Internacional

Acusado de participação no assassinato do presidente do Haiti é condenado à prisão perpétua

Joseph Vincent havia se declarado culpado, na esperança de receber uma pena mais branda; morte de Jovenel Moïse, em 2021, agravou a crise social e de segurança no país

Agência O Globo - 09/02/2024
Acusado de participação no assassinato do presidente do Haiti é condenado à prisão perpétua
Acusado de participação no assassinato do presidente do Haiti é condenado à prisão perpétua - Foto: reprodução

Um tribunal de Miami, nos EUA, condenou à prisão perpétua um homem de 58 anos acusado de participar do plano para assassinar o presidente do Haiti, Jovenel Moïse, em julho de 2021. Joseph Vincent havia se declarado culpado das acusações em dezembro do ano passado, admitindo ter se reunido com outros conspiradores nas semanas que antecederam o magnicídio, e ter acompanhado os mercenários que mataram Moïse a tiros na residência oficial em Porto Príncipe.

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Na ocasião, mais de 40 pessoas foram presas, incluindo mercenários colombianos contratados por uma empresa militar privada baseada na Flórida, inicialmente para sequestrar o presidente e afastá-lo do cargo. Contudo, a missão foi modificada na última hora, e Moïse foi executado com 12 tiros e seu corpo apresentava sinais de tortura. A primeira-dama, Martine, ficou ferida.

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Segundo os promotores, Joseph Vincent deu informações aos cúmplices sobre o complexo cenário político do Haiti, envolvido em uma série interminável de crises políticas, e participou de conversas lideranças políticas e comunitárias, em uma estratégia para estimular atos públicos contra Moïse. Ex-informante da Agência Antidrogas dos EUA, a DEA, com frequência Vincent usava um broche do Departamento de Estado, tentando dar a entender que agia com o aval de Washington.

Vincent foi preso ainda no Haiti, e inicialmente disse a juízes locais que agiu apenas como um tradutor para os mercenários colombianos contratados para o ataque — contudo, como o caso foi arquitetado em território americano, a Justiça dos EUA pediu sua extradição e se viu capaz para realizar o julgamento de Vincent e outras 11 pessoas. Ao entrar no tribunal de Miami para ouvir a pena, se dirigiu aos presentes em croulo haitiano e pediu perdão.

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Além dele, outras três pessoas foram condenadas à prisão perpétua no caso: o ex-senador haitiano Joseph Joel John; Rodolphe Jaar, um empresário haitiano-chileno; e Germán Rivera, oficial reformado do Exército colombiano.

A morte de Moïse ampliou ainda mais o caos social no Haiti, que mergulhou em um ciclo de violência que perdura até os dias de hoje — em 2023, foram registrados quase cinco mil homicídios, e a ONU declarou que janeiro de 2024 foi o mês mais violento em mais de dois ano, uma crise humanitária ressaltada pelo coordenador humanitário da ONU, Martin Griffiths, nesta sexta-feira.

“Estou profundamente preocupado com a escalada dos distúrbios no Haiti. Mais de 1,1 mil pessoas mortas ou feridas desde janeiro. Mais de mil escolas temporariamente fechadas. Preços dos alimentos 25% mais altos. Operações humanitárias afetadas. As crianças, mulheres e homens do Haiti merecem viver em paz”, escreveu Griffiths no X, o antigo Twitter.

Em outubro do ano passado, o Conselho de Segurança da ONU aprovou o envio de uma força de segurança ao Haiti, liderada pelo Quênia, mas a Justiça queniana barrou a iniciativa, alegando ser ilegal o envio de policiais a outros países, efetivamente pausando a missão. Desde 2016 o Haiti não realiza eleições, e hoje a Presidência está vaga.