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‘Fiquei pensando se minha voz ia voltar do mesmo jeito’, diz Emicida sobre cirurgias na garganta antes de turnê que percorrerá o país
Recuperação do procedimento que ocorreu no ano passado vai bem e conta com dedicação do artista, que passa por fonoaudiologia; encerramento de 'AmarElo' correrá doze capitais brasileiras

O rapper, compositor, autor e apresentador Emicida, de 38 anos, prepara-se para a turnê de despedida de seu vitorioso projeto 'AmarElo', cuja agenda contempla doze capitais brasileiras em todas as regiões. Antes de subir aos palcos, porém, ele completa a recuperação (bem sucedida, diga-se) de uma cirurgia nas amígdalas e no nariz para a correção de um quadro de inflamações de garganta que ocorriam repetidamente.
— Eu tive uma inflamação continua, ao longo de muito tempo. Tive que fazer a extração das amígdalas e mexer com o nariz também. Isso me impossibilitava de chegar a lugares que a minha voz alcançava, mas deixou de alcançar porque essa inflamação constante me fazia passar por inchaço, me prejudicava e eu sentia muita dor — disse. — De certa forma, ainda estou no processo de recuperação, minha voz não está da maneira que ela era. Estou fazendo exercícios, fono, aula. Tô de volta cuidando disso, que é meu ganha-pão.
Os momentos iniciais da recuperação se deram em meio às acusações de plágio de uma campanha publicitária chamada "Magia Amarela", cuja criação artística se assemelha amplamente ao projeto "AmarElo", idealizado por Emicida e sua equipe (que se desdobrou em documentário, podcasts, gravações ao vivo e foi premiado com um Grammy Latino).
Na ocasião, o projeto publicitário (que tinha as vozes de Juliette e Duda Beat) foi cancelado. O caso foi alertado nas redes sociais por Fióti, irmão de Emicida, que revelou que a mesmíssima marca de alimentos (responsável pela campanha) havia anteriormente procurado a equipe do rapper para tentar realizar uma campanha conjunta com o mesmo mote. No entanto, staff do artista julgou que o trabalho não estava de acordo com o que avaliavam necessário para participar e recusou um acerto. No momento em que o caso eclodiu, Emicida estava focado em outro tema de extrema importância: sua saúde.
— Pra ser sincero, quando isso aconteceu eu tinha feito uma cirurgia na garganta, não podia falar. Depois fiquei fazendo o processo de recuperação, que é doloroso, me deu angústia. Vivo da voz e fiz duas cirurgias na garganta, fiquei pensando se a minha voz ia voltar do mesmo jeito. Tava tão concentrado nisso que não fiquei em cima disso (da acusação de plágio e dos desdobramentos jurídicos), achei o pacote todo lamentável. Porque de fato é horrível — afirmou o artista. — Eu acho muito triste que isso aconteça e acho mais triste ainda que isso seja um procedimento relativamente comum, que a gente só tenha conseguido barrar essa prática por conta da proporção que a gente tem. Artistas menores são usurpados de suas criações, com seu trabalho utilizado em publicidade sem dar os seus devidos créditos. E quando falo créditos, falo também de pagamento. Isso foi o que mais me frustrou de tudo isso.
Redes sociais
Não é, porém, só da saúde física que o artista dá atenção especial e foca em cuidados específicos. O rapper costuma falar amplamente sobre a importância de que se leve a sério questões psíquicas, de saúde mental. Tendo em vista essa preocupação, o paulistano olha com especial cuidado o uso das redes sociais, que ele diz ter conseguido domar em certa medida.
— Hoje tenho uma relação saudável e gostaria que fosse menor (o uso) ainda. Acho que não sou refém do que dizem a meu respeito, também não acho que minha opinião é a mais importante do mundo — diz ele que gosta de ler trechos do livro 'Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais', do cientista da computação Jaron Lanier, em todo começo de ano. — Eu comecei a me sentir pessoalmente ofendido quando uma notificação me mostrou que fiquei 6 horas no celular em um único dia. E ai quando você olha, das 24 horas do dia você passou seis no celular? E não eram essenciais, coisa de trabalho que eu precisava encaminhar.
Emicida acredita que o uso cavalar das redes está relacionado ao avanço dos casos de ansiedade. Ele avalia, inclusive, que as redes sociais deixaram de representar conexão e passaram a apenas produção de mídia, o que cria um cenário, conforme ele mesmo classifica, claustrofóbico.
— A gente se identificou pelas redes sociais porque de fato elas eram redes. Você conheceu pessoas especiais, namorou, fez amigos, ficou sabendo de filmes. Hoje, por outro lado, é uma avalanche de mídias, daí a gente se sente num ambiente claustrofóbico. E essa claustrofobia nos prejudica enquanto artistas. Como artista, eu gosto do tempo e da observação, e de observar o mundo real.
'AmarElo'
Emicida, contudo, se vê envolto em assuntos mais importantes: o principal deles é a organização do encerramento da turnê do álbum 'AmarElo', lançado em 2019. A criação foi um marco na carreira do artista para além dos diversos shows com ingressos esgotados. Numa franca expansão multiplataforma, Emicida lançou podcasts, documentário e uma gravação ao vivo dentro do âmbito do projeto. Ele ri, porém, ao ser perguntado se deve segur os mesmos passos de criação, com tantas vertentes, no futuro.
— Tem algum jeito de não ser isso mais? Há algum tempo, gerenciar uma carreira artística é mais sobre como você conduz certo estado de espírito, uma história, do que necessariamente colocar um disco na rua e vender camiseta. Já tem um tempo que a indústria se moldando de outra maneira. E tem suas dores e suas delícias. Para muitos artistas seria interessante só lançar os discos e fazer uma turnê. Eu, pela minha forma de existir, de ver o mundo, eu gosto de fazer as coisas dessa maneira (com multipropósitos) — conta ele que, contudo, vê certa "sobrecarga" nos artistas que não gostam de trabalhar desta maneira. — Há pessoas que simplesmente oferecem suas músicas e a gente falha enquanto indústria e não consegue colocar essas pessoas embaixo do guarda-chuva da produção cultural. Essas pessoas acabam ficando fora.
Depois de tantos capitulos, a temporada "AmarElo" se encerra ainda neste semestre. Antes disso o artista passará por doze capitais. Em parceria com a megaprodutora Live Nation (reponsável, por exemplo por trazer Coldplay e Alanis Morissette ao Brasil no ano passado), o artista vai visitar cidades onde ainda não esteve com esse show em específico, caso de Goiânia e Manaus. Os ingressos para o público em geral começam a ser vendidos em 2 de fevereiro pela Ticketmaster. Hoje e amanhã os bilhetes serão vendidos com antecipação para cartões da bandeira Elo.
A turnê terá a primeira etapa em Belo Horizonte em 9 de março e segue para Porto Alegre (6 de abril), Brasília (12 de abril), Goiânia (13 de abril), Recife (26 de abril), Salvador (11 de maio), Rio de Janeiro (18 de maio), São Paulo (25 de maio), Florianópolis (21 de junho), Curitiba (22 de junho), Manaus (28 de junho) e Belém (30 de junho).
A apresentação no Rio será realizada na Rioarena (antiga Jeunesse Arena) e em São Paulo no Parque do Ibirapuera.
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