntos internacionais do Palácio do Planalto, Celso Amorim, afirmou, ao GLOBO que “não tem cabimento” as declarações do chanceler israelense, Israel Katz, em uma rede social nesta terça-feira insistindo com um pedido de desculpas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos judeus. Segundo Amorim, que foi chanceler de Lula e é o principal assessor do presidente para assuntos internacionais hoje, a nota de Katz sequer deveria ser lida.

— No meu tempo de jovem, em que os documentos eram escritos, uma nota dessas era devolvida. Não devia sequer ser lida. Não tem cabimento nenhum — disse Amorim ao GLOBO.

Ao emitir sua opinião, o assessor especial de Lula indicou que a possibilidade de um pedido de perdão é praticamente para Lula. Amorim também demonstrou que as manifestações, nesta terça-feira, da chancelaria israelense aumentaram ainda mais o nível de irritação do governo brasileiro.

Brasil e Israel protagonizam uma crise diplomática, que começou no último domingo, quando Lula comparou as mortes de palestinos na Faixa de Gaza ao Holocausto — que causou o extermínio de cerca de seis milhões de judeu pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. A fala do presidente foi chamada de "vergonhosa" pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.

Na segunda-feira, o embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, foi convocado para uma reunião no Museu do Holocausto, em Jerusalém. Ao lado de Meyer, o chanceler israelense fez uma declaração à imprensa em hebraico, após o encontro, sem direito a intérprete.

— Foi dado um tratamento ultrajante ao nosso embaixador — afirmou Amorim nesta terça.

O episódio levou o chanceler Mauro Vieira a chamar Meyer de volta ao Brasil, em uma demonstração de que o governo brasileiro estava insatisfeito com o tratamento dado ao diplomata.

Vieira também convocou o embaixador de Israel em Brasília, Daniel Zonshine​, para uma reunião no Rio, para expressar seu descontentamento e dizer que o que ocorreu no Museu do Holocausto foi "inaceitável".

Nesta terça-feira, o chanceler israelense, Israel Katz, voltou a cobrar um pedido de perdão de Lula. Em uma rede social, afirmou que a fala do presidente brasileiro foi "promíscua, delirante", disse que era uma "vergonha para o Brasil e um cuspe no rosto dos judeus brasileiros" e reiterou que Lula "continuará sendo persona non grata em Israel" até que peça desculpas.

Em seguida, na mesma rede, o perfil oficial do Ministério das Relações Exteriores de Israel acusou Lula de negar o Holocausto, marcado pela matança de cerca de seis milhões de judeus. Ao comentar uma outra publicação, que perguntava: "O que vem à cabeça quando você pensa no Brasil", a chancelaria israelense comentou: "Antes ou depois de Lula negar o Holocausto?".