Uma mulher de 29 anos, identificada como Lauren O'Neill, foi atacada por um tubarão-touro enquanto nadava perto de um píer particular no porto de Sydney, na Austrália, na noite de segunda-feira. A espécie é considerada uma das mais perigosas para humanos, devido a sua visão ruim e seu habitat, que pode se estender a zonas portuárias, rios e estuários. Mas, por quase 20 anos, seis desses tubarões tornaram-se mascotes de um clube de golfe localizado em Queensland — literalmente.

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"Situado entre Brisbane e Gold Coast, Carbrook é o único campo de golfe conhecido no mundo que tem risco de água com tubarões vivendo neles". Assim se apresenta o Clube de Golfe Carbrook, em uma rede social. Sua história com esses animais começa em 1996, quando fortes enchentes transportaram seis jovens tubarões-touro de um rio próximo para um lago de cerca de 20 hectares perto do buraco 14. Os tubarões não conseguiram retornar e acabaram ficando presos, cercados por pequenas colinas suaves e golfistas curiosos.

Se isso acontecesse com outra espécie de tubarão, eles provavelmente morreriam em pouco tempo, já que os seus níveis internos de sal seriam diluídos. Mas, no caso do tubarão-touro, seus rins e glândulas retais são especialmente adaptados, trabalhando juntos para reciclar e reter o sal em seus corpos. Por isso, conseguiram viver 17 anos no lago, antes de desaparecerem misteriosamente em 2013.

Tubarão 'do Lago Ness'

Levaram alguns anos até que os golfistas notassem a presença dos seis visitantes e descobrissem que se tratava, de fato, de tubarões. Scott Wagstaff, gerente do clube de golfe, contou à CNN que até 1999, começaram a circular rumores do que poderia estar à espreita do lago. Muitos viam manchas escuras deslizarem na água, barulhos na água e até uma barbatana foi avistada. Tornaram-se o "monstro do Lago Ness" do local.

— Parecia possível [que tivessem tubarões], mas não havia verdade suficiente naquele momento — observou Wagstaff, em uma entrevista no ano passado.

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A história foi finalmente comprovada quando o gerente caminhou até o lago com uma câmera, um pedaço de carne e uma boa dose de coragem. À emissora americana, ele contou que bastou a isca atingir a superfície para um tubarão aparecer. Ele fez vários registros e um pequeno vídeo, que publicou online.

Foi então que o clube e os frequentadores, sabendo que os tubarões realmente existiam, decidiram abraçá-los — eles até viraram logo do Clube de Golfe Carbrook, e um deles foi apelidado de "Patch" pelo gerente. Duas medidas foram adotadas: uma placa de sinalização de alerta ao redor do lago e a rejeição de negócios com mergulhadores de bolas de golfe, que tentavam recuperá-las para vender.

Os petiscos que estimulavam suas aparições acabaram rotineiros durante eventos e torneios, mas não faziam falta. Eles tinham um bom estoque de peixes no lago, como tainhas, tarpões e pargos. Apesar disso, não se reproduziram. Segundo o New York Times, essa espécie costuma migrar para o mar assim que atingem a maioridade, onde têm uma oferta de peixes maiores e oportunidades para reprodução. O caso (que além da mídia atraiu também o olhar dos pesquisadores) sugeria que o ambiente salgado fosse preferido pela espécie para procriar.

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Ainda assim, se desenvolveram bem. O tubarão-touro pode chegar a 4 metros de comprimento e pesar mais de 300 kg. Segundo Peter Gausmann, que publicou um estudo sobre os tubarões do campo de golfe e foi citado pela CNN, os animais chegaram a um tamanho saudável entre 1,8 e 3 metros até 2013, antes de desaparecerem.

Desaparecimento

As aparições começaram a ficar mais esporádicas após as cheias de 2013. A diminuição levantou o receio de que, talvez, os tubarões tivessem regressados ou até tivessem morrido na tempestade. Dois foram confirmados como mortos: um encontrado boiando na superfície, e outro morto em uma pesca ilegal, segundo a CNN. Gausmann, que rejeita a possibilidade de terem morrido "naturalmente" devido à queda de sódio no organismo dos animais ou qualquer outra característica, acredita que o "mais provável" seja que os outros quatro também tenham sido vítimas da pesca ilegal.

Wagstaff, que relutava em chamá-los de animais de estimação, partilha da saudade que o clube sente dos mascotes.

— Você não consegue evitar. Você caminha ao longo do lago e olha para dentro, esperando talvez ver uma barbatana quebrando na água — disse à rede americana, afirmando que "adoraríamos vê-los novamente". Em 2022, o clube foi atingido por uma enchente novamente, o que aumentou as esperanças de que novos visitantes pudessem aparecer.

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A relação de quase duas décadas entre Wagstaff, Patch e os outros tubarões, fez o gerente mudar sua visão sobre esses animais. Até o medo de entrar no mar deu lugar à confiança, e Wagstaff finalmente mergulhou nos recifes de Sunshine Coast para ver os tubarões-lixa, disse à CNN. Até hoje, o clube tem o tubarão em sua logo.

— Existe uma espécie de lenda sobre os tubarões serem agressivos porque entram em contacto com os seres humanos, especialmente os tubarões-touro, devido aos locais onde tendem a nadar [como] canais, riachos e rios — afirmou o gerente, acrescentando: — Mas então, experimentá-los tão de perto e ver como eles são lindos e graciosos – agora eu os acho fascinantes, especialmente o tubarão-touro.

Apesar de ser considerada uma das espécies mais perigosas aos seres humanos, exitem apenas cerca de 120 registros de ataques de tubarão touro em toda a História, dos quais mais de cem não resultaram em mortes, segundo a enciclopédia Britannica.