Internacional
Colonos e caças na mira: Reino Unido e Holanda adotam medidas contra violência em Gaza e Cisjordânia
Quatro colonos foram penalizados, e medida britânica insta Israel a 'tomar medidas mais fortes e pôr fim à violência'; decisão holandesa, apesar de não ter impacto direto na guerra, carrega 'ato simbólico'
O Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido anunciou nesta segunda-feira sanções contra quatro "colonos extremistas" israelenses que "atacaram violentamente" os palestinos na Cisjordânia, um eco à uma medida similar tomada no início do mês pelos Estados Unidos, considerada sem precedentes por parte da Casa Branca. Em paralelo, um tribunal holandês ordenou que o governo suspendesse a exportação de peças de caças F-35 para Israel — um ato que, apesar de provavelmente não ter impacto direto na campanha militar do Estado judeu, tem uma mensagem "simbólica", apontam analistas.
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Em um comunicado, o chanceler britânico, David Cameron, afirmou que as medidas resultarão em "restrições financeiras e de viagens, a fim de combater a persistente violência dos colonos que ameaça a estabilidade da Cisjordânia" e instou Israel a "tomar medidas mais fortes e pôr fim à violência dos colonos".
"Responsabilizaremos aqueles que prejudicam as perspectivas de paz", escreveu o dirigente da pasta em uma publicação no X, antigo Twitter.
Entre os quatro colonos sancionados está Moshe Sharvit, Zvi Bar Yosef, Ely Federman e Yinon Levy, o único incluído tanto no documento britânico quanto no americano.
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Sharvit é apontado no comunicado como um "extremista que ameaçou, assediou e agrediu pastores palestinos e suas famílias", enquanto Yosef teria sido descrito pelos moradores palestinos como uma "fonte de intimidação e violência sistemática". Federman, por sua vez, está envolvido em múltiplos incidentes contra pastores palestino, segundo a pasta. Já Levy, o único implicado nas duas listas, é acusado de liderar um grupo de colonos "que usaram a violência física e a destruição de propriedades para deslocar comunidades palestinas".
Em resposta as medidas tomadas pelo governo britânico, o ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, disse que 'há um esforço conjunto americano, britânico e árabe para estabelecer um estado terrorista" e que esses países "veem como a maioria absoluta dos israelenses se opõe a essa ideia [de um Estado palestino]".
Por isso, na sua visão, as sanções "são contra meio milhão de colonos, contra os assentamentos, contra os soldados da Forças Armadas de Israel e seus comandantes". Na declaração, citada pelo jornal Haaretz, Smotrich também prometeu "uma campanha diplomática contra eles" e concluiu: "Não deixaremos isso passar em branco".
Apesar de ser governada pela Autoridade Nacional Palestina (ANP), a Cisjordânia é um território palestino ocupado desde 1967 por Israel. De acordo com números oficiais, cerca de três milhões de palestinos vivem na região, mas, ao mesmo tempo, o governo israelense reconhece a presença de 465.400 pessoas em assentamentos judaicos no território, considerados ilegais pelas leis internacionais. O número não inclui os assentamentos em Jerusalém Oriental, e as autoridades palestinas afirmam que o número real de colonos supera 700 mil.
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Além disso, desde o início do conflito em Gaza, a região tem sido abalada por uma violência renovada. Mas, antes da guerra, o território já era cenário de episódios de agressão. Marchas nacionalistas incitaram o ódio contra a população árabe, incluindo os que têm a cidadania israelense, e ações militares contra cidades e vilas, que não raro deixam mortos, contribuem para o sentimento de revolta entre boa parte da população local, especialmente os mais jovens.
Políticas recentes de segurança também incluíram dar armas e treinamento militar a colonos, criando milícias armadas por toda a Cisjordânia. Em fevereiro do ano passado, centenas de colonos atacaram a cidade de Huwara, na região de Nablus, em resposta à morte de dois israelenses na mesma área. Um palestino morreu e mais de cem ficaram feridos.
'Ato simbólico'
Em meio ao anúncio das medidas por parte do governo britânico, movimentações tomadas na vizinha Holanda refletiram o crescente alerta para as baixas civis na Faixa de Gaza. A decisão tomada por um tribunal de recursos holandês em Haia — emitida no mesmo dia que o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, se reúne com o homólogo israelense, Benjamin Netanyahu, em Jerusalém — ordena que o governo do país suspenda a exportação de peças para caças F-35 para Israel.
A ação teve início em dezembro, após a Oxfam e outras duas organizações de direitos humanos terem entrado com uma ação judicial contra o governo holandês, exigindo a interrupção das exportações em meio a preocupações com potenciais violações israelenses do direito internacional em Gaza. Um tribunal, a princípio, recusou-se a emitir a ordem.
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Nesta segunda-feira, porém, um tribunal de recursos afirmou que concordava com os grupos, dando ao governo holandês sete dias para suspender a exportação. “O tribunal considera que existe um risco claro de que os caças F-35 de Israel possam ser usados na prática de graves violações do direito humanitário internacional”, afirmou a decisão. O Ministério da Defesa de Israel não quis comentar.
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Desde o início do conflito entre Israel e o Hamas, mais de 28 mil palestinos foram mortos em Gaza, segundo o Ministério da Saúde do enclave palestino — controlado pelo Hamas desde 2007. A maior parte são mulheres e menores de Idade. Israel prometeu aniquilar o grupo após ter sido vítima de um ataque terrorista em 7 de outubro, que deixou 1,2 mil pessoas mortas e fez 250 reféns, segundo as autoridades israelenses.
As organizações de defesa dos direitos humanos têm apelado cada vez mais aos países para que bloqueiem as exportações de armas para Israel, para protestar contra a forma como o país tem levado a cabo a sua ofensiva. No fim de janeiro, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) declarou que a operação militar israelense representa um risco plausível de danos irreversíveis e imediatos à população palestina em Gaza.
Para analistas, a ordem tem pouco impacto nas capacidades militares israelenses, já que o Estado judeu tem outras armas à sua disposição e as peças desse caça estão disponíveis em outros lugares, mas ponderam sobre uma possível mensagem.
— Se um fornecedor não conseguir entregar por qualquer motivo, as peças podem ser adquiridas de outro — disse Gareth Jennings, editor de aviação da empresa de inteligência de defesa Janes, embora sugira que a decisão do tribunal holandês pareça ser “um ato simbólico, e não um ato que tenha qualquer efeito significativo sobre a frota F-35 de Israel”.
A Holanda abriga um depósito de peças do F-35 de fabricação americana que são exportadas para países que operam os caças. Mais de uma dúzia de países – incluindo Israel, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha – possuem ou fizeram encomendas de F-35, embora o Estado judeu tenha sido o primeiro a usá-lo em combate, em 2018, em dois ataques aéreos no Oriente Médio, mas sem especificar os alvos. (Com AFP e NYT)
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